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REVISTA DA ARMADA | 572
MEMÓRIA DE UMA MISSÃO NAVAL
NOS 150 ANOS DA INDEPENDÊNCIA DO BRASIL
Há cinquenta anos o governo português vivia isolado internacionalmente e a sua política colonial era repetidamente condenada
através de Resoluções da Assembleia Geral e do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Nas votações que se realizavam, Portugal
só ocasionalmente beneficiava da abstenção ou de algum voto favorável da República da África do Sul, da Espanha ou do Brasil.
Nesse quadro de hostilidade, o governo português procurava romper o isolamento internacional e, nessas circunstâncias, decidiu
associar-se às celebrações do 150º aniversário da independência do Brasil, entregando-lhe os restos mortais de D. Pedro de Bragança,
que foi o primeiro Imperador do Brasil. A Marinha tomou parte activa nessa operação que decorreu entre o dia 10 de Abril e o dia 10
de Maio de 1972, que aqui se evoca, com um testemunho vivido na primeira pessoa.
A CHEGADA AO BRASIL O Presidente da República Portuguesa, Almirante Américo
Tomás, era aguardado pelo Presidente da República Federativa
aquela radiosa manhã de sábado, dia 22 de Abril de 1972, a do Brasil, com as devidas cerimónias militares e protocolares,
Nentrada na baía de Guanabara do paquete Funchal e da Força enquanto noutro local, desembarcava a urna com os restos
Naval luso-brasileira que desde Lisboa o escoltara, constituiu um mortais do seu Imperador, acompanhada por uma Comissão
espectáculo impressionante e inesquecível para todos os que Especial Portuguesa presidida pelo nosso Ministro da Marinha,
o presenciaram, pois a bordo do paquete português seguia o CALM Manuel Pereira Crespo.
Presidente da República Portuguesa e, com ele, os restos mortais
de D. Pedro de Bragança, o primeiro Imperador do Brasil e, por
isso, D. Pedro I.
A magnífica paisagem natural que envolve aquela bela baía, se
observada por quem chega ao Rio de Janeiro vindo do mar, era
complementada por uma miríade de embarcações de recreio
e de tráfego local, engalanadas e ruidosas, que aguardavam a
nossa chegada em ambiente altamente festivo.
A Força Naval da escolta que rodeava o paquete Funchal era
constituída pelos contratorpedeiros da Marinha brasileira Santa
Catarina, Pernambuco e Paraná e, pelas fragatas portuguesas
N.R.P. Comandante João Belo (F 480), N.R.P. Comandante
Sacadura Cabral (F 483) e N.R.P. Almirante Gago Coutinho (F 473).
Nas proximidades navegavam o porta-aviões brasileiro Minas
Gerais e outras unidades da Marinha brasileira, apresentando-se
todos os navios embandeirados em arco, o que proporcionava
um magnífico espectáculo naval.
NRP Almirante Gago Coutinho.
Ainda nessa tarde os navios portugueses ficaram atracados
de braço dado e abertos a visitas, proporcionando um bonito
espectáculo nocturno com as suas iluminações de gala, nas quais
sobressaía a bandeira do Brasil formada com lâmpadas coloridas
montadas na antena do radar de aviso aéreo da fragata Almirante
Gago Coutinho, que conseguia rodar com essa iluminação graças
ao engenho do seu pessoal electricista.
O CONTEXTO DA HISTÓRIA
A entrega dos restos mortais de D. Pedro ao Brasil aconteceu no
âmbito das comemorações dos 150 anos da Independência do
Brasil, numa altura em que o estreitamento das nossas relações
Marinheiros dos navios brasileiros vestindo uniformes da época.
com aquele país era diplomaticamente muito importante, face
PORTOS LISBOA S. VICENTE RIO JANEIRO SALVADOR DA BAÍA S. VICENTE LISBOA
(CABO VERDE) (BRASIL) (BRASIL) (CABO VERDE)
CHEGADA - 14 ABR, p.m. 22 ABR, a.m. 30 ABR, a.m. 05 MAI, p.m. 10 MAI, p.m.
LARGADA 10 ABR, p.m. 14 ABR, p.m. 28 ABR, a.m. 30 ABR, p.m. 06 MAI, a.m. -
(Extraído do Diário Náutico do NRP Comandante Sacadura Cabral, Biblioteca Central de Marinha – Arquivo Histórico)
ABRIL 2022 17