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REVISTA DA ARMADA | 576

         CEOV EM AÇÃO                                         NRP Arpão, Corpo de Fuzileiros; a SSTI-DAGI, a ETNA, a Escola
                                                              Naval  e,  até,  a  Banda  da  Armada  (na  elaboração  dos  sons  de
            erante  esse  cenário  pandémico,  a  liderança  do  Comando   funcionamento e alarme do ventilador), entre muitas outras; ou
         PNaval  instou  a  Célula  de  Experimentação  Operacional  de   seja, um projeto colaborativo e agregador.
         Veículos  Não  Tripulados  (CEOV)  da  Marinha,  que  pôs  mãos  à
         obra.  Dentro  em  pouco  a  CEOV  apareceu  com  uma  prova  de  PROCESSO
         conceito,  desenvolvido  com  o  propósito  de  estabelecer  todas
         as  especificações  técnicas  e  a  definição  de  requisitos  que  um   Começou-se  por  efetuar  diversas  reuniões  de  trabalho
         ventilador  mecânico  teria  de  ter  –  desde  grande  capacidade,   em  conjunto  com  a  equipa  de  saúde  de  acompanhamento
         completo e tecnologicamente muito competente, até um custo   do  projeto,  composta  por  dois  médicos  e  uma  enfermeira,
         de  produção  competitivo  –  por  forma  a  atingir,  numa  fase   abordando as necessidades das unidades de cuidados intensivos
         posterior, a certificação legal necessária.          (UCI) de ventiladores e suas funcionalidades, bem como estudos
           Essa prova de conceito foi apresentada ao Ministro da Defesa,   de  viabilidade  técnica  para  o  desenvolvimento  de  processos
         no  dia  6  de  maio  de  2020,  e  aos  bastonários  da  Ordem  dos   inovadores de I&T  com aplicação prática na prototipagem rápida.
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         Médicos e da Ordem dos Farmacêuticos, no dia 19 de maio de   Esta  atividade,  conduzida  pela  CEOV,  permitiu  obter  o
         2020, aquando das suas visitas à Marinha.            conhecimento técnico e a definição dos requisitos ajustados às
                                                              necessidades médicas e de acordo com as normas, rigorosas, que
         PARCEIRO R&B NO DESENVOLVIMENTO E                    se aplicam a estes sistemas de ar medicalizado.
         CONSTRUÇÃO                                            O parceiro Ricardo & Barbosa participou, ativamente, nas áreas
                                                              tecnológicas:
           O projeto formal do ventilador – doravante designado Nortada   – Fresagem subtrativa;
         CEOV X-95 – foi, assim, iniciado em 17 de março de 2020, e o seu   – Execução estrutural geral;
         desenvolvimento assentou numa virtuosa e planeada colaboração   – Execução metalomecânica;
         da Marinha com parceiros do tecido industrial. As apostas em   – Construção de peças mecânicas estruturais; e
         sinergias complementares e em parcerias, vieram a materializar-  –  Execução  de  circuitos  elétricos,  com  recurso  a  tecnologias
         se  através  da  criação  de  um  Consorcio  de  colaboração  formal   4.0  disponíveis  em  Portugal.  Ou  seja,  entre  agosto  de  2020  e
         entre o Ministério da Defesa Nacional – Marinha – e a empresa   março de 2021, a equipa da CEOV “mudou-se” para o interior da
         Ricardo & Barbosa, Lda. (R&B ), no qual a Marinha assumiu o   fábrica da R&B em Gondomar, por forma a realizar a construção
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         papel de liderança.                                  e montagem do novo protótipo, através da melhoria do modelo
                                                              anterior em termos do design, de software de controlo (de alto e
                                                              baixo nível) e da sua construção mecânica.
                                                               Havia que assegurar, não só que eram cumpridas as capacidades
                                                              obrigatórias à utilização em contexto hospitalar, mas também que
                                                              a futura certificação teria sucesso garantido. Para se atingir esse
                                                              desiderato, havia que garantir, por exemplo, que a esterilização
                                                              e  os  pré-ensaios  normalizados  aferissem  o  cumprimento  das
           Encontrado o parceiro adequado para o desenvolvimento, era   especificações técnicas.
         necessário identificar a fonte de financiamento. Com o apoio da
         Divisão de Inovação do Estado-maior da Armada, o projeto foi  OS TESTES NA ALEMANHA (SGS MUNICH)
         financiado através do programa COMPETE 2020 de Apoio à I&D.
         O  projeto  Nortada  CEOV  X-95  contemplou  um  investimento   Tratando-se de um dispositivo médico invasivo, crítico para o
         elegível de 439 mil euros, correspondendo a um incentivo FEDER   tratamento do paciente que o irá utilizar, é obrigatória a realização
         de cerca de 355 mil euros. Ao aprovar este projeto, o programa   prévia  de  diversos  testes  respeitando  as  melhores  práticas  e
         COMPETE  2020  evidenciava  igualmente  o  mérito  técnico  do   normas internacionais aplicáveis a este tipo de dispositivos.
         ventilador  Nortada  CEOV  X-95,  que  foi  pioneiro  nesta  área   O  Consórcio  desenvolveu  todo  o  benchmarking  necessário
         industrial, uma vez não se construíam ventiladores em Portugal.  junto das entidades do Sistema Científico e Tecnológico Nacional,
                                                              para  se  submeter  à  realização  desses  testes.  Frustradas  as
         DESENVOLVIMENTO EM FÁBRICA                           tentativas  de  realizar  os  testes  em  Portugal,  por  incapacidade
                                                              do  intitucional  nacional,  o  Consórcio  procurou  potenciais
           O  ventilador  Nortada  foi  inteiramente  pensado,  desenhado,   alternativas no mercado internacional, questão que acabou por
         desenvolvido  e  fabricado  em  Portugal,  em  apenas  18  meses,   ser dificultada devido às restrições e confinamentos em diferentes
         por uma equipa multidisciplinar que envolveu diferentes áreas   países europeus. A panóplia de testes em prol da certificação do
         técnicas de conhecimento (teórico e prático), nomeadamente:   ventilador acabou por ser adjudicada a uma entidade alemã, a
           – Design;                                          SGS Munich.
           – Dimensionamento técnico geral;                    Os testes e ensaios, profundamente exigentes, foram efetuados
           – Desenho 3D/CAD ;                                 na SGS e materializaram-se:
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           – Prototipagem em manufatura aditiva (impressão 3D); e  – Na verificação de múltiplos requisitos particulares, necessários
           – Cálculos de dimensionamento técnico geral.       ao bom funcionamento e segurança de ventiladores pulmonares
           O  protótipo  rapidamente  evoluiu  para  um  ventilador  high   de cuidados intensivos; e
         end,  tecnologicamente  muito  avançado.  Para  essa  otimização   – Na verificação de requisitos específicos de segurança básica
         do  desempenho,  contou-se  com  participação  de  militares  de   e desempenho essencial, de acordo com as normas aplicáveis a
         unidades dos diferentes setores da Marinha, tais como: a Saúde;   este tipo de dispositivos médicos – as normas gerais IEC 60601 e
         a área Operacional (NRP Vasco da Gama, NRP Gago Coutinho;   ISO 80601 e as suas normas particulares.


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