Page 18 - Revista da Armada
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REVISTA DA ARMADA | 579

                                                                                  noutros mercados, nomeadamente
                                                                                  no  dos  países  sujeitos a restrições
                                                                                  quanto a  aquisições  de  material
                                                                                  militar  por  parte  da  administração
                                                                                  norte-americana. Provavelmente  terá
                                                                                  sido  esse  o  caso  do  exemplar  que
                                                                                  seguiu para a ex-Guiné Portuguesa, e
                                                                                  que acabou a sua vida operacional ao
                                                                                  serviço dos Mergulhadores da Armada
                                                                                  na BNL, como adiante se verá.
                                                                                   A lancha  Corsair era em tudo
                                                                                  semelhante  à  PBR  31  MK2,  no
                                                                                  que   respeita   às   prestações   de
                                                                                  desempenho   e   comportamento.
           O motor de BB acionava, também,  uma bomba  de esgoto,   Diferia,  no  entanto,  no  armamento  e  na  proteção  balística.
          apta  para  operação  contínua  sempre  que  o  motor  estivesse   Na ponte, por debaixo da cobertura de nylon/vynil com praticamente
          em funcionamento. Existia, ainda, uma bomba manual. Os dois   as  mesmas  dimensões,  surgia  um  para-brisas  e  os  respetivos
          tanques de combustível tinham uma capacidade de 605 litros.  acessórios de limpeza de modelo automóvel, que protegia o
                                                              operador da lancha dos salpicos de água e da chuva ligeira.
          OUTRAS CARACTERÍSTICAS                               Havia  ainda  diferenças  muito  subtis  no  aspeto  exterior  da
                                                              lancha. O modelo de radar também era outro – o modelo 101
           A roda do leme era um volante que provinha de um dos veículos do   da Decca Company. No essencial, mantinha-se a capacidade de
          mesmo grupo que produzia os motores. O operador da embarcação   embarcação para executar ações de fiscalização e patrulha, tal
          tinha  visibilidade  sobre  todos  os  manómetros  dos  parâmetros   como anunciava o fabricante.
          necessários  à  condução  e  vigilância/controle  dos  motores  e
          turbinas. Os cabos de comando dos motores e dos lemes de tubeira   AS TRÊS “VIDAS” DA LANCHA PORTUGUESA 15
          juntavam-se em dois conjuntos da Morse Controls Corporation, de
          modo a tornar possível a sua operação apenas com uma mão (para   Em 1971, o CDMGUINÉ propôs superiormente a "aquisição duma
          a outra poder estar sempre agarrada ao “leme”).     L. F. Tipo Corsair". O pedido foi aprovado, seguiu os seus trâmites e
           O  teto  da  ponte  era  constituído  por  uma  estrutura  de  tubos   de facto, em 1972 surge naquele território a Lancha Corsário.
          de alumínio, coberta por um pedaço de "nylon" balístico. Bem   A  designação  teria,  provavelmente,  a  ver  com  o  nome  do
          indicado  para  um  clima  quente  e  húmido,  oferecia  proteção   modelo; também era, por vezes, referida como a Corsair.
          contra projéteis de armas ligeiras e fragmentos que pudessem vir   Não  terá  tido  uma  grande  utilização  em  operações,  quer
          projetados "de cima". Além de fornecer alguma proteção contra   militares nos rios da Guiné, quer de relações públicas.
          os raios solares e a chuva ligeira.                  Devido às alterações políticas entretanto surgidas em Portugal,
           A peça de vante era dupla, Browning calibre .50” (12,7 mm). O   sendo relativamente nova e facilmente transportável a bordo de
          artilheiro, que tinha as costas protegidas por chapa balística, ia   um qualquer navio de carga, acabou por chegar a Portugal depois
          sentado numa espécie de suspensão tipo pêndulo, ficando com o   da retirada das forças portuguesas. Terminara a sua primeira “vida”.
          corpo praticamente envolvido pelo casco da embarcação. Ao lado   Foi-lhe,  entretanto,  acrescentada  uma  semi-cabine  (pois
          desta peça dupla, estava colocado um potente projetor de 450W   não  fechava  totalmente),  certamente  para  melhorar  a  sua
          para operações noturnas.                            habitabilidade e a tornar mais adequada ao clima nortenho – o
           Porém esse tipo de operações seria, certamente muito pouco   lugar do seu novo serviço.
          discreto com o forte, "quente" e "rouco" som dos motores, ainda   Com efeito, após a sua requalificação operacional, foi aumentada
          que abafado por dois grandes silenciadores. Algo “maravilhoso”   ao efetivo dos navios da Armada a 1 de fevereiro de 1983, passando
          para os ouvidos, sobretudo quando subiam as rotações.   a constituir o NRP Átria, com indicativo visual e número de amura
           A meio, por cima dos motores, elevavam-se duas chapas   P360. Enquanto LF ribeirinha, foi substituir a ex-LFP "Rio Minho",
          balísticas  que  também  serviam  de  apoio  a  mais  duas
          armas, normalmente calibre 5,56 mm ou 7,62 mm. A ré
          fixava-se uma peça Browning M2 calibre .50”, simples.  NRP ÁTRIA              NRP ÁTRIA
                                                        ANO   HORAS DE         CARACTERÍSTICAS
          CATÁLOGO UNIFLITE                                   NAVEGAÇÃO             Comprimento ……......................… 9,56 mts
                                                        1983    34 h   35 m         Boca …………………………………...…... 3,10 mts
           O  êxito  dos  modelos  refletiu-se  no  número  de   1984  113 h  55 m       Calado ………………………………….….. 0,64 mts
          construções:  418  embarcações.  E  se  a  grande   1985  64 h  20 m       Velocidade máxima …………..……... 32 nós
                                                                               EQUIPAMENTO
          maioria  foi  empregue  no  conflito  do  Vietname,                       1 radar
          distribuídas entre norte-americanos e sul vietnamitas,   1986  95 h  55 m       1 sonda
          outras  seguiram  o  caminho  da  exportação.    1987  11 h  30 m         1 trans recetor CH 25
          A Marinha Tailandesa ainda há pouco tempo mantinha   1988  25 h   15 m  MÁQUINAS PROPULSORAS
          ao  serviço  39  destas  embarcações,  sobretudo  nas   1989  108 h  35 m       2 Motores Diesel DETROIT .......... 220 HP
          missões de fiscalização e proteção dos portos.   1990  191 h  55 m   ENERGIA ELÉCTRICA
                                                                                    2 geradores
           O  sucesso  iria  ainda  permitir  ao  fabricante  a                LOTAÇÃO
          construção  e  a  oferta  de  uma  versão  denominada   1991  18 h  45 m       4 homens (1 oficial e 3 praças)
          Corsair,   não  armada ,  numa  tentativa  de  entrar   TOTAL  664 h  45 m
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