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REVISTA DA ARMADA | 579

          Conversas com Marinheiros



          AO COMANDO DO NRP ÁTRIA






                                   uís Manuel Mota Ferreira da Silva tem 65 anos, é natural do Porto, tendo concluído o Curso de
                                 LEngenharia Civil na Faculdade de Engenharia, da Universidade do Porto, em julho de 1980. Ingressou
                                 na Marinha no dia 1 de setembro de 1981, frequentando a Escola Naval (EN) até fevereiro de 1982.
                                  Posteriormente à sua saída da EN, desempenhou funções como Terceiro Oficial do NRP Save entre
                                 9 de março de 1982 e 20 de fevereiro de 1983. Seguiu-se a sua  nomeação para Comandante do NRP
                                 Átria em 8 de abril de 1983 até 1 de novembro de 1983.
                                  De referir que o seu ingresso na Marinha insere-se no âmbito do Serviço Militar Obrigatório, na altura
                                 de 24 meses, não sendo assim uma opção de carreira.
                                  O curioso é que a sua passagem por “mares nunca antes navegados” deixou-lhe marcas para a vida.
                                 A camaradagem, o espírito de entreajuda, o trabalho em equipa e a disciplina, foram aquilo que até
                                 hoje pautam os seus princípios de vida que sempre procurou implementar quando regressou à sua
                                 profissão após o término da sua breve passagem pela Marinha.
          STEN Ferreira da Silva.

           RA: O Sr. Engº Ferreira da Silva foi o 1º Comandante do NRP   RA: Que tipo de infrações eram mais comuns?
         Átria.  Navio esse que foi aumentado ao efetivo dos Navios da   FS: A pesca fora de prazo, nomeadamente a do meixão, bem
         Armada em 1 de fevereiro de 1983. Como foi a experiência de   como a legalização das embarcações e dos seus utilizadores.
         ser o 1º Comandante deste tipo de embarcação que apresentava
         características muito próprias?                       RA: O dia a dia a bordo numa embarcação com características
           FS: Uma grande responsabilidade, mas sobretudo uma vontade   próprias,  como  a  Átria,  devia  ter  algumas  particularidades
         forte de cumprir as obrigações!  Na verdade, a minha chamada   curiosas…
         para o Serviço Militar Obrigatório na Marinha, aconteceu quando   Como era o dia a dia a bordo numa embarcação deste género?
         já estava a exercer a profissão de Engenheiro Civil, na altura, na   FS: Sem horários definidos, saíamos de Vila Nova de Cerveira
         Barragem do Pocinho, no Rio Douro.                   para fiscalizações e, normalmente, com um regresso ao cais uma
           A passagem pela EN primeiro e depois a experiência profunda,   ou duas vezes ao dia. As refeições ou eram tomadas na Capitania
         como  Terceiro  Oficial  no  NRP  Save,  foram determinantes para   ou  levávamos uma pré-confecionada  que era consumida  na
         a  minha  preparação!  Neste  navio  trabalhei  sob  as  ordens  de   lancha, de forma informal, pois o espaço era reduzido. Levávamos
         um Comandante e  de um Imediato que,  na verdade,  muito   sempre  o equipamento necessário,  uma vez que o espaço de
         me  ajudaram,  partilhando  comigo  toda  a  sua  experiência,   arrumação também não era grande.
         conseguindo  que  um  Engenheiro  Civil,  vestisse  a  Farda  da   Enquanto  navegávamos,  centrávamos  a  nossa  atenção
         Marinha e passasse à prática o que tinha aprendido na ENl!!  especialmente  nos  objetivos  pré-definidos,  mas  também  nas
           Na lancha, com a forte colaboração da guarnição, penso que   possíveis  variações das  cotas  de profundidade  do  rio, fazendo
         conseguimos atingir os objetivos então propostos, obviamente
         sempre com a noção da grande responsabilidade para um jovem
         como  era,  com  uma  experiência  limitada,  mas  com  vontade
         de cumprir, bem como com o apoio constante da Capitania de
         Caminha que nos orientava e dava ordens com os objetivos de
         cada  situação.  Comecei  com  calma,  passo  a  passo,  primeiro
         testando  profundamente  a  lancha,  as  suas  características  e
         particularidades, bem como a articulação da excelente guarnição
         que  sempre  me  transmitiu  conhecimento,  tranquilidade  e
         confiança.  Depois,  estudando  o  rio  e  as  suas  particularidades,
         parti  de  seguida  para  as  diversas  realidades  locais  procurando
         sempre cumprir os objetivos propostos.

           RA: Onde tomou posse?
           FS: Tomei posse na Capitania de Caminha, estando a embarcação
         em Vila Nova de Cerveira.

           RA: Uma vez que a missão principal da Átria era a fiscalização
         da  pesca no  Rio  Minho, quais eram as áreas do  rio que
         frequentavam mais assiduamente?
           FS:  Percorríamos sobretudo  a zona de Caminha  a Melgaço e   O STEN Ferreira da Silva no NRP Átria, em manobras de reconhecimento.
         também, muito pontualmente, a costa até Viana do Castelo.


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