Page 300 - Revista da Armada
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RETROSPECTIVA (3)
A voz da Terra e a voz do Mar
-Diálogo em verso
A história da Marinha Quemmeju}garcomapreço Olhai-as com tantoamor
não é feita só de batalhas Acerta num bom sinal, Como se fossem garridas.
navais, viagens, anca- Dizendoquenocomeço Não temos flores, é verdade ...
lhes. naufrágios ... é feita Fui quem formou Portugal. Só as nossas raparigas
também d e pequenas coi. Escutem a' voz em surdina, Trouxeram lá de uma herdade,
SBB, cornoastas. Dita em coral de m istério: Em vez de rosas, espigas;
-Eu sou a terra madrinha Nem a vista se alevanta,
As duas poesias que publica- Que deu Portugal -Império.- Nem mesmo o riso pagão;
mos a seguir dizem tudo: o que Nautas, Santos, à ventura, A nossa gente, secanta,
pensa um poeta sobre a contribui- Porque Deus assim o quis, É em voz de cantochão,
ção da gente de .terra para a histó- Partiram da Terra Dura Mas esquecidos no mapa,
ria de Portugal e o que contrapõe Mas deixaram a raiz. Sem ninguém saber de nós,
um homem do mar, também poe- Por graças e por louvor. Ergo aqui o meu cajado,
ta ... A raiz tornou de novo Bato com ele o sobrado
Não tomamos partido por ne- A dargalhosea dar flor, Ealevantoaminha voz:
nhum, até porque entendemos E esta terra e este Povo. Nossos lamentos são ais,
Tristezas de mal-querer,
que ambos têm razão. Portugal -Ainda hoje é terra finDe .. o
fez-se com todos os portugueses -Ainda hoje é fogo chão ... Somos como nossos pais.
- da terra e do mar. Só que, quem O Alentejo não tem sombras! ... E SEJA O QUE DEUS QUISER.
o levou para fora das suas frontei- -Digo eu que sou ganhão:
(ln . Di.rio Popular., Página Liter.-
ras e espalhou a sua fama e o seu Não tem, não tem nem a quer, ria da responsabilidade dQ prof. Vi-
génio por todo o Mundo, foram os Só tem a sombra da terra torinoNamesiQ, de27-9-50)
do mar. Os descobrimentos não fo- E essa porque é mulher.
ram apenas o maior feito nacional, Nem quisavistaromar!
mas também dos maiores a nivel Oh! Mar tu és perdição ... PROTESTO
mundial ... Angústias, vidas sem paz,
Por Já ficaram no mar ...
PelQ 2 ..... ten. Leonel Cardoso
MONÔLOGO DE UM MAIORAL Oh/ Mar, tu és ladrão. (Out. 1950)
Na Vida dos Portugueses
(1. ~ pr/umo de poesia r9íJional da Não sei o que representas.
zona Sul dos Jogos Florais da8 Deus te guarde, marinheiro/ ...
Feri(8) Dizem alguns: és a glón'a' Não te assustes-sou omar,
Por Azinhal AMlho Mentira, ás mar das tormentas! Teu amigo e companheiro,
Foi o mal de Portugal Que vem aquiprotestar/
Alto lá! Oh / Camarada / Botarosolhospara além; Como Adamastor morreu
Nós somos d 'além do Tejo Na esperança de se alargar E Neptuno já está velho,
E viemos ao cortejo Fugiu do colo da mãe. Quem tem de falar sou eu.
Assinalarolugar Ficâmos nós e cá estamos, - Venho abrir-o coração
Lá das terras do suão; Cá estamos nós os de chão; Ao teu coraçãoamigo,
Nunca avistámos o mar, Regoa rego, o nosso arado Pois tentoi mas não consigo
Mas somos também Nação, Foi transformando um eirado, Calar a indignação!
Oito vezes secular, De castro fortificado
Oito vezes geração. Numa seara de pão. Desde o principio do Mundo
Da cabeça até aos pés, Sem pompas, esta epopeia, Que o Homem me tem votado
Olhai-me bem que eu sou terra, Sangue e terra, nua e crua, Ou ódio do mais profundo
Sou a voz que não engana; Ergueu padrões no alqueive Ou amor acrisolado ...
Com a minha manta e cajado Cruzando a espada e a charrua No seu dizer inconstante,
Guardo o meu trigo e o meu gado, Maiorais, tristes como eu, Ora sou Bem, ora Mal ...
Sou da terra alentejana. Numa legenda sem fim, Estes chamam-me tratante,
Quero amostrar-me com brio, Com enxadas e aivecas Aqueles nobre e leal ...
Do que sou e do que valho Vão transformando em jardim Agora sou corpo forte,
Nas galas do meu suor, Os arrifes das charnecas Logo uma alma perdida ...
Que são o orgulho maior As nossas vestes sem cor ... Hoje simbolizo a Morte,
Das gestas do meu trabalho. As nossas mãos encardidas ... Amanhã sereia Vida!
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