Page 224 - Revista da Armada
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Antologia do Mar



                                  e dos Marinheiros






            Juan Ramon Jimenez





                                                                                    PeJo  cap.-/rag.  Cristóvão  Moreira
            J   á era o _Andaluz Universal,., quando no  ano de  1956 a
                Academia Sueca lhe concedeu o  Prémio Nobel da Lite-
                ratura.  Andaluz de Moguer, pequeno «pueblo. onde Juan
            Ramón Jiménez nasceu no ano de 1881, ele seria poeta imortal.
               Seus  primeiros  poemas  surgiram  quando  viajou  para
            Madrid, depois de ter estado em Puerto de Santa Maria e em
            Sevilha.  Começou  com  _Rimas  de Sombra_  (1902),  .Jardi-
            nes  Lejanos. (1903),  .Qlvidanzas. (1906),  . Baladas de Pri-
            mavera,.  (1910)  e  . Sonetos  EspirilUales.  (1914).  Nesses
            primeiros versos, a melancolia acompanhava a pureza do ritmo
            musical. A sua segunda época inicia-se em 1917, ano seguinte
            ao do seu casamento com Zenobia Campruni, com a publica-
            ção de _Diário de lio Poeta Recién Casado-, em que aparece
            -o sentimento do mar»,  no sentido em que nele não existem
            estações de paragem, tal como no coração do poeta, cuja alma
            navega confiada por seu  mundo,  por seus versos:  são desse
            período .. Eternidades_ (19 17), .. Piedra y Cielo,. (1919), .. Uni·
            dad,.  (1925), . Sucession,. (1932), .. Presente- (1933) e .. Ciego
            Ame Ciegos- (1939), este último já depois de iniciado o exílio
            americano, motivado pela guerra civil de Espanha, onde não                   (FolO  do  ~n'ieo
            voltaria vivo.  Mas antes acontecera a  prosa única e  maravi-               de Documenloçdo
                                                                                         do  _Diário de  No/(eias_).
            lhosa  de  .. Platero y  Yo_,  jóia da  literatura  unive(sal.
               A mane veio encontrar Juan Ramón Jiménez,  no ano de
            1958, em San Juan de Pueno Rico, onde então residia, depois   ordenada a obra a que consagrava a sua vida - como se essa
            de ter vivido nos Estados Unidos e em Cuba, longe da Anda-  desordem  expontânea  e  provisória,  sempre à mercê da sua
            luzia natal que sempre lhe estava no pensamento.  Publicara   ânsia de perfeição, não fosse já garantia bastante de eternidade.
            ainda  . Tercera Amologia,.  (1957);  mas já o  restante da sua   O verso e a prosa de Juan Ramón Jiménez, poesia sempre,
            obra teve de sair ao mundo a título póstumo.  Desde _Olvidos   tem a unidade da sua limpidez e da sua beleza. Eda sua simpli·
            de Granada,., .. Por el  Cristal  Amarillo,. e .. La Corriente Infi·   cidade, que pennite o atrevimento das traduções que fizemos
            nita,.  (1961),  foram  surgindo as  inúmeras composições que   para esta antologia.  A palavra do poeta suporta a transferência
            Juan Ramón guardava, à espera do retoque final. para tantos   do castelhano para qualquer idioma, alcança o entendimento
            projectos  editoriais  nunca  ultimados.            em todos os cantos do mundo. Encontrareis nestas páginas dois
               Por isso não tem sido fácil , para os estudiosos e devotos   fragmentos  de  . Platero,..  um  dos  mais  belos  livros jamais
            do grande poeta espanhol, o  trabalho de  recolher e ordenar   escritos, que Juan Ramón dedicou .. à memória de Aguedilla,
            para publicação o seu  legado, onde aqui e ali faltava encon-  a pobre louca da Rua do Sol que lhe mandava cravos e amo-
            trar a palavra mais justa e simples, ou escolher entre as duas   ras,., livro eterno , em que o poeta exalta a beleza de um bur-
            ou  três  palavras sobrepostas  no  texto,  escolha deixada  para   rinho  andaluz.  seu  confidente  no  panorama  da  vida,  livro
            a última revisão,  nunca chegada,  porque a definitiva apenas   universal, escrito para os que voltam os olhos para a infância,
            o era no  momemo em que assim a considerava o poeta.  Mas   ilha  espiritual do homem,  .i1ha  de  graça,  de  frescura  e  de
            o afã constante de apurar as palavras nunca as fez supérfluas,   felicidade-.  Encontrareis depois duas breves poesias do Nobel
            nem  lhes  retirou a formosura,  essa fonnosura com que Juan   espanhol, seguidas de umas prosas também breves, dessas pro-
            Ramón evoca o paraíso perdido da sua infância:  a sua aldeia   digiosas  prosas  poéticas de Jiménez,  que  escolhemos quase
            andaluza de Moguer, aldeia que era .uma branca maravilha,.,   todas pela evocação do mar ou do rio, excepto na história do
            casas  que  em  menino  ele  olhava  como  se  fossem  palácios,   velhinho português,  trazida aqui para documentar o carácter
            tempo em que não sentia esses medos poderosos que lhe iriam   compassivo de Juan Ramón: doente a maior parte da sua vida,
            minar o existir,  medos de que a morte chegasse de repente,   muitas vezes internando em hospitais, a dor era-lhe familiar,
            chamada por seus padecimentos, e não  lhe pennitisse deixar   e  o  sofrimento  comovia a  sua  alma grande de  poeta.

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