Page 229 - Revista da Armada
P. 229

quear  as  barras e  subir  os  rios;  sendo   Meliqueaz, senhor de Di~. Embora este   para não ser tomada. Mas  isso de nada
       navios  de  propulsão  mista,  isto  é,  de   estivesse  em  paz  com os  Portugueses,   lhe serviu. Tendo a sua guarnição deban-
       remo e vela, podiam continuar a operar   não  é  de  admirar  que  tenha  resolvido   dado, as nossas fustas  foram buscá*la e
       mesmo  com calmaria ou  vento contrá*   aproveitar a oportunidade para lhes dar   juntaram*na à armada.
       rio.  As principais vantagens da caravela   uma lição e, ao mesmo tempo, aumentar   Nada  mais  podendo  fazer,  D.  João
       sobre os navios de remo eram: dispor de   o seu prestígio na região.  O que é certo   de  Monroi  regressou  a  Goa  levando
       maior poder de  fogo;  ter maior veloci*   é  que  à  saída  de  Chaul,  a  armada  de   como troféus as duas fustas que tomara,
       dade com vento fresco;  ter maior auto--  D.  João  de  Monroi  encontrou  à  sua   uma de Diu e outra de Dabul. Ali deverá
       nomia;  aguentar  muito  melhor  mar   espera quinze  fustas de  Diu.   ter sido vendido o que restava do saque
       grosso; ter uma guarnição muito menor.   Travou-se então  um  violento duelo   da  «nau de Meca .. , sendo de supor que
       No entanto, todas estas vantagens tinham   de  artilharia  que  durou  várias  horas.   todos os fidalgos, soldados e marinhei-
       relativamente pouco interesse, tanto na   Mas, como os nossos bombardeiros e os   ros  que  foram  nesta  armada  tenham
       costa  indiana,  como  no Golfo  Pérsico,   nossos canhões eram melhores que os do   recebido uma boa  maquia.
       como em Malaca, onde o mar era, geral*   inimigo, as  fustas de Diu acabaram por   A esperança de, durante um cruzeiro
       mente, chão, o vento fraco, intercortado   sofrer muitas avarias e um  número ele*   feliz,  capturar uma  "nau  de Maca ..  era
       por períodos de calmaria, os pontos de   vado de mortos e feridos, o que as levou   uma das principais razões porque nunca
       apoio  abundantes,  as  barras  difíceis  e   a bater em retirada, apesar da superiori*   faltavam  voluntários para guarnecer as
       pouco profundas, e onde o inimigo, habi-  dade numérica de que dispunham. Como   annadas que todos os anos se faziam para
       tualmente, se refugiava dentro dos rios.   tinham os seus navios muito pesados, os   patrulhar a costa indiana, apesar das pés-
          Saída de Goa, provavelmente em fins   portugueses  não  as  puderam  perseguir   simas  condições  de  habitabilidade  dos
       de  Fevereiro,  a armada  de  D.  João de   mas, mesmo assim, conseguiram captu-  navios  de  remo.
       Monroi  correu  toda  a costa  para  norte   rar uma delas que, muito avariada, tinha
       daquela cidade até Maim sem novidade   ficado para trás e cuja guarnição, tendo*
       digna de registo. Aí encontrou uma «nau   *se lançado ao mar para fugir a nado, foi
       de  Meca..  que,  na  iminência  de  ser   toda  morta  à lançada.   COCHINCIUNA  (Junho?  de  1517)
       tomada, preferiu dar à costa, fugindo os   Prosseguindo  a  sua  viagem,  foi
       seus tripulantes para terra.  Nem por isso   D.  João  de  Monroi  surpreendido,  ao   Os  primeiros  contactos  dos  Portu*
       as  fustas  portuguesas  deixaram  de  a   passar  diante  de  DabuJ,  pelo  apareci-  gueses com o Sião tiveram lugar mesmo
       saquear, concluindo, provavelmente, por   mento duma  nova  armada  de  quatorze   antes de estar concluída a conquista de
       lhe pôr fogo. Com os seus navios carre*   fustas praparada para o combater. O que   Malaca.  Depois de ter feito  o primeiro
       gados a mais não  poder com o produto   ele não podia saber é 9ue o capitão*mór   assalto à cidade, Afonso de Albuquerque
       do saque e com as suas guarnições feli*   dessa armada era ... o Alvaro Madureira!   autorizou  os  juncos  chineses  que  se
       cfssimas,  D.  João de  Monroi  iniciou  a   Tendo--se convertido ao islamismo de   encontravam no seu  porto a seguir via-
       viagem  de  regresso  fazendo  rumo  a   alma e de coração, tinha ido a Chaul com   gem e  num  deles,  que  se destinltva  ao
       ChauL                              o  único propósito de espiar os  nossos.   Sião, enviou um emissário com a finali-
          Quem não ficou  nada satisfeito com   Regressado a Dabul, informara o capitão   dade  de  interessar o  respectivo  rei  no
       o que acontecera foi  o senhor de Maim  do  Nizamaluco,  senhor da  cidade,  que   repovoamento de Malaca, já que não se
       que mandou logo sair dez fustas em per*   a  armada  portuguesa  era  composta   fiava  dos  Javos  que  constituiam  uma
       seguição das nossas.  E, como estas iam   apenas  por  sete  fustas  e  que  estas   parte  importante  da  sua  população.
       pesadonas por causa da carga que leva*   estavam de tal  modo carregadas com o   Foi  aquele  emissário  muito  bem
       vam, foram alcançadas antes de chegar  produto do saque duma «nau  de Meca ..   recebido pelo rei  do Sião e no  regresso
       a Chaul, sendo obrigadas a travar com*   que, julgava ele, dificilmente poderiam   veio  acompanhado  dum  embaixador
       bate com as fustas de Maim que, aliás,  combater.  Pensou  o dito capitão que a   daquele rei com o qual Albuquerque, já
       puseram  em  fuga  sem  dificuldade.   ocasião  era  óptima  para  se  vingar  dos   senhor de Malaca, assinou um tratado de
          Chegada a nossa armada a Chaul, é   Portugueses  e,  mandando  guarnecer a   comércio e amizade.  Quando o embai*
       de  supor  que  aí  se  tenha  conservado  sua  armada,  entregou-a  ao  Madureira   xador do Sião regressou ao seu país, o
       durante alguns dias procurando vender   para  os  ir  combater.      governador  mandou  com  ele,  também
       a maior parte possível do despojo da «nau   Mas  as  coisas  não  correram com a   como embaixador, António de Miranda,
       de Meca".  Foi  então  que  veio ter com   facilidade que ele supusera. Tendo vento   levando  um  rico  presente  para  o  rei.
       D.  João de Monroi  um  português cha*   a seu favor, as fuSIaS portuguesas, apesar   Passou*se  isto em Janeiro de  1512.
       mado  Àlvaro  Madureira,  que  tinha   da  inferioridade  numérica  em  que  se   Do séquito de  António de  Miranda
       fugido havia algum tempo para os Mou-  encontravam e de irem muito carregadas,   fazia  parte um  fidalgo chamado Duarte
       ros e que, dizendo--se arrependido, pediu   arribaram deliberadamente sobre as con-  Coelho que, impressionado pela riqueza
       a D.  João para  interceder por ele junto   trárias dispostas a abalroá-Ias, ao mesmo   do sião,  terá ficado  com a ideia de que
       do governador. Anuiu aquele e mandou   tempo  que  disparavam  continuamente   seria muito vantajoso ir comerciar para
       que o tratassem bem, oferecendo-se para   toda  a  sua  artilharia.  Começando  as   aquela  região.
       o levar consigo para Goa.  Depois de ter   fustas  de  Dabul  a ser atingidas  amiúde   A  15  de Agosto de  1516, sendo já
       recolhido  o  produto  duma  subscrição   pelos nossos pelouros, perderam o ânimo   governador  da  Índia  Lopo  Soares  de
       feita  na annada a seu favor, o Madureira   e puseram*se em fuga para dentro do rio.   Albergaria,  largou  de  Malaca  uma
       foi  para lerra, com o pretexto de com*   Aconteceu, porém, que uma dessas  fus 4   annada de três naus e um junco, da qual
       prar  roupa  e ... nunca  mais  apareceu!   tas,  por  motivo  dos  estragos  sofridos   era capitão-mór Fernão Peres de Andra*
          Entretanto, é provável que o senhor   durante o duelo de artilharia, ficou para   de, levando um embaixador destinado à
       de Maim tenha mandado pedir auxílio a  trás, sendo  forçada e encalhar na  costa   China.  O  capitão  do  junco,  que  não
                                                                                                          11
   224   225   226   227   228   229   230   231   232   233   234