Page 226 - Revista da Armada
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ELRIO                             patriJo e mais marinheiros.  E Pic6n lel'Ova-o   admiraçlJO  oos outros meninos,  como  uma
             (O  RlO)                          a ele. ao menino senhorita,  pela  miJo,  por   grande coisa.
                ESle  é o  verdadeiro  rio,  amor sonhado.   entre o perigo retlondo dos barris acumula-  Don LuIs, o médico. til/ho dila à suo miJe
             Tu  estás no nado  e eu 1m  vida.  É s6 lempo   dos, um rebanho, efalava-Ihe da viagem, sor-  que linha o coraçlJo doente,  e que qualquer
             que  corre,  entre os dois.       rindo com o suo loura morena de homem da   febrezita o lemria.  Cansava-se depressa,  e
                As duas  margens  sllo  igunis,  mlU  umo   Run das Flores.  Depois desciam para a lan-  estaM quase sempre sentado no umbral de
             delas mal se ~'i da outra, agora que o rio é   cho,  e  voltavam  ao  cais,  evitando  com  o   sua porta, com uma cara triSte e sorridente.
             I/Jo  largo.                      cabeço amorrase cabos. Aspopas, os lemes   No colégio todo o seu aflJ  era estar com os
                Mos o rio se ird estreitando.  E eu te verei,   dos barcos primeiro faziam-se grandes, como   meninos  ricos;  ria  das  suas  graças  com
             amor sonluuJo, e eu o passarei, eficarei con-  monstros;  depois  deminu(am,  deminulam,   admiraçlJo infantil,  Perdia.  porque queria,
             ligo para  sempre.                davam  uma  volto e ficavam 101lge.  E o São   em lodos os jogos; fazia sempre de  ~burro»
                                               Caetano perdia-se por fim entre OUtros barcos   nos saltos; dizia  sempre que linho sido ele,
                                               mais pequenos que emlJo pareciam maiores.   qumulo algum cometia umafalto;fazio lados
             De  .JOSEFITO                     E ele imaginava-o fechado com as suas lan-  os  recados  -  ir  comprar  cigarros,  ou
             FIGURACIONES.                     ternas e os seus gatos,  /fUlis perto da  OUlra   pinht}es. 56 /lOS noites mós. de vento e de for-
                                               /fUlrgem,já na noite I·erde-negra cruzado de   memo, quando o reldmpago ea água entra-
             (EI Calidoscopio Prohibido)
                                               n/(JSlros  e amarras ..            vam  pelo pequeno postigo  do  quarto onde
                                                  .. Vamos comer»!.  Brincando o seu  riso,   domria, jullto à rua,  t  que pensol'O com um
             EL  SAN  CAETANO                  Josefito repetia quase incol/sciente seu pai:
             (O  «SÃO CAETANO»)                                                   pouco de invejo dolorosa lias meninos ricos
                                               «Vamos  come,.,.!  E  sem  transiçllo,  ficava   que viviam 1/0 meio do aldeia, em cosas gran-
                Cristal escurd, tOmora  l'I!rde,  lenebrosa
                                               sério e encolhido  na  sun cadeira,  olho/Ido   des e  seguras.
             esmeralda maior, mate e lenaz.,  que se des-
                                               absorto  a  água  do  copo,  o  vinho  do  taça,   Chegavam  as festas  das  Cruzes,  e  ele
             prendia sozinho do total labirinto.  Pareceu-
                                               marinheiros naquele inslante confuso.   tinha nesse ano a  ilusllo de fOl..er  qualquer
             -1M um barco que se despregava da margem.
                                                                                  coisa que cawasse a admiraçllQ dos meninos
             Sim, era o SiJo Caelono, que ele ouvira con-                         ricos do cQlégio.  Via-se jd vestido de  1I0l'O,
             tar IOTllas  vezes que til/ha  varado I/a  Borra   De  «ENTES  Y SOMBRAS   com  o chapéu  de palha  deitado  para  Irós,
             numa noite ardente de lemporal eléctrico.  E
             agora, I/UIlIO aguagemfavorável, talvet. o de   DE MI INFANCIA»      seguro  pelo  elástico,  levando  o  grande
                                                                                  pel/dIJo amarelo e verde da Cntl do sua ruo.
             Santiago, o uma ressaca briosa, desprendia-  (Elegias Andaluzas)
             -se  do  banco  de  areia,  separava-se  dele                        entre o rufar do pequeno tambor azul,  e as
                                                                                  irnu2s com as sombrinhas de todas as cores,
             balouçando como um ~rço. e por fimfica~'O
                                                                                  como  um  clarlJo  que anunciasse a  CI'Ul  de
             a flutunr,  0110,  equilibrado,  como acabado   EL PUERTO            flores.  de prata  e cristal -  ""'1'0  a  cruz da
             de  lançar  à  dgua,  formoso,  como  o  seu   (O  PORTO)  (HUELVA)
                                                                                  Rua do Coral!-, o céu azul. os foguetes esta-
             Almiranle  vermelho  110  pátio  de  pedra,  110
                                                  Um s6 realejo velho, que parece que tem   lando 110 dia.  Pediu para levar o pelldiJo; niJo
             meio do  rio,  do  mar.                                              dormiu umo senlOna, pensando no seu IriUII'
               Estava carregado, como 110 tarde luxuosa   dentro UmGI derrocadtJ de vidros, toca na rua
                                               um  repelido  .pasodoble»  de  touros.  O sol   fo.  Qunlldo,  /IQ /tIlUÚU) de Maioda procisslJo,
             em  que ele o  I·iu  acabado de pintar,  ~'erde
                                               abre um orijfdo de luz.  no vidro da janela,   saiu  pelo  alpendre,  pequenino  no  grande
             e amarelo, de 100Iéis novos, preciosos,  aro-
                                               e piJe ante o portO um pono de iluslJo e nos-  buraco  do  porta  moior  da  igreja,  vinha
             motjzpJos, cem, mais, lodos repletos de linho                        desfigurado,  bral/co  e a tremer.  O pendlJo
             moscatel que os ornava de mel,  disposto a   talgia,  imenso,  infinito.
                                                  Fora, por duas portas correspondidas da   dobrova-se-Ihe, calo-lhe, nlJo o levava direi-
             sair  para  EI  Pueno,  Cádis,  Gibraltar,
                                               taberna do  esquina,  l'l-se o porto - céu de   to.  Pela Ruo Nova,  qual/do os seus amigos
             Mdloga.  Caía a tarde, ea ribeira de Moguer
                                               diamantes.  Vil/ho branco, bocas, rumarDes ...   o viram,  desde as \'Orandas com damascos,
             brilhava,  de  transparenle  e  solildrio  azul
                                                  Fogo de artificio //Q ria. Navios ilumina-  sobre os ramos de eucaliptos dos fachadas,
             Prússia,  com  as faluns,  bergantins,  quase
                                               dos.  O  homem  do  gelado.  Bn·sa  e farol.   todos grilavam,  rindo,  .. o Marinheirito,  o
             vapores ancorados entre o molhe e a barca
                                               Livros acesos.  Cafés  em  cujas  traseiras se   MarinheiriIO".
             do  banho  das  Mulheres.  Ele  lia  perfeita-                         A  meia da mo, nlJopóde mais, ecoiu com
             mente, nas popas pintadas de branco e  I·er-  ouve  e  se  vi  um  bater  de  água  negra ...
                                                                                  o pendllo verde e amarelo,  sobre as junças
             melho, de celeste e negro,  de ocre e verde,
                                               EL MARINERITO                      do  chIJo.
             combillOç6es de  cores  como  nos  Irajes  dos
                                               (O  MARINHE/RITO)
             loureiros, que Iheagradovam lUIS mais do que
                                                                                    De «P/alero y YO»  (Ediç~s Agui/ar) «Antolo-
             osoU/ros: A Estrela, O lobo, A Joana Elofsa,   Seu pai era marinheiro e ~·ivia na Rua do
                                                                                  gia de ta  Poesia  EsP(lfIlJÚ/  Omltmporonta_
             Enriqueta,  A  Caprichosa,  O  São  Caetano.   Coral; por isso lhe chamamm o Marinheirito.   (Bibliottc(l Básica Sel/mt)  _Hisl6rias y Cuell-
               O São Caetano era  o seu,  o de seu pai,   Dl!finhoda. fino,  pálido, Olé  ser quase cin-  tOS_  (Edif6ts Bruguera _  Libro Amigo II. (J 638).
             o maior,  o mais formoso,  o melhor, o mais   unto.  Uns pulsos esqueléticos, donde salta-  ~ Eltgias Andaluzas_  (EdiçWs  BruguemJ  -
             novo, o que andal'O mais, o que tinho melhor   mm as pulsaçDeS, coisa que ele mostram com   Libro Amigo II. (J  754).
             Livro das Armadas  (30)
            Texto  actualizado  do  códice  reproduzido  na  contracapa:   "s.  Filipe»,  Jdcome  TristlJo,  capitlJo  e  senhorio;
                                                                   'IS.  Bento»,  Diogo Bote/ho  Pereira;
                               No ano de 549                        «Burga/eza», JoI1o  Figueira de  Barros; de  Moçambique
                                                                para a  fndia  desapareceu;
               Partiram cinco lIaus para o  fndia  com estes capiltles,  e   «Zambuco»,  JolJo  de  Mendonça  CaçiJo;
            nesta annada  emborquei para  lá lia  nau «S.  Filipe»:   S.  Boaventura«,  D.  Álvaro de Noronha.
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