Page 230 - Revista da Armada
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--------------------------- a1guma coisa mais se poderá deduzir
dele. Não é natural que o encontro com
os piratas tenha lido lugar nas proximi-
COCHINCHINA-1517 dades do Sião ou da China, cujas águas
eram, normalmente, patrulhadas por
armadas de guarda-costas. Tão pouco
PEQÚ deverá ter ocorrido no alto mar, lugar
pouco propício para encontrar navega-
ção. Por exclusão de partes, somos
levados a supor que o encontro se tenha
dado quando Duarte Coelho navegava 11:
vista da costa da Cochinchina. Quanto
slÀo
ao número de navios inimigos, cremos
I que deverá ser tomado com a1guma
, , reserva. É possível que entre as trinta e
Hudit (Banguecoque)
MAR DA CHINA
MERIDIONAL três velas referidas pelo cronista, estives-
se um número apreciável de champanas,
, ou seja, de embarcações de vela, muito
,
usadas naqueles mares, bastante mais
pequenas que os juncos.
I lou o combate, dada a forma como a ele
Quanto 11: maneira como se desenro-
, . se refere Castanheda, é de supor que
tenha sido, essencialmente, um combate
de abordagem. Tendo saído de Malaca
na companhia de três naus, o junco por-
tuguês devia ir fracamente artilhado. Por
outro lado, sendo os cascos dos juncos
,~
,: muito resistentes, s6 seria possível afun-
dar os juncos dos piratas, 11: distância, dis-
! pondo de bombardas de grosso calibre.
j ou dois juncos inimigos se tenham adian-
O que deve ter acontecido é que um
.. tado aos restantes e tenham tentado abor-
~ 1 dar o junco de Duarte Coelho. Nessa
altura, os portugueses terão disparado 11:
queima-roupa os seus berços e espingar-
das causando grande mortandade entre
'o os atacantes. Mas, como estes eram mui-
tos. devem ter renovado repetidas vezes
as suas tentativas de abordagem, até que,
por flm, conseguiram aferrar e entrar no
nosso junco. Ter-se-á então travado um
combate desesperado à arma branca em
que morreram muitos dos nossos e a
maior parte flcou ferida, mas em que o
inimigo terá sofrido perdas muito mais
elevadas, uma vez que os portugueses
sabemos se ia por conta do rei ou de par- -se com Fernão Peres. Mas a sorte foi- deviam estar a combater com capacetes
ticulares, era Duarte Coel.ho. -lhe adversa e, no caminho. foi atacado e armaduras, como habitualmente, e os
Ao largo da costa da Cochinchina, por uma forte annada de piratas com a piratas sem eles. Ao flm e ao cabo, os
encontrou esta armada ventos contrários qual travou um furioso combale de que, atacantes viram-se obrigados a recolher
e foi forçada a arribar a Malaca, à apesar de ludo, conseguiu sair vitorioso. aos seus navios e a afastar-se. E, ou por-
excepção do junco de Duarte Coelho A respeito desse combate, diz laco- que em face das perdas sofridas tenham
que, depois de obtida autorização de nicamente Castanheda: " ... e pelejou no desistido, ou porque Duarte Coelho os
Fernão Peres, foi invernar ao Sião onde, caminho com trinta e três velas de tenha conseguido despistar durante a
obviamente, deverá ter aproveitado o corsários que o tiveram quase rendido noite, o certo é que o nosso junco pôde
tempo para fazer negócio. como lhe mataram muita gente, e mila- prosseguir a sua viagem, tendo chegado
No ano seguinte, quando chegou a grosamente o sa1vou Nosso Senhor e lhe a salvamento à ilha da Veniaga em Julho
época própria da viagem para a China, deu maneira de poder fugir, e nesta de 1517.
Duarte Coelho fez-se de novo ao mar peleja fez Duarte Coelho façanhas que Um mês depois. juntou-se-lhe Fer-
com destino à ilha da Veniaga, que fica se não podem escrever.,. não Peres que, nesse mesmo ano, voltara
próximo de Cantão, onde contava reunir- Apesar da concisão deste relato, a sair de Malaca com uma armada de
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