Page 273 - Revista da Armada
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Logo, daqui se infere que o que é navio não é embar-
                                                              cação e  que aquilo que é'embarcação não é  navio,
                                                                 Ora acon,tece que a articulista, por três vezes no seu
                                                              artigo, também chama navio à  fragata  «D,  Fernando» (o
                                                              que está certo) mas que gera confusão no espírito do leitor
                                                              o qual poderá perguntar: afinal  em que ficamos,  é navio
                                                              ou é embarcação? Ou poderá até ficar convencido que os
                                                              dois termos se equivalem, que são sinónimos. Ora,  como
                                                              já vimos,  não o são.
                                                                 Tudo estaria certo se no artigo a palavra embarcação
                                                              não figurasse uma única V€Z, sendo substituída por navio
                                                              que é a classificação merecida por um va·5O oceânico como
                                                              a  fragata «D.  Fernandoll que várias vezes fez  a  travessia
                                                              entre a  índia e  Portug~l e  vice-versa,  obviamente.
                                                                 Deveria  a  articulista  saber  que  os  tripulantes  de
                                                              qualquer navio já ficam muito melindrados quando ouvem
                                                              alguém  chamar-lhe  barco;  o  que  não  seria  agora  se o
                                                              ouvissem se apodado de embarcaçãol
                                                                 Aconteceu ainda que o mesmo jornal,  na sua edição
                                                              do dia 26 de Dezembro p.p., publicou um artigo não assi-
                                                              nado acerca do destino a dar ao navio-hospital «G.il Eanes».
                                                              Também ali surge, por três vezes, a palavra embarcação
                                                              a classificá-lo (o que está errado) e que é inconcebível no
                                                              caso de um navio de deslocamento máximo de 4800 tone-
                                                              ladas e de comprimento igual a  98  metros, mas também
                                                              no mesmo artigo ele é chamado, por três vezes, de navio
                                                              (o  que está ce,to) e mais três vezes de llNavio do Desafio
                                                              Europeu».
                                                                 Se escrevo estas linhas é principalmente com a finali-
                                                              dade de erradicar de uma vez para sempre toda a confusão
                                                              que se terá instaurado no esplrito de uma grande parte
                                                              das pessoas que leram aqueles dois artigos, cujos prota-
                                                              gonistas são, em ambos os casos, navios e que fique bem
                                                              claro que o que é  navio  não é  embarcação e que aquilo
                                                              que é  embarcação não  é  navio.
         bateria e vinte e duas no convés. E digo previsto porque
          nunca  chegou  a  montar  os  cinquenta  canhões,  tendo
         efectuado a primeira viagem apenas com dezoito e tendo
         atingido,  mais tarde,  o  máximo de quarenta e  quatro.
             Mas.  quanto a  mim,  o  mais grave de  tudo é  ter-lhe
         chamado três vezes embarcação (o que está errado), que
 •       é  um  termo que acho desprestigiante,  se não aviltante,
         para tão imponente e  airoso  navio.
            Existem vários dicionários de marinha de autores por-
         tugueses; compulsemos, por exemplo, o «Dicionário Ilus-
         trado  de  Marinha»,  da  autoria  do  ilustre  historiador de
         marinha comandante António Marques Esparteiro, no qual
         se define embarcação como barco de pequena tonelagem,
         (consequentemente de pequenas dimensões), empregado
         especialmente no serviço de portos e rios e nas comuni-                         J.E.  Ferreira  dos Samos,
         cações dos  navios  uns com  os outros ou com a  terra.   capitAo da Marinha Melcanta a mambro do Grupo de Amigos do MUSBU
            Diz-se também naquele dicionário que barco é o tenno   da Marinha.
         genérico  para  designar  vasos  flutuantes  destinados  a
         navegar e acrescenta-se que ao barco pequeno se chama
         embarcação e  ao  barco grande se chama navio.      •  ••••••••••••••••••••••••

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