Page 340 - Revista da Armada
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«Ao Serviço da Pátria»








                                  ( ... ) No entanto, o mar sobra o
                              qual nos debruçamos, é sempre o
                              Atlântico da nossa aventura mais
                              bela:  •  olhando-o  hoje,  ainda  à
                              nossa vista surgirão os sulcos de
                              espuma  fremente  que  os  nOSSOB
                              barcos dantes abriram no torveli-
                              nho das suas vagas •..
                              ln IfSentido do Atlántico» de João
                              de Barros.
              INTRODUÇÃO

                 Afigura-s8-me pouco compreensível e algo injusto
              o silêncio literário que envolve a actuação das nossas
              Marinhas· Guerra e  Mercante - durante a  I Grande
              Guerra.
                 Na realidade desde que  pensei enveredar pela car-
              reira da Armada,  nos finais dos anos 30,  comecei a
              procurar nas melhores livrarias então existentes, livros
              que satisfizessem a mill ha curiosidade sobre a maté·
              ria.
                 Contudo,  tal  busca  foi  praticamente  infrutifera,
              pouco ou nada e ncontrei publicado.
                 Inconformado com a  ideia,  recorri  a  um livro em
              que é  prestada  merecida  homenagem  aos  heróis  e
              humildes  tripulantes  da  nossa  Marinha  Mercante.
                 Do livro ~Ao Serviço da Pátria· A Marinha Mercan-
              te Portuguesa na I Grande Guerran e seu distinto autor
              Costa Junior passo a transcrever a narrativa que con·
              siderei de maior interesse, atendendo a  que, contra-
              riamente ao que era normal. ..  acabou em bem!     Comandante do «MACHICO. Afonso Vieira DionJslo,  ({ato cedida
                                                                 pelo Sindicato mencionado na outra fotografia).
              o INIMIGO NÃO CONSEGUIU  O  OBJECTIVO              tenas de metros.  Finalmente foram os cavalos atira-
                                                                 dos ao mar e  levados a nado até A praia, mas muitos
                 Quando foi declarada a  guerra entre Portugal e  a   dêles, mal puseram as patas na areia, desapareceram
              Alemanha, encontrava-se fundeado no pdrto do Fun-  até ao mato, não mais voltando a  ser vistos.
              chal, juntamente com outros barcos da mesma nacio-     Tudo era improvisado na terra e no mar e, melhor
              nalidade, o paquete alemão «BelmaTJJ,  de 6.118 tone·   do que ninguém sentiram-no os heróicos marinheiros
             ladas,  que foi  apresado, passando então a  arvorar a   portugueses. Aqufile desembarque de sollpedes, que
             bandeira portuguesa. Recebeu o nome de «Machico».   logo desapareciam mal tocavam a  terra,  referiu-se o
                 Tendo sofrido ligeiras reparações,  um mês depois   general Gomes da Costa no seu livro .v\ Guerra nas
              deu entrada no Tejo sob o comando de Afonso Vieira   ColóniasJJ.
              Dionisio e  passou ao serviço dos Transportes Marfti·   Em  princfpios  de  Setembro  tinha  o  «Machico.
             mos do Estado, de triste memória. Novamente se fazia   aquela  missão  concluida  e  Jogo  outra,  não  menos
             ao mar,  no dia  24  de Julho,  com  destino à  Bafa  de   importante, lhe foi confiada. O comandante Vieira Dio-
             Palma,  em  Moçambique,  transportando  reforços  de   nísio foi encarregado  de  conduzir,  no barco do seu
             homens e  material de  guerra  para  a  expedição do   comando, um esquadr'o de cavalaria 3 e 500 carrega·
             general Ferreira Gil.                               dores negros, de Pdrto Amélia para Tungue e, depois,
                 A  viagem  - djllcil por motivo da  especial missão   300 doentes para Lourenço Marques.
              de  que  o  navio f6ra  encarregado,  vulgar  cargueiro   A  tripulação,  com noites perdidas num trabalho
             arvorado em transporte de guerra - ffiz-se contudo, nor-  insano de tddas as horas, quantas vezes com solda-
             malmente, e no dia 9 de A gdsto o vapor «MachicolI fun-  das em atraso, nunca se recusou ao cumprimento do
             deava naquele pórto, onde os tripulantes sofreram os   dever e  honrou sempre a  bandeira que o  seu navio,
             maiores trabalhos para desembarcar os 625 solipedes   altivamente,  içava no mastro grande.
             que tinha a bordo, sem embarcações ou jangadas em      Mal uma  comissão estava  concluida,  logo  outra
             que o pudessem fazer, afastados da praia algumas cen-  aparecia, sempre mais diffcil, sem que ao menos hou-

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