Page 343 - Revista da Armada
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Mncia verdadeiramente criminosa. De bordo não todos diDcil», e o terceiro pilóto por ter estado com boa
respondiam, evitando que o barco fdsse localizado e atenção e vigiMncia, de maneira a ver o submarino a
alvo de outro ataque. A tal zona perigosa foi atraves- tempo de poder ser evitado o ataque.
sada de noite, sob temporal e de luzes apagadas. As Foi uma das páginas mais brilhantes da História
quatro horas da madrugada do dia 19 estava o «Ma- da Marinha Mercante Portuguesa durante a primeira
chico!! junto à costa, um pouco ao norte do Cabo de Grande Guerra, aquela que escreveram os heróicos
S. Vicente e só então foi participado para terra que o tripulantes do IIMachico» - nesse momento em que
barco seguia bem e igualmente bem todos a bordo. tantos heroismos se praticaram.
Anunciavam, mais, que às 11 horas deviam estar no
fundeadouro.
Realmente assim sucedeu. A medida que o paque- N.R. - É conveniente que se diga que:
O número de navios e embarcaç6es (de diversos tipos e tonela·
te subia o rio, iam os seus tripulantes sendo entusiàs-
gem, variando desde as 8.000 tons. até wnasescassas dezenas). afun·
ticamente saudados pelos marinheiros dos barcos de dados pelos submsrinos slemiJes, foi de cerca de 100.-
guerra e mercantes fundeados no Tejo, pois na vés- Que a tone1Bgem afundada pelos slemiJes. aproximada por
pera todos os jornais tinham lamentado o torpedea- defeito. considerando que em perto de 30 ocom!Jncias, se desconhe.
menta do vapor e a perda total de quantos seguiam cer a tonelagem dos respectivos navios afundados, foi de cerca de
100.000;
a bordo.
Que o número de tripulantes mortos ou desaparecidos. aproxi·
Sirva de lenitivo - quandO tantos feitos heróicos de
mado por defeito, já qua em alguns casos se ignoram os respectivos
oficiais e marinheiros anónimos, foram esquecidos - quantitativos, como por examplo o da Barca . Viajante». no qual
o facto dos tripulantes do «Machico» verem galardoa- desapareceu toda a tripulaçJlo. loi de cerca de 160;
dos o seu patriotismo, o seu sacriflcio e ardor verda- Que a circunstilncia de cerca de 29 navios e embaIcaçeles. terem
deiramente combativo. Por decreto do //Diário do sido afundados ao Isrgo da costa W (22) e S (7) do continente, leva
a crer que o patrulhamento da nossa zona costeira, niJo deveria dis-
Govêrno!! de 24 de Setembro de 1919, foram o capi-
por de meios minimamente suficientes e que embora mIo dispondo
tão, o primeiro maquinista e o terceiro pildto, conde- de elemenros seguros. aligura·se poder concluir que os navios mer-
corados com a IITórre Espada de Valor, Lealdade e cantes nacionais niJo possuiam qualquer espécie de armamento
MéritO/I, que bem mereceram. O capitAo por ter a defensivo. Iimjtando a sua acçiJo. quando atacados, a render-se com
serenidade, coragem e saber necessários para mano- a maior dignidade passiveI e ou. como no caso do HMachico», usar
a inteligência e o saber para ... se salar.
brar o navio de molde a sair ileso do violento ataque;
o primeiro maquinista por ter sabido manter a disci- A Coral Costa,
plina na casa da máquina, IInaquele momento, sdbre cap.·m,-g.
o Guadiana revisitado
o passado mês de Junho, à semelhança do que outras fontes, sobretudo a um artigo publicadO nos
acontecera exactamente havia um ano, subi o Anais do Clube Militar Naval (JullSet 1980) pelo cap.-
N rio Guadiana no iate de vela e motor //WILMA», -ten. Rodrigues da Costa, ligeiramente mais completo
que cala 1,8 mts. e dispõe de um motor Volvo Penta do que o muito bem elaborado anexo à Carta Turística
de 75 cv. do Algarve, editada pelo Instituto Hidrográfico, em
O Guadiana só é navegável presentemente por português, inglês e francês.
embarcações de recreio com motor, pequenas embar- A palavra Guadiana pIovem da designação árabe
cações de trabalho e, esporádicamente, por vedetas de rio - UÁDI e de ANA, nome que os romanos davam
de fiscalização portuguesas e espanholas. a este rio.
Os atractivos deste rio e a sua fácil navegação O Guadiana nasce na serra de Alcaraz, a cerca de
levaram-me a divulgar esta subida e a recomendá-la 70 km a Norte das nascentes do Guadalquivir. Entre
a quem a puder fazer. Foram bastantes os iates que Alhambra e ajas do Guadiana percorre uns 30 Km
se encontraram, de várias nacionalidades, sobretudo debaixo da terra. Com um curso de 930 km forma fron-
holandeses. Ficou-se com a ideia de que alguns tinham teira com a Espanha entre Elvas e Mourão (50 km) e
qualquer relacionamento com casas isoladas construí- entre Pomarão e Vila Real de S. António. Em território
das nas margens. exclusivamente português percorre cerca de 140 km.
Ainda pouco poluido, para quem goste da Natu- As principais povoações por onde passa são em Es-
reza, o Guadiana é um rio ideal pelos que procuram panha, Mérida e Badajoz e em Portugal, Caia, Mértola
a calma e o silêncio, ar puro por vezes a cheirar a e Alcoutim. Nas margens da foz situam-se Vila Real
estevas, paisagens bonitas e variadas, sons de sinos de S, António e Ayamonte. A 3 km a montante de Aya-
e chilrear de pássaros. Com bastante frequência e até monte está a ser construida por portugueses e espa-
de noite, ouve-se o zurrar de burros, principalmente nhóis a Ponte do Guadiana.
na margem espanhOla. A diferença do som dos sinos O Guadiana foi, ainda é e deverá continuar a ser
espanhóis era notória e contrastava com o dos portu- uma das melhores vias de penetração naturais do país,
gueses, sem qualquer grandeza. sendo navegável até Pomarão, a 48 km da foz, e por .
Além da experiência de duas subidas recorri, entre embarcações miúdas até Mértola, 18 km a montante.
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