Page 44 - Revista da Armada

1\0

PeJo v/sIm. Silva Braga

x -Pombo ao Mar

(fragmento de memórias marítimas)

o dia 26 de Fevereiro de 1896 virou de bordo para facilitar o içar do fundo. A sua construçilo composite
navegava 8 corveta-escola escaler por sotavento. O que rapida· - ca vemame de ferro com dois forros
N «Duque da Terceira» com rumo mente se fez. de madeira sobrepostos, de costuras e
és ilhas de Cabo Verde, Belo tempo, Ainda com o leme todo a estibordo, calafeto desencontrados - salvara o
nuvens soltas. famos s6 à vela, com e o navio ii capa, sem seguimento, navio. Mas ficara pouca confiança em
todo o pano, sobres, cutelos e varre· formou-se a guamiçAo e o Comandante o levar a viagem longa de mar, e corria
doura, excepto 8 veJa-ré. O vento largo - então o cap.·m.-g. Augusto de Cas· que a corvata nilo voltaria mais a Lis-
era Leste de umas 15 milhas, ou seja tilho - comunicou que restava a cons· boa, como aconteceu ao .fndia_ e à
força 4:5 e o navio deitava bem sete Ciência de se terem feito todos os esfor- .. Mandovi_, apesar dela sÓ contar uns
milhas. ços para salvar aquele companheiro, e vin te anos de construlda. Fazia pouca
Passava pouco da uma hora da tar- pediu ume oração por sua alma. Tirá- água.
de quando se ouviu um grito: «Homem mos os bonés, e o sino tocou Trindados. Contudo veio a ordem de retirada.
80 mar/II. Logo se carregou todo o leme O oficial de quarto era eu. Comovida- E o Comandante da Divisão resolveu
8 barlavento e se largaram por m.fo mente prometi então a mim mesmo por-lhe a bordo uma tripulação de
adriças e amuras dos cutelos, assim nunca me descuidar, nos navios em que jockeys (1), com mais algum pessoal
corno as escotas de proa. P6s-se sobre mandasse, em ter prontos todos os com a estaç40 acabada que estava
o pano do mastro grande e caçou-se 8 recursos de salvação. morto por regressar à pátria.
mezena a meio. O navio atravessou, Depois o navio mareou e tomou a Cinco dias depois de termos embar·
No entretanto, tinham largo a bóia aproar para sul, abandonando o local, cada, o navio estava pronto a largar na
e guarnecido o escaler de salvação, que umas cento e setenta milhas a norte da sua viagem para Lisboa, no género da
era o de ré a bombordo, porque o de ilha do Sal. do .Brigue MondegoJl ...
sotavento estava 8 pintaI. Ali o humilde António Gomes . O Comandante da Divisilo veio de
a homem que caim ao mar estava encontrara 8 sua sepultura no fundo do manhã a bordo inspeccionar o navio e
de serviço fora da borda: era o encarre- mar. desejar boa viagem à guarniçlo forma-
gado do costado, que estava dando os Mas eu, enquanto não mandei, tive da no oonvés. Logo a seguir se apitou
últimos retoques de pintura, para a cor- de limitar-me a, nos qu?rtos de noite, ii faina e eu. que era então o imediato,
veta chegar bem afinada a Santiago. por vezes gritar para o BXercfcio: - Sal· fui para o castelo e por várias vezes, da
Ainda ela mio tinha estacado bem ta no escaler de salvação/ Só um ano boa fé, fui gritando para os do cabres·
da sua corrida, já o escaler era arriado, depois estive em posição de pod« cum- tante a fórmula então usual: - Vira,
e um dos guardas·marinhas (havia mui- prir a minha promessa sentimental. vira, que 6 pare Lisboa!
tos a bordo) subira ii gata para indicar . Suspendemos e seguimos 8 dobrar
a direcção da bóia, afastada pela alheta •• a Ponta Vermelha. Ao passarmos em
de barlavento. Apanhou-se a luva de continência pelo «fndiall e peja "Zaire_
tratar o costado, mas o homem tinha Em Março de 97, em Lourenço Mar-
desaparecido. O escaler ficara no local, ques, a corvete "Rainha de Portugal"
sÓ regressando quando de bordo se era o navio-cheüJ. Havia uns anos que (1) Eram assim chamados certos fogueio
içou o chamamento. - dizia-se vagamente - navegando ros especiais que, nos navios movidos /I
carvilo. conseguiam [lIZer vapor para, nas
O navio, que esperava atravessado, pela bala, ela fora tocar no Lech ReeI, experiáncias, arrancar ao navio a maior
com amuras a bombordo, marBOU e tendo vindo acima alguma madeira do . velocidade passiveI.
6