Page 87 - Revista da Armada
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RIO DE MUAR - 1512
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impedir que Lançamane voltasse a refu- a impedir que os nossos batéis pudessem Com o romper do dia, essa ilusão
giar-se no curso superior do rio. Atrás, ir abordar estas. desfez-se. Mais uma vez, o astuto capi-
iam a caravela e a galé levando cada uma Apesar disso e da chuva de pelouros tão-mor do rei de Malaca encontrara
delas, provavelmente, dois batéis a e flechas que caía sobre eles, os batéis maneira de se livrar duma situação crí-
reboque. potugueses conseguiram abrir caminho tica. Durante a noite, tinha mandado pôr
Porém, Lançamane tinha o seu sis- até junto de algumas das lancharas em seco todos os seus navios e, com a
tema de vigilância bem montado e, logo inimigas travando com elas um furioso ajuda das tropas do rei estacionadas em
que foi avistado o navio de Jorge Bote- combate à arma branca que durou cerca Muar. construíra entre aqueles e; a borda
lho, meteu-se com toda a armada dentro de três horas e em que foram monos de água, uma forte tranqueira onde
do rio. No entanto, julgando tratar-se muitos dos seus ocupantes e tomadas colocou grande número de bombardas!
dum navio isolado e pensando, possivel- algumas delas. Mas, como a maré tinha Dispondo apenas duma centena de
mente, que, dado o seu calado não seria começado a descer, Fernão Peres viu-se portugueses, alguns deles já feridos,
capaz de franquear a entrada, em lugar forçado a ordenar a retirada, para evitar Fernão Peres não se atreveu a tentar o
de se meter pele rio dentro como fizera que os batéis ficassem em seco no meio assalto à tranqueira que estava defendida
da primeira vez, deixou-se ficar peno da duma multidão de inimigos. Não sendo por alguns milhares de malaios e javos.
barra, junto à povoação, onde estavam possível aos portugueses trazer as lan- Colocando os seus navios nas posições
numerosos soldados do rei com arti- charas que haviam tomado, por causa das mais convenientes, limitou-se a bombar-
lharia. que estavam afundadas, puseram-lhes deá-Ia com a artilharia durante quase
Do lado de fora da barra, Jorge fogo que, no entanto, os inimigos apa- todo o dia, só regressando a Malaca
Botelho aguardou pela chegada de Fer- garam facilmente logo que eles se afas- quando.se lhe acabou a pólvora.
não Peres com o resto da armada e pela taram. Puderam então a caravela e a galé Ainda desta vez a armada de Lança-
subida da maré. Quando teve água sufi- fazer uso mais à vontade da artilharia, mane escapara à destruição. Mas ficou
ciente, afoitou-se a passar a barra, provocando grande destroço nos navios muito destroçada, deixando, por uns
provavelmente com o auxl1io dum piloto de Lançamane. Por fim, o cair da noite tempos de preocupar os Portugueses.
malaio, e, passando ao largo da armada obrigou a interromper o combate. Alguns meses mais tarde, o rei de
de Lançamane que estava encostada à Temendo que Lançamane aproveitas- Malaca, desiludido de poder recuperar
margem none, foi fundear a montante se a escuridão para se escapar, Fernão a cidade pela força das armas, resolveu
dela tirando-Ihe a possibilidade de se Peres dispôs cuidadosamente os seus mudar-se para a ilha de Bintão, que per-
escapar para o curso superior do rio. navios por forma a cortar a passagem à tencia a um vassalo seu, levando consigo
Pouco depois. começaram a aparecer os armada inimiga tanto para montante do Lançamane e a sua armada de lancharas
navios de Fernão Peres tocando as trom- rio como para o mar. Mas a noite passou- e calaluzes.
betas e os tambores e com as guarnições -se em absoluto silêncio não sendo
Sarumino Monteiro,
fazendo grande algazarra. detectado qualquer movimento suspeito, cap.-m.-g.
Vendo-se encurralado, Lançamane o que levou os portugueses a pensar que
Bibliografia: . Hist6ria do Dtsrobrinunto e
mandou atravessar e afundar algumas Lançamane teria abandonado os seus Conquista da {ndiaptws Ponll.gwsts. de FemM
lancharas diante das restantes por forma navios e fugido para o interior. ~I de CastanhtdD.
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