Page 88 - Revista da Armada
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Voz da Abita







             CARTAS AO DIRECTOR                à espera que a burocracia resolva o   mais. Lá iremos, caro amigo e assi-
                                               que  há-de  fazer  àquela  prenda.   nante ...  é  uma questão  de  tempo.
                Dos  nosso  leitores  e  amigos    Fala-se  em  a  transplantar  para
             recebemos  a  seguinte  correspon-  outro  local  elou  em  a  modificar.           *
             d'ne/a:                           Enquanto os responsáveis pensam,      Do  cabo  CM  AF  JOH  Leal
                Do .Pezlnhos-. cabo M, Lisboa,  eu,  que sou  por soluções  radicais,   Ramalhelro, Freixianda, uma carta
             a  carta  que  transcrevemos  na   preconizo que, pura e simplesmente,   expondo  a  sua  triste  situação  de
             fntegra:                          a levem para bem longe de Lisboa,
                                                                                  reformado,  com  uma  pensão  que
                Muito  se  tem  falado  8  escrito  que já tem  mamarrachos que che-
                                                                                  não dá para nada.
             acerca  de  uma  construçAo  mons-  gam espalhados pelas sete colinas.
             truosa que surgiu aos olhos atónitos  Talvez  lançá-Ia  ao  mar,  num  sitio
             da população de Lisboa,  em frente   fundo,  para que nunca mais possa   N. R. - A única coisa qus podemos fSZ9f
             do cinema S.  Jorge,  em plena Ave-  ser retirada de  lá.            If IBm6flrar o caso. Nilo If só a sua psnslo qtHil
             nida  da  Liberdade.  Chamaram-lhe    .Pagagaio da Avenida  .... A mim   está  degradada; If e de rodos  os que esrlo
                                                                                  reformados. E,  tanto mais, quanto mais velhos
             vários nomes teios mas o que pegou   lembra mais uma gare de caminhos   forem. Como tem visto, a nossa Revisra rem
             foi  o  de  .,Papagaio  da  Avenida-.   de ferro, moderna, em ponto peque-  rrarado o assunto várias vezes sem qualquer
                Passo por ali, talvez uma mtkJia   no,  ou  uma  nave  espaCial  que  ali   SUC8SSO,  aliAs.
             de  duas  vezes por semana  B,  por  tivesse  aterrado,  vinda  de  outra
             isso.  vi  nascer  8  crescer  aquele   galáxia!                                    *
             aborto  arquitectónico.  E,  como     Agora só peço uma coisa a quem    Do sarg.-aj. CE Armando Call.~
             vivemos no paIs de Santa Engrácia,   de direito:  por amor de  Deus,  não   to das Neve., Peniche, uma carta
             onde  85  coisas  se  arrastam  por  demorem  muito  a  tirar  tão  insólita  da  qual  não  resistimos  a  fazer  as
             tempos infinitos. jA  nem me lembro   como estranha construção dali para   seguintes transcrições:
             quando.  Só  sei  que  foi  há  muito   fora  ... Uma coisa daquelas. não lem-  Felicito a Revista pelo trabalho
             tempo; primeiro os ca.bouccs. depois   bra ao  Diabo!                que vem desenvolvendo desde que
             uns pequenos muros, grande arms-                                     foi  criada.  Estão  sempre  no  meu
             ç40 de ferro,  cobertura ...  A obra foi          *                  pensamento  os  pioneiros  que  lhe
             inchando  e  quase  tomou  conta  do                                 deram vida. pois ela tem sido o antl-
             passeio.  Mesmo a seu lado, virado    De  Alfredo  Tomaz,  Casa  de   doto para  atenuar as saudades de
             para  a  faixa  central  da  Avenida.   Repouso S.  Romão, Odivelas, uma   todos os que deixaram  de  servir a
             ficava,  e  fica,  uma  paragem  de   carta  em  que  revela  que  as  suas   Marinha.  Tocou-me, especialmente.
             autocarros.  sendo  os passageiros,   memórias de uma existência já longa  a  .. Nota  de  Abertura,.  do  n. o 185/
             que ali embarcam ou descem, muito   (nasci  em  1904)  tem  um  capitulo  lFev. 87, com o título .. Mãe Marinha •.
             molestados com as obras que se tDm   principal  intitulado  -Recordar  É   ( ... )  Cresci num ambiente mari-
             arrastado per omnia secula seculo-  Viver., no qual a propósito da antiga   nheiro.  As  primeiras  vacinas  anti-
             rum ...  Ámen.                     _Sagres.,  onde  fez  o  seu primeiro   -varlola que recebi foram-me dadas
                 Só um cego é  que n40  via  que   curso, o seu embarque lhe deu uma  a bordo da lancha -Rio Minho •. Por
             aquilo estava ali a destoar,  que era   ideia exacta do que passaram aque-  sinal fizeram-me grandes marcas no
             um  autêntico  monstro  de  ferro,   les nossos irm40s que deram novos   braço,  marcas  que  ficaram  para
             cimento  e  lata,  sem  leveza,  sem   mundos ao Mundo. E termina assim:   sempre ... Suportei as ausências de
             graça, atravancando aquele magnI-  a  Marinha,  para  mim,  é  a  melhor  meu  Pai,  embarcado  em  longas
             fico passeio, para os que ainda gos-  escola da vida/ Mas, com disciplina ...   comiss6es  de  serviço  a  bordo  do
             tam de andar a pé, passeio que, para                                 cruzador .. República •. Mas, nem por
             empecilho, bem lhe bastam aquelas                                    tudo isto deixei de me enfeitiçar pela
             interrupções  onde  alguns  velhos   N.  R.  -  Boniras  esras  palavras d6 um   Marinha,  vindo  a  ser  incorporado
                                                anrigo marinheiro,  agora com 85 anos! Oue
             reformados  fazem  prodígios  para                                   nela aos 20 anos de idade.  E foi a
                                                viva muiros mais,  $lo os nossos desejos com
             meter os carros dos novos ricos que   um abraço amigo.               partir de ent40 que ela passou a ser
             por ali trabalham  e  não podem  vir                                 a  minha  segunda  mãe.  Servi-a
             para  o  emprego  nos  comboios,                                     durante 36 anos, continuando a vida
             autocarros e metro porque isso de                 *                  de  meu Pai no mar.  Fiz, como ele,
             levar  encontrões ...  Deus  os  livre!                              longas comissões e  embarquei em
                 E, quando o crime estava quase    De António dos Santos Lopes,   vários  navios.  São  eles  que  nos
             consumado, talvez por se ter levan-  Loures, uma carta tecendo algumas   prendem  à  Marinha  para  sempre.
             tado grande indignação popular, as   considerações  sobre  o  preço  da   Como telegrafista era metido naque-
             obras foram suspensas e tudo parou   nossa  Revista,  que  entende  valer   la teia das comunicações, no mar e
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