Page 20 - Revista da Armada
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Entretanto às bombas de profundidade eram rola· seus lugares de upostos de combate», virtualmente
das pelas calhas da popa ou lançadas pelos morteiros. durante oito dias a fio, perdendo horas consecutivas
Houve como que uma pausa fúnebre, quando de sono, contentando·se com refeições de ocasião e
durante alguns momentos os homens que estavam a vivendo todo o tempo sob uma ansiedade intermitente
bordo e os que iam ficando para trás, na sua esteira, que muitas vezes alcançava a mais desesperadora
se encararS:JTl mutuamente, com piedade, medo e tensão.
sobretudo, com uma espécie de incredulidade. O pior é que tudo fora em vão, que tudo represen·
E então, com fragoroso ruído e o mar a saltar como tara um desperdício. Além do uSonelli" que ocupava
que a ferver, as bombas de profundidade explodiram. um lugar especial no desastre, tinham perdido catorze
Misericordiosamente, devido à terrível onda de navios· dois terços do comboio completai
choque provocada pelas explosões submarinas, os Para contrabalançar a sangria mortal feita ao com-
homens deviam ter morrido instantaneamente. boio - a pior de quantas se haviam dado até então -
Ouando deixaram o local, ninguém olhou para o o uViperousN afundara um submarino e outro fora pro-
comandante. Se o fizessem, ter·se·iam sentido choca· vavelmente destruído. E O próprio ccCompass Rose»
dos pela sua expressão e pela sua extraordinária palio recolhera cerca de uma centena e meia de sobreviven-
dez. Mergulhado profundamente em auto· tortura e tes, quase o dobro do número que constituía a sua pró-
horrorizado com o que fizera· e embora o contacto pria guarnição. Mas aquilo não parecia grande coisa
nunca tivesse sido classüicado como unão submarino" ao lado do total de vidas perdidas e dos múltiplos e
. ele já percebera que não havia ali nenhum submarino! cruéis incidentes ocorridos.
O contacto referia·se, provavelmente, a algum dos IN «THE CRUEL SEA" de NICHOLAS MON-
navios torpedeados, deslisando lentamente para o SARRAT
fundo ou ao agitamento especial das águas que tal - Tradução brasileira de Nair Lacerda - Adaptação
facto ocasionara: KFosse como fosse, o morticínio livre de um excerto do mencionado livro.
provocado pela sua decisão, constituíra apenas uma
supérflua tentativa de contribuir para o sucesso da
missão».
Finalmente, atravessaram o Estreito, rumo aGi· Coral Costa,
braltar, o seu porto de destino. Haviam mantido os co!llp.·m·l1·
Conversa entre Marinheiros ...
Conduzlds pelo c/sim. Malhelro do Vsle
Intervenientes: .. Revista ds Armada- (RA)
e cap.-m.-g_ Silva Olss (SD)
o entrevistado de hoje, cap.-m.-g. Joio Manuel Velho da Silva Dias,
nasceu em Santo Amaro de Oeiras em 1938, alistou-se na Escola Naval
como cadete de marinha em 1958 e foi promovido ao posto actual em
1989.
É filho do cap.-m.-g. RF Manuel da Silva Dias e irmão de José Manuel
Velho da Silva Dias, do mesmo curso que ele da Escola Naval, actual-
mente na situação de Reserva desde 1971. Uma família de marinheiros,
com rarzes mais fundas. pois sua mie. D. Margarida Hayes Velho Cabral,
açoriana, Já falecida, era ligada à famUla do navegador Gonçalo Velho.
É casado e tem dois filhos.
Da sua folha de serviço constam embarques em vários navios e o
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