Page 305 - Revista da Armada
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OS AVISOS DE 2.' CLASSE «GONÇALO VELHO» E «GONÇALVES ZARCO»
a
2. parte «Gonçalves Zarco»
8presentação deste navio aos nossos leitores
foi feita em conjunto com o «Velho)!, no n. o 2231
A IJulho 90 desta Revista. Faltou-nos, porém,
dizer em que circunstâncias apareceu o programa de
renovação da Marinha ao abrigo do qual este e outros
navios foram construidos.
Diz o comandante Sousa Mendes, no 4. o vai. da sua
obra ((Setenta e cinco Anos no Mar)), o seguinte:
Em 1930 a nossa Armada estava reduzida 8 um
conjunto de navios, 8 maior parte deles destituldos de
qualquer valor militar (. .. ). Os cruzadores estavam an-
tiquados e envelhecidos; os tr~s contratorpedeiros e
quatro torpedeiros tinham um pequeno raio de acção
e necessitavam de ser substituidos e os três submer·
slvejs já tinham ultrapassado o tempo normal de
duração. Apenas restavam algumas canhoneiras, já
gastas, um navio-escola, um navio·hospital, alguns re·
bocadores e nada mais.
Com o sentido de marinheiro que caracteriza o nos-
so povo, gerou-se em todo o país wn movimento de
interesse pela modernização da Armada, o qual teve
o apoio do Governo, que o concretizou com a publi· o .zarco.. manobrando para atraC8T ao caia em Pon Darwin, Aus-
cação do Decreto com força de Lei n. o 18.633, de ~lia , J963.
18-7-1930, que previa, em diversas fases, a constru- E depois deste pequeno intróito, voltemos à his·
ção das seguintes unidades navais: 1 cruzador Iigei· tória do «Zarcon, ao serviço da Marinha e da Pátria,
ro, 2 avisos de 1.a classe e 4 de 2.a, 6 contratorpe- transcrevendo, antes do mais, a sua certidão de nas-
deiros, 4 submarinos, 2 canhoneiras e 1 transporte de cimento:
hidroavlões. Um plano realmente arrojado e muito dis· Agosto de 1933 - Manda o Governo da Repúbli·
pendioso! ca Portuguesa, pelo Ministro da Marinha, que o A vi·
Numa 1.a fase o Governo autorizou a construção so de 2.a Classe IIGonçalves ZarCOIJ, que se encontra
no prazo de 3 anos, em estaleiros nacionais, ou estran- em Newcastle a ultimar li sua construção passe ao es-
geiros em alternativa, dos 2 avisos de La e 2 de 2.a tado de completo armamento ( ... ).
classe, 4 contratorpedeiros, 4 submarinos, 1 transporte Solenemente baptizado, aquando do seu lança·
de hidroaviões e 2 vedetas para a fiscalização da pesca. menta à água, e agora com personalidade jurídica de
Em meados de 1932, tendo já sido substitu1do o parte integrante do território nacional ...
titular da pasta da Marinha, almirante Magalhães Cor-
rêa, que deu o nome ao programa, pelo capitão-tenente •
Mesquita Guimarães, foi decidido adiar para melhor Largou das brumas da velha Albion, em 29 de
oportunidade a construção do transporte de hidroa- Agosto de 1933, sob o comando do capitão·de·fragata
viões e, em vez dele. construir·se mais 1 contratorpe- Manuel Carlos Quintão Meireles (2), rumo a Lisboa, a
deiro e um submarino. (1) cidade do sol, então capital de um grande império.
Tal como sucedera com o uVelho)), fez wna entra·
da triunfal no Tejo, com salvas, escolta de muitas em·
• barcações embandeiradas e muita gente a vitoriá·lo
das margens. Logo que amarrou à bóia, no Ouadro dos
(1) - Quem mIo gostou nada da graçll, foi o p8l1soa1 da extinta Navios de Guerra, foi visitado pelas entidades oficiais
AVlaçAo Naval que ansIava pelo tnlnspone de h/CHO<Ivi6es. Para es· e, logo a seguir, invadido por familiares e amigos dos
conder a frustraçllo, TldictlJanZ8va o seguinte facto verdadeIro: membros da guarnição.
Com o entus/llSmo que contagiou toda II Mannha, o Arsenal cans-
lrUlU uma gigantesca bóIa para amarrar no Tejo o transporte de hi·
drOllvUjes. Lembro·me perfeitamente de a ver andar ali de um lado
para o outro, pois de grande que era constitula um empecilho para (2) - ContnNJlminmte, oficial distinto e multo considerado, con·
IIS actIVIdades daquele es!abeJeclmento fabril da Marinha. Como o ferenclSta. foi mimstro dos Negôdos Estrangeiros e candidato. Pra-
naVIO se nllo COnStruIU, II Mm acabou ingloriamente por Ir panI a sidencia da Repl1blica, pela oposiçAo ao regIme. Nasceu em FreIXo
sucata. sem nunca ter servIdo para nada! de Espada li Cmta, em J880 e faleceu em Laboa. em 1962.
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