Page 368 - Revista da Armada
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Ásia, meio milénio na idade Gâmica
Ásia, meio milénio na idade Gâmica
Na Sorbonne, um americano fala de Vasco da Gama
4ª Parte
a Sorbonne, Universidade de Paris, de 11 a 14 de exclusiva de Portugal. Boorstin foi mais longe na valoriza-
Maio deste ano de 1998, realizou-se a Conferência ção do contributo de Portugal, ao considerá-lo como um
NInternacional de Paris, subordinada ao tema Vasco da dos três pilares do engrandecimento da Civilização
Gama e a Índia. O célebre historiador norte-americano Ocidental, Civilização a que o seu país, a América, também
Daniel J. Boorstin proferiu uma conferência com o título pertence: A ascensão da Civilização Ocidental que co-
“Vasco da Gama e a Descoberta do Mar”. meçou com a “Glória que foi a Grécia” e a “Grandeza que
Ao longo de toda a sua comunicação Boorstin expôs as foi Roma”, atinge todo o mundo com a “Aventura que foi
razões da valorização do empreendimento português, não Portugal”... O que a Acrópole representa como símbolo da
se preocupando com a enumeração de factos. glória ateniense e o que o Fórum era para o poder imperial
Começou por falar das viagens de Colombo e de Vasco da romano, os remotos entrepostos de Goa e Malaca foram-no
Gama para dizer que são incomparáveis, em objectivos, em para a grandeza de Portugal.
tempos, em distâncias, em dificuldades e em consequên- Recorda ainda que as capitais da Cultura Europeia,
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como fizeram Vasco da Gama e os seus seguidores, D. Fran- gueses, estamos certos que, tal como o mundo não deixa de
cisco de Almeida, Afonso de Albuquerque, o próprio Vice- referir a importância das culturas da Antiguidade Clássica,
-Rei Vasco da Gama e D. João de Castro. também o modo como Portugal marcou a evolução do
Aliás, os espanhóis, comemoram quase exclusivamente os mundo nos séculos XV e XVI jamais se apagará dos registos
seus conquistadores e não os navegadores. da História.
Sabemos que um dos grandes méritos das navegações por- No número de Novembro de 1993 da Revista da Armada,
tuguesas, quer ao serviço da Coroa de Portugal, quer ao no artigo “Os Descobrimentos Portugueses na Literatura
serviço da Coroa de Espanha, como Fernão de Magalhães, Estrangeira”, já tinha sido feita referência a obras deste his-
foi corrigir a forma do mundo imaginada nas cartas antigas, toriador, assim como às de C. R. Boxer e Paul Kennedy.
mostrando que os continentes eram descontínuos, tendo a É muito agradável notar que o mais famoso historiador do
continuidade do mar como único elo de ligação. Novo Mundo, ou os que sendo de língua inglesa são mais
Com a simplicidade e o destemor de quem acredita na lidos no Novo Mundo, não se deixaram ofuscar pelo feito
verdade que afirma, Boorstin diz que os navegadores por- de Colombo nem pela ascensão do poderio naval britânico
tugueses descobriram a dimensão da ignorância Ocidental e e não esqueceram o mérito muito superior das navegações e
que Portugal legou ao Mundo o conhecimento geográfico, o também da expansão portuguesa.
espírito de empresa e o espírito de aventura. A “capacidade de comemorar” por parte dos países liga-
Depois, concorda que o mar, ao contrário da terra, pode dos quer à origem quer ao destino da viagem do Colombo,
ser atravessado mas não possuído e o mar provou ser a via sem dúvida que foi maior.
para todas as partes. E todo o continente americano se associou às comemo-
Foi referido mais do que uma vez em artigos publicados rações, embora Colombo não tenha tocado o continente e,
anteriormente sobre este tema, nesta e noutras publicações, insistisse sempre em afirmar que tinha estado onde nunca
que as navegações portuguesas constituíram a primeira fase chegou.
da globalização de que hoje tanto se fala, uma realização Boorstin acrescenta: Colombo prometeu uma mina de
única da Civilização Ocidental, conseguida por iniciativa ouro e apenas encontrou uma região selvagem.
6 DEZEMBRO 98 • REVISTA DA ARMADA