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Operação Falcão:
                                     Operação Falcão:

                A “Corte Real” na Guiné-Bissau
                A “Corte Real” na Guiné-Bissau



         O N.R.P. “Corte Real”              ais em curso, garantindo o apoio logístico  23 de Julho, embarcou, ao largo da ilha do
         largou da Base Naval de            ao Grupo de Contacto da Comunidade dos  Sal (Cabo Verde), por helicóptero, o GC
                                                                               constituído pelos Ministros dos Negócios
                                            Países de Língua Portuguesa (GC-CPLP), e
         Lisboa a 17 de Julho para          assegurando assim uma plataforma de  Estrangeiros de Cabo Verde (que detinha
         executar uma missão que            apoio que permitisse criar um clima de con-  a presidência), Portugal, Moçambique e S.
         não tinha data de regresso.        fiança necessária às acções diplomáticas em  Tomé e Príncipe, pelo Embaixador de
                                                                               Angola em Portugal, pelo Director dos
                                            curso.
         Foi destacada para o Teatro          Foi assim estabelecida uma estreita li-  Assuntos Africanos do Ministério das
         de Operações da                    gação de coordenação com o Ministério dos  Relações Exteriores do Brasil e ainda por
         Guiné-Bissau na sequência          Negócios Estrangeiros em Portugal, de  um diplomata da Direcção-Geral de
                                            forma a acompanhar a par e passo o desen-
                                                                               Política Externa do MNE português. Este
         do conflito armado que ali         rolar das negociações de paz e por con-  GC viria a ser reforçado nas rondas se-
         deflagrava. Serviu de palco        seguinte, apoiá-las nas alturas cruciais.  guintes pelo Ministro do Interior de
                                                                               Angola e por um assessor militar brasi-
         para as negociações de paz         AS OPERAÇÕES                       leiro.
         entre as partes envolvidas         DE APOIO INICIAIS                    Nos dias 24 e 25 de Julho, foram efec-
         no conflito, mediadas pela                                            tuadas diversas operações de voo pelos
                                                                               helicópteros da Corte-Real, T-Rex e Sabre,
         Comunidade dos Países de             No dia 22 de Julho, a “Corte Real” reali-  transportando os elementos do GC-CPLP
         Língua Portuguesa, e ficou         zou a Operação Vitalis, que consistiu no  nos contactos que efectuaram com as
                                            desembarque de pessoal (funcionário diplo-
         a ser conhecida localmente         mático e jornalistas), mantimentos e mate-  partes envolvidas no conflito, inicialmente
                                                                               na sede do Governo e no Estado-Maior da
         como a “Fragata da Paz”,           rial diverso para a EPB e para a Cooperação  Junta Militar, depois a bordo, sendo aqui
                                            Técnico-Militar. Esta operação decorreu
         pelo sucesso alcançado                                                possível realizar o primeiro encontro
                                                                               directo entre as partes. De referir, que se
         nessas conversações.
                                                                               iniciaram nesta missão operações aéreas
                                                                               envolvendo os dois helicópteros em
                o dia 7 de Junho de 1998, eclodiu
                na República da Guiné-Bissau um                                simultâneo, obrigando a uma complexa
         N conflito armado, opondo um                                          coordenação destes na partilha de um só
         grupo das Forças Armadas guineenses                                   convés de voo, de forma a não existirem
         autodenominados Junta Militar ao Go-                                  quebras no ritmo das acções diplomáticas
         verno. Na sequência deste conflito, houve a                           em curso. De acrescentar ainda que, pela
         necessidade de apoiar as operações de eva-                            primeira vez foram efectuadas operações
         cuação dos cidadãos nacionais surpreendi-                             de voo nocturnas sobre o território da
         dos pela violência dos combates, tendo sido                           Guiné-Bissau, especialmente em locais
         enviada uma Força Naval, composta para o                              não preparados. A Operação Atlantis ter-
         efeito, pelos N.R.P. “Vasco da Gama”,                                 minou no dia 27 de Julho, com o desem-
         N.R.P. “João Coutinho”, N.R.P. “Honório                               barque do GC-CPLP na ilha do Sal, por
         Barreto e N.R.P. “Bérrio”, no âmbito do pla-                          helicóptero.
         no de contingência “Crocodilo”.
           Esta Força Naval esteve presente no Tea-                            A ASSINATURA DO MEMORANDUM
         tro de Operações (TO) até 21 de Julho, data                           DE ENTENDIMENTO
         a partir da qual foi decidido efectuar uma
         redução do dispositivo naval na área.                                   Foi esse o momento mais alto da missão
           Foi assim superiormante decidido desta-  Desembarque de pessoal e material nos botes   da “Corte Real”. No decurso da primeira
         car o N.R.P. “Corte Real” para o TO, tendo  em Bissau.                ronda de negociações mediada pelo GC-
         sido efectuada a rendição, e consequente  com o navio fundeado em frente a Bissau  CPLP (no decurso da Operação Atlantis),
         passagem de informações, no dia 21 de Ju-  tendo corrido bem apesar dos combates em  após grandes expectativas criadas em torno
         lho, no Atlântico, numa posição a cerca de  curso entre as forças governamentais e a  das mesmas, e quando por alguns momen-
         300 milhas a nordeste do arquipélago de  autodenominada Junta Militar.   tos parecia pairar o espectro do fracasso, as
         Cabo Verde.                          Durante esta operação foram obser-  partes envolvidas no conflito chegaram a
                                            vadas duas salvas de duas granadas, pos-  um acordo que culminou com a assinatura
         A MISSÃO                           sivelmente de morteiro, que caíram na  de um Memorandum de Entendimento,
                                            água a cerca de 1000 metros do navio, sem  que estabelecendo as tréguas no conflito,
           Foi atribuído ao N.R.P. “Corte Real” a  qualquer consequência.      abriram assim a porta a futuras negociações
         missão de apoiar a Embaixada de Portugal  Concluída esta operação, a “Corte Real”  de paz, vislumbrando-se desta forma uma
         em Bissau (EPB) e assegurar uma presença  demandou a saída do rio Geba, iniciando  perspectiva de resolução diplomática das
         naval mínima no TO, tendo sido atribuída a  a Operação Atlantis que consistia no apoio  hostilidades em curso.
         designação de Operação Falcão. No âmbito  logístico ao GC-CPLP, na sua primeira  Este Memorandum revelou-se fulcral
         desta missão, foi ainda determinado que a  ronda negocial em prol de uma solução  pois pela primeira vez se calaram as armas,
         “Corte Real” apoiasse as iniciativas negoci-  negociada para o conflito. Assim, no dia  dando lugar às negociações.

         10 DEZEMBRO 98 • REVISTA DA ARMADA
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