Page 372 - Revista da Armada
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Operação Falcão:
Operação Falcão:
A “Corte Real” na Guiné-Bissau
A “Corte Real” na Guiné-Bissau
O N.R.P. “Corte Real” ais em curso, garantindo o apoio logístico 23 de Julho, embarcou, ao largo da ilha do
largou da Base Naval de ao Grupo de Contacto da Comunidade dos Sal (Cabo Verde), por helicóptero, o GC
constituído pelos Ministros dos Negócios
Países de Língua Portuguesa (GC-CPLP), e
Lisboa a 17 de Julho para assegurando assim uma plataforma de Estrangeiros de Cabo Verde (que detinha
executar uma missão que apoio que permitisse criar um clima de con- a presidência), Portugal, Moçambique e S.
não tinha data de regresso. fiança necessária às acções diplomáticas em Tomé e Príncipe, pelo Embaixador de
Angola em Portugal, pelo Director dos
curso.
Foi destacada para o Teatro Foi assim estabelecida uma estreita li- Assuntos Africanos do Ministério das
de Operações da gação de coordenação com o Ministério dos Relações Exteriores do Brasil e ainda por
Guiné-Bissau na sequência Negócios Estrangeiros em Portugal, de um diplomata da Direcção-Geral de
forma a acompanhar a par e passo o desen-
Política Externa do MNE português. Este
do conflito armado que ali rolar das negociações de paz e por con- GC viria a ser reforçado nas rondas se-
deflagrava. Serviu de palco seguinte, apoiá-las nas alturas cruciais. guintes pelo Ministro do Interior de
Angola e por um assessor militar brasi-
para as negociações de paz AS OPERAÇÕES leiro.
entre as partes envolvidas DE APOIO INICIAIS Nos dias 24 e 25 de Julho, foram efec-
no conflito, mediadas pela tuadas diversas operações de voo pelos
helicópteros da Corte-Real, T-Rex e Sabre,
Comunidade dos Países de No dia 22 de Julho, a “Corte Real” reali- transportando os elementos do GC-CPLP
Língua Portuguesa, e ficou zou a Operação Vitalis, que consistiu no nos contactos que efectuaram com as
desembarque de pessoal (funcionário diplo-
a ser conhecida localmente mático e jornalistas), mantimentos e mate- partes envolvidas no conflito, inicialmente
na sede do Governo e no Estado-Maior da
como a “Fragata da Paz”, rial diverso para a EPB e para a Cooperação Junta Militar, depois a bordo, sendo aqui
Técnico-Militar. Esta operação decorreu
pelo sucesso alcançado possível realizar o primeiro encontro
directo entre as partes. De referir, que se
nessas conversações.
iniciaram nesta missão operações aéreas
envolvendo os dois helicópteros em
o dia 7 de Junho de 1998, eclodiu
na República da Guiné-Bissau um simultâneo, obrigando a uma complexa
N conflito armado, opondo um coordenação destes na partilha de um só
grupo das Forças Armadas guineenses convés de voo, de forma a não existirem
autodenominados Junta Militar ao Go- quebras no ritmo das acções diplomáticas
verno. Na sequência deste conflito, houve a em curso. De acrescentar ainda que, pela
necessidade de apoiar as operações de eva- primeira vez foram efectuadas operações
cuação dos cidadãos nacionais surpreendi- de voo nocturnas sobre o território da
dos pela violência dos combates, tendo sido Guiné-Bissau, especialmente em locais
enviada uma Força Naval, composta para o não preparados. A Operação Atlantis ter-
efeito, pelos N.R.P. “Vasco da Gama”, minou no dia 27 de Julho, com o desem-
N.R.P. “João Coutinho”, N.R.P. “Honório barque do GC-CPLP na ilha do Sal, por
Barreto e N.R.P. “Bérrio”, no âmbito do pla- helicóptero.
no de contingência “Crocodilo”.
Esta Força Naval esteve presente no Tea- A ASSINATURA DO MEMORANDUM
tro de Operações (TO) até 21 de Julho, data DE ENTENDIMENTO
a partir da qual foi decidido efectuar uma
redução do dispositivo naval na área. Foi esse o momento mais alto da missão
Foi assim superiormante decidido desta- Desembarque de pessoal e material nos botes da “Corte Real”. No decurso da primeira
car o N.R.P. “Corte Real” para o TO, tendo em Bissau. ronda de negociações mediada pelo GC-
sido efectuada a rendição, e consequente com o navio fundeado em frente a Bissau CPLP (no decurso da Operação Atlantis),
passagem de informações, no dia 21 de Ju- tendo corrido bem apesar dos combates em após grandes expectativas criadas em torno
lho, no Atlântico, numa posição a cerca de curso entre as forças governamentais e a das mesmas, e quando por alguns momen-
300 milhas a nordeste do arquipélago de autodenominada Junta Militar. tos parecia pairar o espectro do fracasso, as
Cabo Verde. Durante esta operação foram obser- partes envolvidas no conflito chegaram a
vadas duas salvas de duas granadas, pos- um acordo que culminou com a assinatura
A MISSÃO sivelmente de morteiro, que caíram na de um Memorandum de Entendimento,
água a cerca de 1000 metros do navio, sem que estabelecendo as tréguas no conflito,
Foi atribuído ao N.R.P. “Corte Real” a qualquer consequência. abriram assim a porta a futuras negociações
missão de apoiar a Embaixada de Portugal Concluída esta operação, a “Corte Real” de paz, vislumbrando-se desta forma uma
em Bissau (EPB) e assegurar uma presença demandou a saída do rio Geba, iniciando perspectiva de resolução diplomática das
naval mínima no TO, tendo sido atribuída a a Operação Atlantis que consistia no apoio hostilidades em curso.
designação de Operação Falcão. No âmbito logístico ao GC-CPLP, na sua primeira Este Memorandum revelou-se fulcral
desta missão, foi ainda determinado que a ronda negocial em prol de uma solução pois pela primeira vez se calaram as armas,
“Corte Real” apoiasse as iniciativas negoci- negociada para o conflito. Assim, no dia dando lugar às negociações.
10 DEZEMBRO 98 • REVISTA DA ARMADA