Page 371 - Revista da Armada
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radares do navio. Começou jecto de voo superior a 20 mi-
então a contagem decrescente lhas. Acontece que esta distância
para o lançamento que iria acon- foi ultrapassada, tendo o navio
tecer alguns segundos depois. português aberto fogo com a
Com o alvo a cerca de cinco mi- peça de artilharia, assim que teve
lhas, o comandante autorizou o míssil dentro do alcance desta
que fosse feito fogo, e o disparo arma. Os registos feitos (grava-
foi realizado. Começou então dos) pelo radar de tiro do “PHA-
nova contagem decrescente, LANX” provaram que caso o
desta vez para o ponto de im- míssil não tivesse mergulhado a
pacte. O centro de operações, cerca de 4 milhas da força, teria
completamente guarnecido, per- sido atingido pelo nosso fogo.
manecia em silêncio absoluto, só Outro importante exercício
se ouvindo a contagem dos realizado, foi o disparo do
segundos por parte do operador “CIWS PHALANX” contra um
do sistema de armas. O treino de alvo aéreo rebocado a cerca de
dois meses tinha chegado ao fim 800 km/h. Ao entrar no “enve-
com óptimos resultados, o míssil lope” desta arma, o alvo foi ime-
passou a menos de um metro do diatamente adquirido e o fogo
alvo, o que numa situação real realizado provocou a sua destrui-
significaria a sua destruição com- ção física. Má sorte a do navio
pleta. O exercício mais com- holandês que estava preparado
plexo estava realizado, mas falta- para realizar fogo após o nosso Sequência do disparo do míssil SEASPARROW.
va ainda mais de um mês de tra- navio que teve que cancelar esta destes dois furacões, que poucos
balho para o dia da chegada a série por falta de alvo. Outro Para o porto de Mayport esta- dias depois já seriam três,
Lisboa. exercício de fogo real, também va prevista a segunda paragem estavam constantemente a che-
Nos dias seguintes, e ainda na inédito para a guarnição, foi rea- para manutenção durante a gar a bordo. Assim, a opção foi
área de operações de Puerto lizado nesta área, mais concreta- nossa integração, pelo que a seguir para Sul durante três dias e
Rico, foram realizados uma série mente na ilha de Vieques, e con- estadia prevista era de 18 dias. depois a Este a grande veloci-
de exercícios de tiro de grande sistiu em fogo real de artilharia Por este motivo, vários ele- dade por forma a passar safos
interesse e com resultados bas- de 100 mm, contra alvos em ter- mentos da guarnição aprovei- entre os dois furacões, de seus
tante satisfatórios, não só indi- ra. Também aqui os resultados taram para passar alguns dias nomes “Bonnie” e Daniele”.
cadores do bom desempenho da foram bastante satisfatórios e com a família nas praias quentes Estávamos agora a 15 de Setem-
guarnição, como também do apreciados por parte dos nossos da Florida, ou na famosíssima bro, e 14 dias após a força ter lar-
bom desempenho das armas e camaradas dos restantes navios cidade de Orlando, com os seus gado da Florida chegávamos a
sensores que equipam esta classe da força. não menos famosos parques de Ponta Delgada, na ilha de S. Mi-
de navios. No dia 4 de Agosto a SNFL diversões. guel.
O primeiro que importa referir, abandonou a área de Puerto Este período relaxante viria a A SNFL largou deste, que seria
aconteceu logo após o disparo Rico com destino a Mayport na acabar duma forma repentina, o nosso último porto de escala
do míssil. Do navio alemão Florida, onde viríamos a chegar uma vez que devido a um fura- nesta missão, a 5 de Setembro, e
F.G.S. “Bayern”, que se encon- dia 7 de Agosto. Tinha termina- cão que se formava e dirigia para atracou na doca de Alcântara na
trava estacionado 25 milhas a do um período de 14 dias de a Florida, a força teve que sair de manhã do dia 7. No cais espe-
norte da força, foi lançado um treinos intensos, em que se ti- imediato para o mar, não fican- ravam-nos centenas de familia-
míssil “Exocet” (míssil superfície- nham obtido óptimos resultados do assim neste porto o tempo res, de tal forma que foi preciso
superfície). Este míssil foi lançado e várias lições aprendidas, quer previsto. Uma vez mais foi pre- pedir através dos altifalantes para
na direcção da força, estando para o navio, quer para a Mari- ciso explicar aos nossos familia- o exterior para que todas as pes-
previsto que não tivesse um tra- nha Portuguesa. res que tinham ido passar estes
dias à Florida, que na vida de soas recuassem um pouco, de
Marinha é muito difícil fazer pro- modo que os cabos de amar-
jectos a mais de 24 horas, pois ração e a prancha fossem passa-
os imprevistos estão constante- dos para terra.
mente a acontecer, e embora nós Quatro meses e meio haviam
já estejamos habituados, às vezes passado desde a nossa saída de
é difícil explicar às pessoas de Lisboa, quatro meses e meio em
quem gostamos que esta nossa que muita coisa se passou e que
profissão é diferente das outras. para o resto das nossas vidas,
Foram ouvidas frases como esta ficarão, como é nosso timbre,
dita por familiares nossos: “Não óptimas recordações e histórias
percebo qual é a lógica, aproxi- para contar desta nossa participa-
ma-se um furacão e vocês em ção na SNFL 98.
vez de ficarem em terra saem O N.R.P. “Álvares Cabral”
para o mar?”. cumpriu 1256 horas de navega-
Efectivamente, ficou provado ção, percorrendo 16985 milhas
que foi sem dúvida a decisão (cerca de 31500 Km), visitou 11
mais acertada ter largado de portos e recebeu a bordo 18284
Mayport no dia 22 de Agosto, visitantes durante os 130 dias de
pois outro furacão estava agora missão.
em formação. As mensagens
sobre as posições e evolução
Operação de Boarding (equipa de segurança a ser inserida por fast-rope). (Colaboração do NRP “Álvares Cabral”)
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