Page 390 - Revista da Armada
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BIBLIOGRAFIA
“Imagens da I Guerra Mundial”
(Estado-Maior do Exército)
ue seja pecado ou não, foi sempre característico do homem Era o Be-à-bá do
Qgermânico ganhar ascendente sobre outros povos, vindo na que depois havia de
História moderna dos tempos das questões com a Austria e com viver no terreno o au-
a França a querer mandar na Europa (pelo menos). Chefes mais têntico C.E.P.
prudentes como Bismark puderam amenizar temporariamente Fotos do embarque,
aquela força da Natureza, mas outros, como Hitler, despedidas, mulheres
aproveitaram-se dela para a canalizarem, qual água de açude, de xaile e lenço, umas,
para domínios ambiciosos e efectivos. de chapéu, casaco e
Na guerra de 14/18, o atentado de Serajevo contra Francisco vestido comprido até
Fernando, herdeiro do Império Austro-Hungaro, e sua mulher a aos pés, outras. Uni-
Arquiduquesa Sofia foi à força deliberadamente aproveitado formes ainda bem
pelos teutões para desencadearem um conflito que assumiria alinhados.
proporções até aí não experimentadas, de tal modo que ficou Navios no cais de
conhecido simplesmente como a Grande Guerra. Sta. Apolónia.
25 anos depois, já muitos de nós éramos nados e criados, Depois, França,
outra “Grande Guerra” nasce também daquela propensão da aquartelamento, um
Alemanha para a briga, e, como soe dizer-se, se o adágio se “típico” soldado por-
confirma que “não há duas sem três” o futuro dirá aos que tuguês (diz a legenda)
viverem. – capacete inclinado
Na primeira Grande Guerra, por motivos que a História já para a banda, à fadis-
revelou sem grande controvérsia, Portugal também interveio. ta, paivante descaído do beiço, a mão esquerda por cima da
Sem preparação – desde que conquistáramos o nosso can- boca da espingarda. (Será mesmo típico? Nas cento e trinta e
tinho que éramos um povo pacífico, mais poetas e fadistas que sete restantes fotografias não encontrámos mais nenhuma com
guerreiros, salvo quando nos pisavam os calos - mandámos, tal atitude “típica”).
ainda assim, uns 40 mil homens para os campos europeus onde Embora o título do livro seja “Imagens”...” donde seria lícito
a guerra se dirimia, e 50 mil para África, até onde as hostilidades deduzir que o texto não passaria de complemento, a dimensão
tinham chegado, e era lícito pensar que mais nos poderiam afec- deste não exclui pela sua extensão a hipótese de ele valer por si,
tar e à nossa fazenda. Só na Flandres deixámos cerca de 2.000 com muita e sugestiva companhia fotográfica. Vale, pois, por
mortos e em África 4.000, tendo aqui muitos caído por doença, texto com vasta documentação fotográfica, mas vale também
mas nunca com vergonha. como album com desenvolvidas legendas. Contornando aquele
São aspectos desta luta que aparecem agora num livro editado extrapolar do sapateiro que subiu acima da chinela, sempre
pelo Estado-Maior do Exército como “memória” dos caídos. deixaríamos a opinião de ser louvável tal forma de divulgação
Começa o livro com fotografias da preparação do Corpo de um desempenho que merece ser conhecido fora da “família”.
Expedicionário em Tancos, onde se chamou Divisão de E ao Estado-Maior do Exército os agradecimentos da R. A. pela
Instrução. oferta.
“SOLDADOS”
altar, no tempo, da 1ª Grande Guerra para a actualidade, é O livro “Soldados” pretende obviamente trazer-nos uma
Smágica, em termos visuais, que o Exército Português, pela mensagem agradável e convincente das actividades militares
sua Secção de Informação Protocolo e em teatros de terra e do ar, vários níveis
Relações Públicas, do Estado- Maior, de escolas de preparação, veículos de
acaba de efectuar entre os meses de combate, armas, helicópteros, descidas e
Maio e Julho de 1998. escaladas de montanhas, paraquedismo,
De tal modo se aproximam no tempo decorrendo no interior de quartel, no
as edições dos dois belos exemplares de exterior de bosque, de pantanal ou de
divulgação, que acabam por aparecer neve. Sejam quais forem as circunstân-
aqui juntos, na mesma rubrica e página cias, o nome de Homem Cardoso deixa
da R.A.. As “Imagens da I Guerra uma assinatura de imagem e de trata-
Mundial” são, por força dos originais, a mento do motivo que podemos dizer de
preto e branco, as do actual “Soldados”, qualidade insuperável.
como resultam dos avanços fotográficos Imagens muito perfeitas e aliciantes, as
da cor, enchem o livro, e os nossos respectivas legendas e textos curtos (ape-
olhos, de uma ambiência mais realista. nas os indispensáveis para introdução
E, se o preto e branco calha bem com aos diversos capítulos e dobrados em
as circunstâncias ambientais de guerra, inglês) fazem este livro.
num impacte até de adequado ou De qualquer livro se deve exigir que
implícito dramatismo, a cor é, quan- cumpra determinada função; no caso
tum satis, o veículo do que se pretende vertente: dar conta de, esclarecer, aliciar.
exaltar. Este, com certeza, cumpre.
28 DEZEMBRO 98 • REVISTA DA ARMADA