Page 123 - Revista da Armada
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pações de defesa do seu espaço de
influência, os interesses económicos da
Austrália estavam materializados no
financiamento concedido à Companhia
Ultramarina de Petróleos que detinha o
exclusivo de pesquisas na zona leste da
ilha. A História parece repetir-se, serão
os interesses petrolíferos que quatro
décadas mais tarde levarão a Austrália a
reconhecer a integração de Timor Leste
na Indonésia, cite-se o acordo petrolífero
relativo ao Timor-Gap.
A Holanda estava preocupada em
manter a sua presença nas Índias
Orientais, futura Indonésia e os japone-
ses, por seu turno, desenvolviam a sua
expansão na Ásia/Pacífico e em Timor
detinham 40% do capital da mais impor-
tante empresa, a Sociedade Pátria e
Trabalho, cujo objectivo era o incremen-
to da produção do café com vista a
tornar o território um importante expor-
tador daquele produto. Com a ocupação Palácio do Governador - Lahane.
sibilitada de as substi- em Lahane, actualmente muito degradada
tuir de imediato por um devido às destruições levadas a cabo
contigente nacional pelas milícias pró-indonésias em
como forma de garantir Setembro de 1999. Apesar de detido, o
a neutralidade. capitão Ferreira de Carvalho não
Entretanto apesar da regatearia esforços para obter compromis-
nossa diplomacia de- sos dos invasores a respeitar a soberania
senvolver hábeis nego- portuguesa.
ciações junto dos alia- Alguns timorenses das gerações com
dos e quando uma força mais de 50 anos ainda hoje, de viva voz
naval portuguesa estava e em bom português, testemunham as
prestes a chegar a Díli, provações sofridas durante a II Guerra
já tinham sido estabele- Mundial, tendo tido o signatário desta
cidas comunicações rá- crónica o ensejo de comprovar esse facto
dio com a mesma, os quando ao fotografar a estátua do
Pôr do Sol em Timor. japoneses desembar- Engenheiro Artur do Canto de Resende,
caram na noite de 19 para na marginal de Díli, dele se acercou um
aliada a soberania portuguesa foi se- 20 de Fevereiro de 1942, na baía de ancião timorense que narrou, ali mesmo,
riamente abalada, incapaz de evitar o Tibar, a escassos 7 Km a Oeste de Díli. É alguns episódios de tenaz resistência le-
envolvimento de forças estrangeiras na a 2ª invasão! vada a cabo por este engenheiro que
defesa do território e igualmente impos- Após o desembarque japonês, aus- desempenhou o cargo de administrador
tralianos e holandeses deslocam-se para de Díli num período muito crítico e mor-
Timor Ocidental desenvolvendo acções de reu sob cativeiro japonês em Fevereiro de
guerrilha nos distritos junto à fronteira e 1945.
mais tarde, perante o forte poder nipónico,
embarcam para a Austrália. Cerca de
50.000 timorenses foram mortos quando
auxiliavam a guerrilha aliada ou apoiavam
logisticamente Liquiçá, vila em que estavam
confinados, por imposição dos invasores, os
portugueses e onde ainda hoje se encontra
um monumento alusivo ao facto.
Para homenagear os heróis portugueses
e timorenses que resistiram ou morreram
no decurso da ocupação japonesa foram
erguidos vários memoriais que generica-
mente ainda hoje se encontram em
razoável estado de conservação. De
salientar a existência de uma placa à beira
da estrada Díli-Aileu que demonstra o
reconhecimento dos australianos pelo sa-
crifício dos timorenses. Infelizmente anos
mais tarde esqueceram-se desta dívida!
Monumento aos mártires da ocupação estrangeira - O governador português ficou então
Liquiçá. sob prisão domiciliária na sua residência Monumento ao Eng.° Artur Resende - Díli. ✎
REVISTA DA ARMADA • ABRIL 2001 13