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Crónica de Timor
Crónica de Timor
Novos fuzileiros “desembarcam” em Same
om o “desembarque” no passado território de Timor) e as 3 horas de
dia 1 de Março dos últimos mi- viagem até Dili (em viaturas de carga
Clitares da “3ª Força FZ – Timor” misturados com mochilas e material
na vila de Same, ficou concluído o esta- diverso), apetecia desembarcar indo ao
cionamento no teatro de operações desta encontro de terra firme, antes que a
força, constituída basicamente por uma “ondulação rodoviária” pregasse algu-
Companhia de Fuzileiros (CF) e por um ma partida a marinheiro menos habitua-
Grupo de Comando, agora integrado no do a estes balanços.
Estado-Maior do 2º Batalhão de Infan- Era já noite em Dili: o calor e a humi-
taria da Brigada Ligeira de Intervenção dade, a diferença horária (8 horas em
(2ºBI/BLI). relação a Lisboa), o cansaço e o frenesim
da procura da baga-
gem e do lugar para
ficar deixaram estes
homens bastante fati- Subidas ladeadas por profundas escarpas.
gados e com pouca
vontade de dormir. sofrer muito para a conseguir vencer.
No dia seguinte, Chegar a Same, foi chegar ao Céu... foi
nova aventura teria chegar a casa!
lugar, desta feita a É exactamente esta estrada, que para
viagem entre Dili e cumprimento da missão teremos de percor-
Same, um percurso rer várias vezes, o tema escolhido para
curto de 115 Kms que abordar nestas linhas. Assim, há dias, tendo
nos ensinou, desde de me deslocar a Dili numa missão de liga-
logo, a usar outra me- ção, muni-me do equipamento necessário e
dida para o definir: o fui captando, aqui e ali, as imagens que pre-
tempo. Foram 7 horas tendo retractem, não só as dificuldades
de estrada esburacada encontradas, mas também a paisagem que,
Habitação Timorense. (há pouco alcatrão por diga-se em abono da verdade, quase elimi-
estes lados!), estreita, na por completo qualquer comentário
O signatário desta crónica, como fu- atravessando o monte Ramelau muito menos optimista:
zileiro mais graduado, desempenha tam- sinuosa, com grandes subidas e iguais Deslumbrante, sempre luxuriante... dife-
bém a função de Oficial de Ligação de descidas ladeadas de profundas rente!
Marinha e, com uma equipa constituída escarpas. Diz o Padre Gelásio, autori- Saímos de Same, eram 8 horas da manhã.
por um sargento e duas praças, exerce dade religiosa em Same, que esta é a À nossa frente, o Cabelaq, uma serra
ainda a tarefa de “Civil and Military “estrada dos Cristãos”, porque se tem de altaneira à Vila, quase sempre com o cume
Affairs Officer (CMA Officer)” encoberto pelas nuvens. É a
no Distrito de Manufahi. primeira dificuldade a vencer:
Propositadamente, optei - As nossas velhas viaturas já
por esta apresentação pessoal não ajudam muito.
porque, é nesta qualidade e Cerca de duas horas depois à
no exercício destas funções frente (em linguagem quilo-
que tenciono, nos próximos métrica, aproximadamente 35
seis meses dar continuidade à Kms), encontramos a primeira
“Crónica de Timor”. bifurcação. Nela, duas placas
A missão atribuída a esta onde se lê:
CF foi a continuação da que - Same 32 Kms, Ainaro 26
estava a ser desempenhada Kms.
pela sua antecessora, a CF nº 23, Porquê, só duas horas depois,
isto é, ficando colocada em alcançámos esta posição? A
Same, manter as posições resposta não está, garantida-
destacadas de Alas (Sub- mente, no fluxo de trânsito:
Distrito) e do R2 (Repetidor - Apenas encontrámos uma
de comunicações situado no viatura da UNTAET e não mais
Russulau). que meia dúzia de veículos de
Ignorando, para já, as 23 transporte público a que nós,
horas a bordo do mesmo por gracejo, designámos de
avião, as 4 horas de espera no “TPMUITOS”.
aeroporto de Baucau (já em Em frente a montanha. Assim, só descubro uma
20 JULHO 2001 • REVISTA DA ARMADA