Page 236 - Revista da Armada
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O Jolie Brise, em 1988. Largada para a regata Cutty Sark/Vasco da Gama Memorial.
uma das mais importantes manifestações do agora, os percursos são mais alargados, para que a embarcação possa sair do país.
mundo da vela. O percurso não é ambi- estendendo-se ao outro lado do Atlântico. LGL recorre a Pinheiro de Azevedo, então
cioso. A regata faz-se de Torbay a Lisboa e o Na de 1964, os navios largam de Lisboa, Chefe do Estado Maior da Armada, o
vencedor é o Moyana, do Reino Unido. escalam as Bermudas e vão até Nova qual, na sua presença, chama um dos aju-
Dois anos depois, de Brest a Las Palmas, é a Iorque. Vence o navio norueguês Christian dantes e, na linguagem que foi um dos
Sagres I, com o comandante Dentinho, já Radish. seus grandes atributos, manda passar a
participante na primeira regata, que irá rece- Voltemos ao Jolie Brise. Os parceiros indispensável credencial.
ber a taça. No ano de 1960, quando se proprietários vão-se desinteressando da O Jolie Brise segue então para Inglaterra
comemora o V Centenário da morte do vela e LGL acaba por ficar como único e faz base em Cowes, na ilha de Wight.
Infante D. Henrique, os tall ships tomam dono deste famoso veleiro. Assume as Após a chegada, passa-se um episódio
parte no grandioso desfile que se realizou funções de presidente da Associação curioso. Como a embarcação tem um
em Sagres. Naval de Lisboa, por um largo período de grande fogão que serve não só para cozi-
Todavia, estas regatas tinham, e conti- dez anos e passa a utilizar o seu próprio nhar, como para aquecimento, comodi-
nuam a ter, outras ambições. Nasceram veleiro para instrução de vela. Sesimbra é dade indispensável no Inverno britânico,
pouco depois de terminada a última agora o seu destino habitual, dado que o encomenda-se uma grande porção de
Guerra Mundial e por isso o seu objectivo aparelho do navio, muito pesado, exige antracite. O fornecedor, ao entregar o
era, também, contribuir, com uma boa uma tripulação que não é fácil de reunir carvão, comenta: “Não sabia que ainda
dose de idealismo, para que se evitassem para viagens mais longas. havia iates a vapor”.
conflitos futuros. Como ponto de honra, a Entretanto, dá-se o 25 de Abril e LGL No Verão de 1975 LGL é convidado
comissão organizadora, esforça-se para experimenta algumas dificuldades. É dis- para levar o seu veleiro para a nova mari-
que exista um grande intercâmbio entre pensado do cargo de administrador que na de Santa Catarina, junto à Torre de
as tripulações, não só nos portos visita- desempenha na Fundação Calouste Londres, onde irá servir de alojamento
dos, mas também, e especialmente, Gulbenkian e, pior, o Jolie Brise é, por aos seus filhos, enquanto cursam universi-
durante os percursos no mar. Assim, duas vezes, sujeito a tentativas de sabo- dades inglesas, e daí o seu gosto pela
durante as etapas, parte de cada uma das tagem que, só por sorte, foram impedi- prática da vela. De tal modo que um
tripulações muda de navio. A partir de das. deles, o António, seguindo as pisadas do
1974, o grande troféu desta regata será No mesmo ano de 1975, comemoram- pai é, actualmente, o presidente da
uma réplica em prata do célebre clipper -se os 50 anos da regata FASTNET e LGL Associação Naval de Lisboa.
Cutty Sark, que se entrega ao navio que é, naturalmente, convidado para estar pre- LGL passa a ter um pé lá e outro cá. De
mais tenha contribuído para criar um bom sente em Inglaterra. Mas como a situação facto, sempre que pode e nas férias vai
ambiente entre tripulações. política em Portugal está complicada é até Inglaterra e navega no seu veleiro.
As regatas de tall ships continuam mas, necessário obter autorização especial Neste país não é difícil arranjar eficientes
18 JULHO 2001 • REVISTA DA ARMADA