Page 237 - Revista da Armada
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e voluntários marinheiros amadores, para  continua a ser estimado.”    como principal objectivo desenvolver o
         manobrar o difícil aparelho do navio.  Voltemos ao tall ships. Em 1970, LGL é  gosto pela vela que considera uma activi-
         Percorre as águas da Mancha, visita os  convidado para participar no comité cen-  dade importante para a formação dos
         portos da região.                  tral da Sailing Training Association (STA),  jovens. Tal formação, tendo como base o
           Em Portugal a sua situação melhora  que acaba de ser criada. As regatas pas-  treino de mar, dá-lhes o sentido de
         para LGL. Enquanto a Fundação Gul-  sam a ter um porto português como  responsabilidade, de entreajuda e consti-
         benkian o hostiliza (só em 1979 irá  escala obrigatória. Em 1987 LGL tem a  tui uma bela válvula de escape para
         ocupar o seu lugar de administrador),  sua consagração: o governo espanhol  enfrentar os problemas do dia a dia. Além
         retoma a sua antiga função de inspector  convida-o para presidir à organização da  disso o mar e a vela são ingredientes
         geral das Obras Públicas e o Ministério  grande regata internacional Colombo que  indispensáveis para quem sonha com a
         dos Negócios Estrangeiros, por sua vez,  irá realizar-se, em 1992, com a colabo-  aventura. Mas a APORVELA pretende
         nomeia-o Presidente da Delegação para a  ração da STA.                ainda mais: quer levar a mocidade a interes-
         Recepção de Apoios Técnicos dos Países  Em 1994, efectua-se a regata em que  sar-se pela história das nossas navegações
         Europeus.                          LGL apostou fazer entrar os participantes  e dos nossos antepassados, aqueles que
           Em 1980 LGL pretende trazer o Jolie  no Douro, o que consegue, contribuindo  chegaram ousadamente às quatro partidas
         Brise para Portugal. Todavia, os custos de  para a mais espectacular concentração de  do Mundo.
         manutenção dum barco, de tais dimen-  tall ships e de pequenas embarcações,  Para alcançar estes objectivos consti-
         sões e características, subiram exponen-  jamais vista no nosso país. Foi um espan-  tuiu-se na APORVELA um grupo de tra-
         cialmente e acaba por vendê-lo ao Museu  to para quem teve a oportunidade de as-  balho que se preocupou também em
         Náutico de Exeter, no SW de Inglaterra,  sistir. Nós somos testemunha. Depois,  encontrar soluções para participar condi-
         um museu extraordinariamente dinâmico  vem a viagem comemorativa do V cen-  gnamente nas comemorações dos Desco-
         que, por curiosidade, possui a maior frota  tenário da descoberta do caminho maríti-  brimentos Portugueses. Daí nasceu a ideia
         de embarcações tradicionais portuguesas,  mo para a Índia, mas este país, lamen-  da construção de uma caravela. Não
         incluindo a última jangada de canas de  tavelmente, não participa.    houve a intenção de fazer um navio
         Porto Côvo. No contrato incluíu-se uma  Em 1985, LGL é convidado para co-  arqueologicamente igual aos do passado
                                                                               porque, sabemos bem, é escassa a do-
                                                                               cumentação respeitante a este assunto.
                                                                               Todavia, pretendeu-se construir uma
                                                                               réplica que fosse o mais possível seme-
                                                                               lhante às caravelas oceânicas para que
                                                                               constituísse um símbolo e chamasse a
                                                                               atenção dos Portugueses e do Mundo
                                                                               para o mais famoso navio dos Descobri-
                                                                               mentos.
                                                                                 Para o efeito, fazem-se aturados pes-
                                                                               quisas recorrendo a representações icono-
                                                                               gráficas mas, em especial, aos painéis de
                                                                               Santa Auta. Foi elaborado um estudo
                                                                               sobre os pontos de vista do pintor, em
                                                                               relação à representação das caravelas
                                                                               naqueles quadros, para avaliação das
                                                                               dimensões das suas obras mortas. Este tra-
                                                                               balho foi elaborado pelo engenheiro
                                                                               Rodrigues Branco, cabendo ao Dr.Manuel
                                                                               Leitão e ao comandante António Cardoso,
                                                                               os estudos respeitantes ao aparelho. O
         As instalações da APORVELA, na Doca do Terreiro do Trigo.             Contra-Almirante Rogério d’ Oliveira
                                                                               orientou e concatenou estes trabalhos,
         cláusula sugerida pelo comprador que dá  operar na organização de regatas de mul-  destinados à concepção final da traça
         a LGL a possibilidade de usar o navio um  ticascos ao longo da costa europeia, sob a  dessa réplica de uma caravela oceânica
         mês em cada ano, o que nunca aconte-  égide da Fédération International.des  da segunda metade do século XV, de que
         ceu, mas que, sem dúvida, constituiu o  Courses Océaniques e o patrocínio do  foi autor. LGL coordenou a realização de
         reconhecimento pela recuperação daque-  Conselho da Europa. Realizaram-se qua-  todo o projecto e contribuiu com a sua
         la embarcação histórica. Aliás, esta  tro regatas, todas elas escalando o nosso  experiência de vela adquirida, ao longo
         vocação irá novamente manifestar-se  país..                           de anos, no seu Jolie Brise.
         quando, passados anos, o Creoula é posto  Deixámos, para agora, a Associação  Dos estudos efectuados, considerou-se
         a navegar.                         Portuguesa de Treino de Vela, conhecida  que a caravela dos Descobrimentos boli-
           Sem Jolie Brise, LGL procura uma nova  por APORVELA. Criada, em 1980, por  nava entre 55˚ e 60˚. Curiosamente,
         embarcação. Em 1981, adquire um ketch  LGL, que tem sido o seu presidente, foi,  Daniel Boorstin, na sua famosa obra Os
         de 12 metros. É o Wilma, cujo desenho é  juntamente com a American Sailing  Descobridores, entretanto publicada,
         de Amel, famoso construtor naval francês.  Association, o primeiro parceiro estran-  chegava à mesma conclusão. A APOR-
         Com ele faz as suas férias. Vai até ao  geiro da STA. Só mais tarde, durante a últi-  VELA decide, pois, construir uma cara-
         Mediterrâneo. Será, no entanto, o seu últi-  ma década do século, se constituíram  vela.
         mo barco. Em 1998, com 84 anos, con-  organizações idênticas noutros países.
         sidera que já não tem condições para  A APORVELA, que dispõe de insta-
         andar no mar. Com mágoa, vende o   lações próprias, constituída por uma sede             A. Estácio dos Reis
         barco a um grupo de velejadores de Paço  e marina, na doca do Terreiro do Trigo,                    CMG
         de Arcos. Como consolação desabafa:  graças a facilidades concedidas pela
         “Estou satisfeito por saber que o Wilma  Administração do Porto de Lisboa, tem  (Continua no próximo número)
                                                                                       REVISTA DA ARMADA • JULHO 2001 19
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