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Pelo Douro Acima
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              proveitando a missão de fiscaliza-  e solares de so-
              ção do navio nas águas da Zona  nho a “Andori-
         AMarítima do Norte, foi solicitada a  nha” foi “voan-
         devida autorização para efectuar uma  do” pelas pacatas
         navegação que há mais de 12 anos não se  águas do Douro
         realizava por um navio da Marinha de  não passando
         Guerra e pela segunda vez na história.  despercebida às
         Navegar no Rio Douro até à cidade do  pessoas que da
         Peso da Régua.                     margem acena-
           Assim, após o aval do Comando Naval o  vam. Passada a
         navio iniciou os preparativos de uma  malograda ponte
         viagem que jamais o tempo fará esquecer.  Hintze Ribeiro, o
         Como não existem cartas naúticas oficiais  Rio começou a
         do Rio Douro, a Capitania do Douro  estreitar e a sua
         disponibilizou pranchetas de sondagens,  sinalização acen-
         bem como um Patrão do Troço do Mar  tuou-se pois exis-
         bastante conhecedor do sinuouso trajecto  tem aqui inu-
         do Rio.                            meras pedras   Navio atracado no Cais da Ribeira.
           Tratadas as formalidades das passagens nas  submersas. É no
         eclusas de Crestuma e Carrapatelo, o navio  entanto nesta zona que a navegação e a pai-  da ponte, assinaturas feitas por mastros
         soltou as amarras do Cais da Ribeira e fez-se  sagem se revelam espetaculares, com o navio  que assinalavam alguns incautos que por
         ao Rio numa fria manhã do dia de 30 de  a sulcar as águas por entre escarpas acentua-  ali passaram. (de referir que as embar-
                                                       das e estreitas, e pedras que  cações maritimo-turisticas rebatem os
                                                       surgem no meio do Rio. Após  mastros e em algumas a ponte baixa).
                                                       uma acentuada guinada para  Continuando viagem por entre solares e
                                                       bombordo surge a imponente  vinhas, o navio chegou às 14:00 à cidade
                                                       barragem do Carrapatelo com  do Peso da Régua.
                                                       a sua magestral eclusa com  Para comemorar a viagem, o navio
                                                       mais de 35 metros de altura  embandeirou em arco e ofereceu um Pôr-
                                                       (uma das maiores do mundo).  -do-Sol às entidades locais tendo contado
                                                       Assim que entramos na   com a presença do Comandante da Zona
                                                       eclusa, a colossal porta de 70  Marítima do Norte, CMG Centeno da
                                                       ton fechou-se e a caldeira  Costa. Durante a estadia, o navio foi visi-
                                                       começou a inundar-se. À  tado por varias pessoas que pelo cais pas-
                                                       medida que subiamos, o ar  seavam, muitas vislumbravam pela
                                                       fresco e húmido transformava-  primeira vez um Navio da Marinha. No
                                                       -se em quente e abafado.  dia 1 de Julho, pelas 15:00 o navio largou
         Eclusa da Barragem de Crestuma-Lever.         Após 20 minutos estávamos  da cidade do Peso da Régua e iniciou o
                                                       cerca de 50 metros acima do  regresso ao Porto e à sua actividade de
         Junho. O nevoeiro matinal que se fazia sentir,  nível médio da água do mar, a comporta  fiscalização de artes de pesca.
         transformava as belas encostas das cidades  abriu-se e a “Andorinha”
         do Porto e Gaia numas misteriosas paisagens  saiu.
         cinzentas e sombrias que se precipitavam so-
         bre o rio. A aproximação à foz do rio Sousa  POR UM PALMO
         anunciava cuidados redobrados na navegação,
         uma vez que esta área se encontra bastante  Mais adiante surge a
         assoreada, mas não o suficiente para o pe-  dúvida que me percorria
         queno calado do NRP “Andorinha” (1,80 m).  desde o início da nave-
         Após dobrar a curva da foz do rio Sousa, co-  gação – A Ponte da Pala
         mo num passe de magia, o nevoeiro desa-  com os seus escassos
         parece e surge espantosamente a barragem  7,50 metros de altura.
         de Crestuma-Lever. Entrada a eclusa em con-  Tendo a “Andorinha”
         junto com a embarcação maritimo-turística  7,45 m desde a linha de
         Douro Azul, que iria acompanhar a “Ando-  água ao topo do mastro
         rinha” nesta odisseia e fechada a comporta  foi com alguma especta-
         de jusante, o navio iniciou uma subida de  tiva que passamos por  Navio a navegar nos estreitos.
         cerca de treze metros (a maior ficaria re-  debaixo desta ponte.
         servada para mais tarde). Aberta a comporta  Para certificar  que o navio passava sem  A subida do Rio Douro revela que por
         de montante a “Andorinha” passou pela  problemas, subiu então um marinheiro ao  vezes pequenos navios fazem grandes
         primeira vez a navegar em água doce. O rio  mastro para verificar a distância à ponte.  viagens.
         encontrava-se de tal forma espelhado que  Uma vez que a barragem não se encon-
         chegava por vezes a dificultar a distinção das  trava à cota máxima o navio passou sem      João Lourenço
         margens. Por entre paisagens deslumbrantes  problemas. Estavam no entanto  debaixo                  2TEN
                                                                                       REVISTA DA ARMADA • AGOSTO 2001  5
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