Page 7 - Revista da Armada
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Marinha
                                             Marinha



           O que o Futuro nos Propõe
           O que o Futuro nos Propõe




                                                         Se no mar não fordes poderosos, tudo logo será contra nós.
                                                                                         D. Francisco de Almeida


         O AMBIENTE                         lados de Clausewitz acerca da guerra  OS RECURSOS
                                            total entre os estados.  O mundo parece
               té ao início dos anos noventa, as  estar agora a entrar num ambiente  Os governos dos países da União
               marinhas ocidentais tinham como  estratégico dominado por formas de  Europeia deixaram de poder responder
         A prioridade a guerra anti-submari-  conflito mais parecidas com as ocorridas  da forma tradicional (Keynesiana) às
         na. A Marinha soviética era fundamen-  na Europa do século XIX e não com as  dificuldades económicas desde que
         talmente uma marinha de submarinos.  lutas entre estados-nações integralmente  elegeram como objectivo vital a
         Embora possuindo porta-aviões e    mobilizados, do século XX.         adopção de uma moeda única. Os cri-
         cruzadores de grande capacidade mili-                                 térios de convergência tornaram-se
         tar, o vértice da Marinha soviética eram  Durante a guerra fria, preparámo-nos  num imperativo político para que o seu
         os submarinos nucleares estratégicos  para suster e rechaçar um eventual  país não fosse colocado no grupo dos
         (SSBN) que ameaçavam os Estados    ataque. Tudo mudou. Hoje teremos que  que não conseguiram... No entanto, a
         Unidos e a Europa Ocidental, e os sub-  nos preparar para resolver os problemas  batalha interna para continuar os pro-
         marinos de ataque que impediam as  que surgirem, tão perto da origem quan-  gramas sociais (luta contra a pobreza,
         forças navais ocidentais de perseguirem  to possível.  Da estratégia da defesa da  desemprego e exclusão social), de
         os SSBN soviéticos. Tratava-se da situa-  Europa contra o invasor soviético pas-  saúde, de educação e de infra-estru-
         ção potencial para a reedição da "bata-  sou-se a uma estratégia expedicionária,  turas, combinados com as medidas
         lha do Atlântico".                 não apenas naval, mas marítima, basea-  restritivas de acesso à moeda única,
                                            da na projecção de força, na influência  levaram à inevitabilidade da redução
           O colapso da União Soviética veio  e no apoio à política externa do Estado.  das despesas correntes do Estado e à
         modificar radicalmente este estado de  Por vezes a projecção de força pode  redução dos orçamentos menos em-
         coisas.  Vivemos hoje num mundo onde  expressar-se sob a forma de ajuda  blemáticos.
         a ameaça de guerra generalizada é  humanitária, de operações de apoio à  Os orçamentos de Defesa dos países
         reduzida, embora, paradoxalmente, haja  paz ou do auxílio em situações de  da actual zona EURO foram tomados de
         menos paz.                         calamidade ou acidente. As crises  assalto, tendo os respectivos Ministros
           Acredita-se hoje que a era das guerras  podem variar mas a resposta provém  sentido grandes dificuldades em manter
         convencionais de larga escala, iniciadas  quase sempre do mar.        o nível de despesas, para nem falar de
         pela Revolução Francesa, está a chegar  A relevância das marinhas aumentou.   aumento.  A reorganização das Forças
         ao fim e com ela a relevância dos postu-  É a chamada “aproximação ao litoral”.  Armadas tem sido adiada e o reequipa-
                                                                               mento feito a conta-gotas, inviabilizan-
                                                                               do a modernização das forças e a
                                                                               aquisição de novas capacidades nomea-
                                                                               damente as que constam da Iniciativa
                                                                               de Capacidades de Defesa (DCI) da
                                                                               NATO.

                                                                                 O século XX foi o mais sangrento de
                                                                               todos até hoje.  Enquanto a civilização
                                                                               espera que a raça humana tenha ultra-
                                                                               passado a fase de resolução de conflitos
                                                                               por meios violentos, não existem garan-
                                                                               tias de que o séc. XXI venha a ser
                                                                               menos sangrento que o precedente. A
                                                                               redução das forças armadas como divi-
                                                                               dendo da paz poderá trazer necessi-
                                                                               dades acrescidas e não exequíveis em
                                                                               tempo de crise.
                                                                                 Na última década, os recursos
                                                                               disponíveis para a defesa diminuíram,
                                                                               em termos médios, em 1/3 nos países da
                                                                               Europa Ocidental.   Em Portugal, segun-
                                                                               do o Anuário Estatístico da Defesa
                                                                               Nacional 97, as despesas de defesa em
                                                                               percentagem do PIB por habitante,
         A Fragata "La Fayette" da Marinha Francesa (e da Formosa), construída para ser furtiva.  diminuíram 27,5% entre 1991 e 1997.
                                                                                       REVISTA DA ARMADA • JANEIRO 2001  5
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