Page 8 - Revista da Armada
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Como se deduz, os meios actuais não Os estudos internacionais levados a
A retracção das despesas de defesa correspondem em alguns casos ao sis- cabo para a definição do que poderá ser
em percentagem do PIB por habi- tema aprovado. Há, pois, que substituir o escolta do futuro levam a crer que ele
tante, entre 1990 e 1997, foi:
os meios obsoletos por meios novos, ou deverá ser substancialmente diferente
- na Alemanha 43,78% mesmo usados, que correspondam às dos actuais, de que as “V. Gama” são
- na Bélgica 32,33% necessidades actuais. Os casos mais uma boa referência.
- no Reino-Unido 34,44% prementes, para além dos submarinos e As necessidades de comando e con-
navio polivalente logístico, são a subs- trolo, de protecção contra novas amea-
(fonte: Notícias da OTAN, Primavera 1998).
tituição das corvetas e patrulhas da ças, nomeadamente as decorrentes da
classe "Cacine" por patrulhas oceâni- sua utilização em águas litorais e à pro-
O PLANEAMENTO DE FORÇAS cos, e a substituição das fragatas da liferação de armas de destruição maciça
classe "J. Belo". e dos mísseis balísticos, hoje disponíveis
A manutenção permanente de
capacidades militares necessita, para
além do pessoal, da doutrina e do
treino, de um investimento continuado
em material, de modo a manter os
meios relevantes, quer por actualiza-
ção, quer por substituição. No caso da
Marinha, o elevado valor unitário dos
meios combatentes agudiza essa neces-
sidade, tornando premente um planea-
mento atempado de aquisição de novos
meios. A dependência externa em
equipamentos torna ainda mais com-
plexa a tarefa.
Para dar corpo ao planeamento militar Impressão artística da fragata proposta pelo Consórcio MEKO, que alia a modularidade à furtividade.
foi criado um processo, o Ciclo Bienal
de Planeamento de Forças, que permite, OS NOVOS MEIOS em cerca de trinta países, de apoio a
de forma iterativa, manter actualizadas operações anfíbias e de operação fora
as prioridades de investimento. Assim, Se a substituição das corvetas e patru- de área, fazem antever um conjunto de
de dois em dois anos revêem-se os do- lhas pelo patrulha oceânico não parece características de que se destacam:
cumentos estruturantes da defesa militar levantar celeumas, quer pela indubitável
e retocam-se ou corrigem-se os objec- necessidade, quer pelo reduzido custo FURTIVIDADE
tivos de forças que, após inclusão na Lei do projecto, quer ainda pelos ganhos
de Programação Militar (LPM), serão potenciais que virá trazer, já a substitui- As operações em águas litorais
financiados pelo Estado. ção das fragatas da classe “J. Belo” expõem de modo mais evidente as vul-
Para a LPM actualmente em vigor, as poderá ser mais complexa. nerabilidades dos meios navais. Por isso,
prioridades da Marinha foram atribuídas os navios do futuro disporão de assina-
à substituição dos submarinos e à Inserido na NATO desde o primeiro turas radar e de infravermelhos mais
aquisição de um navio polivalente logís- dia, Portugal tem mantido uma estratégia cuidadas. As antenas serão integradas na
tico. Como é óbvio, a recursos limitados naval que lhe tem permitido fazer face estrutura, incluindo as dos radares, e as
não poderão corresponder objectivos aos compromissos internacionais daí peças de artilharia e os lançadores dos
limitados mas sim objectivos menos advindos e, ao mesmo tempo, dispor de mísseis serão ao nível do convés (lança-
ambiciosos ou protelados. capacidades autónomas para fazer face a mento vertical). Os tubos lança-torpedos
contingências em cenários próprios. serão integrados na estrutura, possuindo
Neste contexto, a Marinha efectuou, Para que tal possa continuar a ser pos- portas à semelhança dos submarinos.
de moto próprio, um estudo que lhe sível é fundamental dispor de um grupo As superfícies serão tratadas com mate-
permitiu, com realidade, apresentar de fragatas moderno, homogéneo e mili- riais absorventes para redução do eco e
alternativas de dimensionamento da tarmente relevante. As seis fragatas in- as formas do navio serão desenhadas
Esquadra. Foram apresentadas várias cluídas no Sistema de Forças Nacional para evitar o reflexo. As fragatas france-
opções que diferiam essencial e signi- aprovado, das quais duas são anti-aéreas sas da classe “La Fayette” e as corvetas
ficativamente no número de fragatas e representam esse mínimo. suecas da classe “Visby”, as primeiras a
respectivos helicópteros orgânicos. Foi Assim, logo que financeiramente pos- ser desenvolvidas com este propósito,
seleccionada a versão mais modesta, sível, há que substituir as “J. Belo” por poderão ser um exemplo.
correspondente ao que a Marinha con- navios compatíveis com as necessidades
siderou de meios mínimos para o da missão. De acordo com o estudo COMANDO E CONTROLO
cumprimento das missões atribuídas. efectuado pela Marinha, prevê-se que tal
Este sistema de forças naval é constituí- aconteça até 2010. Os navios disporão de sistemas C4ISR
do por seis fragatas, três submarinos, (Command, Control, Communications,
oito helicópteros, um navio reabaste- A FRAGATA DE 2010 Computers, Intelligence, Surveillance,
cedor, um navio polivalente logístico, Reconnaissance) em vez dos actuais sis-
um batalhão ligeiro de desembarque, Mais uma vez a nossa participação na temas C4I. Estes sistemas permitirão
dois destacamentos de mergulhadores, NATO, UEO e EUROMARFOR e a exe- manter um panorama de superfície em
dez patrulhas oceânicos, treze patrulhas cução de missões sob os auspícios das tempo real, fazendo uso de sistemas de
costeiros, quatro navios hidrográficos, Nações Unidas ou da OSCE, implicam computadores em rede, via satélite, que
um navio balizador e um navio de com- um planeamento cuidado das caracterís- facilitarão a actualização dos dados e a
bate à poluição. ticas dos futuros meios navais. troca de informação com outras forças
6 JANEIRO 2001 • REVISTA DA ARMADA