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Repensar a Guerra
                   Repensar a Guerra






              guerra é um fenómeno da maior  sérvias. Como desafiou as orientações  jécteis os efeitos são muito controversos
              importância porque está sempre  políticas e militares determinadas por  e, por isso, difíceis de avaliar no momen-
         A presente nas relações internacio-  Washington e, dessa forma, ultrapassou  to presente,  relativamente às fábricas des-
         nais e tem complexos efeitos na Huma-  claramente os limites da autonomia de  truídas a situação é bem mais clara. As
         nidade. Por isso, deve ser objecto de per-  decisão de um comandante de teatro  petroquímicas, as refinarias, as centrais elé-
         manente reflexão, quer pelos cientistas  estratégico, a sua substituição foi anuncia-  ctricas e as unidades de produção de
         políticos e sociais, quer pelos seus princi-  da poucas semanas depois de ter con-  fertilizantes libertaram gases e fluídos
         pais intervenientes: os governantes e os  duzido os aliados à vitória no Kosovo.  que, ao contaminarem a atmosfera, os
         militares. Entre nós há um processo clás-                             solos e as águas superficiais, terão sido
         sico de repensar a guerra, com recurso à  A terceira lição e, sem dúvida a mais  parcialmente integrados nos ciclos bio-
         identificação das lições
         associadas a cada con-
         flito. A polémica decor-
         rente da utilização de
         projécteis de urânio
         empobrecido no Koso-
         vo reavivou-me a von-
         tade de identificar as
         três lições que consi-
         dero mais significati-
         vas para, a partir delas
         e em jeito de conclu-
         são, tentar perspecti-
         var alguns aspectos
         fundamentais da pró-
         xima guerra.

           A primeira lição rela-
         ciona-se com o anún-
         cio prévio e público
         pela NATO da exclu-
         são da opção terrestre.
         Esta decisão, ao con-
         trariar um princípio
         estratégico básico - a
         liberdade de acção -
         condicionou o planea-
         mento operacional e
         obrigou a adoptar tácti-
         cas que não impediram
         a limpeza étnica reali-
         zada pelas forças sér-
         vias; para além disso,
         implicou a adopção de
         uma modalidade de
         emprego incrementa-
         lista da força militar,
         inadequada à célere
         capitulação de Milo-
         sevic, por insuficiência
         de meios aéreos.

           Outra importante li-
         ção está associada às
         pressões que o general
         Wesley Clark, coman-
         dante supremo aliado
         na Europa e responsável pela conduta das  importante e actual de todas, relaciona-se  químicos. Os efeitos são previsíveis.
         operações, exerceu sobre os seus superi-  com os problemas decorrentes da utiliza-  Durante a próxima década surgirão novas
         ores americanos, para obter mais recur-  ção de projécteis de urânio empobrecido  doenças e aumentarão os casos de cancro
         sos, decisões mais rápidas e autorização  e do bombardeamento do complexo  e de deformações congénitas resultantes
         para acções directas contra as forças  industrial sérvio. Se, quanto aos pro-  do contacto, da inalação ou da ingestão
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