Page 156 - Revista da Armada
P. 156

ESCOLA NAVAL





              I Seminário Internacional de História da Náutica
              I Seminário Internacional de História da Náutica
                                em Homenagem a Luís de Albuquerque


               rganizado pela Comissão Inter-  Às 10h00 teve início a sessão de abertura  Almeida (Universidade de Lisboa –
               nacional de História da Náutica e da  a que presidiu o Comandante da Escola  Faculdade de Letras), Professor João
         O Hidrografia e pela Escola Naval,  Naval, CAlm Rebelo Duarte, e os trabalhos  Marinho dos Santos (Universidade de
         teve lugar no passado dia 22 de Janeiro um  prolongaram-se até cerca das 18h00, termi-  Coimbra – Faculdade de Letras), Professor
         Seminário, cujo tema genérico foi a História  nando com uma evocação da figura do  Inácio Guerreiro (Instituto de Investigação
         e Historiografia da Náutica. Nesse dia com-  Prof. Luís Albuquerque. Durante o dia,  Científica e Tropical), Professor Henrique
         pletavam-se dez anos sobre a morte do  foram apresentadas seis comunicações,  Leitão (Universidade de Lisboa – Faculdade
         Professor Luís Mendonça de Albuquerque,  respectivamente, (por ordem de apresen-  de Ciências) e Professora Carmen Radulet
         figura insigne de Matemático, Professor  tação) do 1º Ten António Manuel Gon-  (Universidade  della Tushia - Itália). Esteve
                                                                                                   ta
         Universitário e estudioso da História da  çalves, Professor António Marques de  sempre presente a Arq. Maria Helena
         Náutica e da Ciência, a que dedicou                                         Morais de Albuquerque, filha do
         uma boa parte da sua obra. Foi um                                           homenageado.
         dos fundadores do antigo Centro                                               A Comissão Internacional de História
         de Estudos de Marinha e da actual                                           da Náutica e da Hidrografia, de que é
         Academia de Marinha e o primeiro                                            actual presidente executivo o Pro-
         presidente desta Comissão Inter-                                            fessor Inácio Guerreiro, tem a sua
         nacional que ajudou a construir,                                            sede na Escola Naval, e – para além
         na companhia de figuras como                                                dos seminários que agora tiveram a
         Armando Cortesão e Avelino                                                  sua primeira edição – realiza
         Teixeira da Mota. Foi em sua me-                                            reuniões científicas bianuais, ocor-
         mória, recordando a sua obra de                                             rendo a próxima, em 2, 3 e 4 de
         historiador e a sua acção como pro-                                         Maio próximos, em Portimão.
         fessor e formador, que teve lugar
         este Seminário.                                                                      (Colaboração da Escola Naval)


                                          Pedro Nunes
                                           Pedro Nunes

             A criação em tempo de mudança
             A criação em tempo de mudança




               objectivo da minha exposição                                         dessacralização social iam ganhan-
               é dar conta da atmosfera                                             do terreno e se consolidavam ga-
         Omental e cultural da socie-                                               nhos na formação dos novos ima-
         dade europeia do século XVI. Até                                           ginários.
         mais da atmosfera mental que varria                                          Por esta altura os gostos e as sen-
         a Europa do que propriamente da                                            sibilidades alteravam-se. O amor
         portuguesa, porque Pedro Nunes foi                                         da vida, a paixão de viver condu-
         cosmopolita pela postura abrangente                                        ziam à descoberta dos corpos e à
         da sua reflexão, pela sua voz que                                          adivinhação e à prática dos pra-
         ecoou longe da terra que o viu nascer.                                     zeres. A leitura do Mundo tornara-
           Pedro Nunes viveu entre 1502 e                                           -se, nas mãos dos grupos sociais do
         1578, num período que corresponde a                                        topo, sensual, quer dizer: o Mundo
         uma fase de consolidação da moder-                                         era lido, pelos e com os sentidos, o
         nidade. Pertenceu a uma geração de                                         que, para alguns coetâneos, levava
         homens notáveis. Os seus contem-                                           os homens à perdição pela porta
         porâneos são indiscutíveis no tempo                                        do pecado. Num mundo domina-
         topológico de uma ou duas gerações.                                        do pela sacralidade, o cultivo do
           Em casa, Camões, Duarte Pacheco                                          corpo e dos sentidos fazia a dife-
         Pereira, D. João de Castro, Garcia de                                      rença entre a salvação e a perdição.
         Orta, Damião de Góis. Nos caminhos  Representação da “parte elementar” do mapa do mundo no “Tratado da  Assim, estamos às portas dos
         do Mundo surgem, quase escolhidos  esfera” de Pedro Nunes.                 novos imaginários, individuais ou
         a esmo, Leonardo, Erasmo, Lutero,                                          colectivos, onde novas mercado-
         Melanchton, Copérnico, ou os acontecimen-  ou a explosão de uma super nova em 1572.  rias, a malagueta e a pimenta de rabo,
         tos de inovação e descoberta, como por  Este foi também um tempo de   ambas africanas, reinam em absoluto e
         exemplo,  as propostas de Copérnico de 1512  descoberta, quando os processos de  incendeiam os imaginários.

         10 MAIO 2002 • REVISTA DA ARMADA
   151   152   153   154   155   156   157   158   159   160   161