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ESCOLA NAVAL
I Seminário Internacional de História da Náutica
I Seminário Internacional de História da Náutica
em Homenagem a Luís de Albuquerque
rganizado pela Comissão Inter- Às 10h00 teve início a sessão de abertura Almeida (Universidade de Lisboa –
nacional de História da Náutica e da a que presidiu o Comandante da Escola Faculdade de Letras), Professor João
O Hidrografia e pela Escola Naval, Naval, CAlm Rebelo Duarte, e os trabalhos Marinho dos Santos (Universidade de
teve lugar no passado dia 22 de Janeiro um prolongaram-se até cerca das 18h00, termi- Coimbra – Faculdade de Letras), Professor
Seminário, cujo tema genérico foi a História nando com uma evocação da figura do Inácio Guerreiro (Instituto de Investigação
e Historiografia da Náutica. Nesse dia com- Prof. Luís Albuquerque. Durante o dia, Científica e Tropical), Professor Henrique
pletavam-se dez anos sobre a morte do foram apresentadas seis comunicações, Leitão (Universidade de Lisboa – Faculdade
Professor Luís Mendonça de Albuquerque, respectivamente, (por ordem de apresen- de Ciências) e Professora Carmen Radulet
figura insigne de Matemático, Professor tação) do 1º Ten António Manuel Gon- (Universidade della Tushia - Itália). Esteve
ta
Universitário e estudioso da História da çalves, Professor António Marques de sempre presente a Arq. Maria Helena
Náutica e da Ciência, a que dedicou Morais de Albuquerque, filha do
uma boa parte da sua obra. Foi um homenageado.
dos fundadores do antigo Centro A Comissão Internacional de História
de Estudos de Marinha e da actual da Náutica e da Hidrografia, de que é
Academia de Marinha e o primeiro actual presidente executivo o Pro-
presidente desta Comissão Inter- fessor Inácio Guerreiro, tem a sua
nacional que ajudou a construir, sede na Escola Naval, e – para além
na companhia de figuras como dos seminários que agora tiveram a
Armando Cortesão e Avelino sua primeira edição – realiza
Teixeira da Mota. Foi em sua me- reuniões científicas bianuais, ocor-
mória, recordando a sua obra de rendo a próxima, em 2, 3 e 4 de
historiador e a sua acção como pro- Maio próximos, em Portimão.
fessor e formador, que teve lugar
este Seminário. (Colaboração da Escola Naval)
Pedro Nunes
Pedro Nunes
A criação em tempo de mudança
A criação em tempo de mudança
objectivo da minha exposição dessacralização social iam ganhan-
é dar conta da atmosfera do terreno e se consolidavam ga-
Omental e cultural da socie- nhos na formação dos novos ima-
dade europeia do século XVI. Até ginários.
mais da atmosfera mental que varria Por esta altura os gostos e as sen-
a Europa do que propriamente da sibilidades alteravam-se. O amor
portuguesa, porque Pedro Nunes foi da vida, a paixão de viver condu-
cosmopolita pela postura abrangente ziam à descoberta dos corpos e à
da sua reflexão, pela sua voz que adivinhação e à prática dos pra-
ecoou longe da terra que o viu nascer. zeres. A leitura do Mundo tornara-
Pedro Nunes viveu entre 1502 e -se, nas mãos dos grupos sociais do
1578, num período que corresponde a topo, sensual, quer dizer: o Mundo
uma fase de consolidação da moder- era lido, pelos e com os sentidos, o
nidade. Pertenceu a uma geração de que, para alguns coetâneos, levava
homens notáveis. Os seus contem- os homens à perdição pela porta
porâneos são indiscutíveis no tempo do pecado. Num mundo domina-
topológico de uma ou duas gerações. do pela sacralidade, o cultivo do
Em casa, Camões, Duarte Pacheco corpo e dos sentidos fazia a dife-
Pereira, D. João de Castro, Garcia de rença entre a salvação e a perdição.
Orta, Damião de Góis. Nos caminhos Representação da “parte elementar” do mapa do mundo no “Tratado da Assim, estamos às portas dos
do Mundo surgem, quase escolhidos esfera” de Pedro Nunes. novos imaginários, individuais ou
a esmo, Leonardo, Erasmo, Lutero, colectivos, onde novas mercado-
Melanchton, Copérnico, ou os acontecimen- ou a explosão de uma super nova em 1572. rias, a malagueta e a pimenta de rabo,
tos de inovação e descoberta, como por Este foi também um tempo de ambas africanas, reinam em absoluto e
exemplo, as propostas de Copérnico de 1512 descoberta, quando os processos de incendeiam os imaginários.
10 MAIO 2002 • REVISTA DA ARMADA