Page 298 - Revista da Armada
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mente destina- Sarmento Rodrigues” foi concluída.
do a tão insigne
barca. Curso “Gaspar Corte Real” (1º ano)
Aos três dias Após um ano lectivo na Escola Naval os
em terras insu- cadetes do curso “Gaspar Corte Real”
lares de Espa- efectuaram a sua primeira viagem de
nha, sucede- instrução. Foram onze dias a bordo da
ram-se seis dias “SAGRES” tendo como porto de escala
de vida a bordo, Portimão e alguns fundeadouros na costa
rumo novamen- do Continente, tendo como objectivo a
te a terras na- adaptação à vida no mar e a prática de
cionais, desta navegação costeira.
feita Ponta Del- Após a largada de Alcântara e navegan-
gada, ilha de do a “todo o pano” a Barca fez-se ao mar
São Miguel, nos e deixou a costa cada vez mais longe, o
Açores. vento soprou de feição e foi tempo de
O vento fraco sentir o mar e o vento, de marear, de
que entrava pe- fainas de mastros...
la proa e o mar O tempo corria mais que a nossa von-
Faina do leme. quase “chão” tade. Foi necessário viver depressa para
solicitaram os apreender o máximo.
Madeira. Os olhos atentos do vigia procu- préstimos da máquina, havia que Passados três dias chegámos a
ravam a ilha de Porto Santo para, numa garantir a chegada ao novo porto na Portimão e após uma curta estadia parti-
voz clara, comunicar o contacto. O pas- data prevista. Entretanto, no tombadi- mos rumo a Lagos. Praticou-se nave-
sar do quarto era o passar de uma espe- lho, numa das jornadas da tirada, hou- gação costeira e após fundear na baía de
rança: “espero que ele tenha mais sorte”. ve ocasião para uma instrução de arma- Lagos arriaram-se as embarcações para a
Depois de se avistar Porto Santo, foram mento portátil, onde participaram todos pratica de remo, vela e manobras com o
precisas poucas horas para chegar a terra os cadetes do curso “ALM Sarmento gasolina.
firme, no Funchal. O marinheiro, que Rodrigues” e alguns elementos da Decorridos oito dias desde a saída de
vem do mar e sabe que para ele voltará guarnição. Lisboa, levantámos ferro e lentamente
em breve, é exímio em tirar proveito do A meados do mês de Julho, depois de navegámos ao longo da costa, passámos a
pouco tempo que está em terra: toma se passar ao largo da ilha de Santa Maria, Ponta de Sagres, onde se prestaram as
conhecimento das novas paragens, per- vislumbrou-se a imponente ilha de São honras da ordenança e homenageámos os
corre os espaços, recolhe alguns registos Miguel. que cruzando os oceanos deram Portugal
fotográficos, experimenta a gastronomia Os ecos ouvidos de quem já palmilhou a conhecer ao Mundo.
local, dá um pezinho de dança aqui, um estas paragens, motivaram a incursão em Lisboa aproxima-se e já se vê a Base
copo ali, e dá largas à sua capacidade de todas as direcções da ilha. A sua beleza Naval, os cadetes do curso “Gaspar Corte
convívio. surpreendia os forasteiros em cada esqui- Real” e os quatro cadetes da Academia
A Sagres desperta nas comunidades por na: a vegetação, as cascatas, as caldeiras Militar e da Força Aérea que se lhes jun-
onde passa sentimentos de nobreza, patri- e outros fenómenos vulcânicos, a fauna, o taram terminaram a sua 1ª viagem a
otismo, carinho, e alegria que se esten- recortado da paisagem enchiam os olhos bordo do N.R.P. “SAGRES”.
dem à guarnição e cadetes. Isso mesmo se e o coração. As máquinas fotográficas não
percebeu no Funchal, nomeadamente paravam de disparar num intento de levar Resumo da navegação efectuada
entre as visitas que, acompanhadas pelos pedaços da ilha e de tão reconfortantes
cadetes, percorreram o navio. vivências que, certamente, se tornarão Vela 374h 30m
Estar atracado significa também apru- memória inolvidável. Horas Motor 224h 40m
de
mo, serviços de manutenção e de limpeza De novo no mar, de novo impelidos Navegação Total 599h 10m
ainda mais apurados, rigor na segurança, pelo vento, já na última tirada, de regresso % vela 62,5%
fineza no trato e o mesmo ritmo no levan- a Lisboa. Logo agora que se começavam a
tar e nas formaturas. dominar os novos conceitos da vida mari- Vela 1888 mi
Chegou depressa o primeiro dia de nheira e a criar os automatismos necessá- Milhas Motor 1531 mi
Julho, tempo de partir para novos rumos. rios a operar num navio com as caracterís- percorridas Total 3419 mi
As amarras da saudade de um porto, não ticas da Sagres, o términos da viagem já % vela 55,2%
podem impedir o navegante de prosseguir aparecia ao alcance da visão. Havia que
viagem rasgando as águas do imenso saborear os últimos dias de navegação,
oceano. A cidade de Las Palmas esperava calcular os últimos pontos astronómicos, Os dias vividos a bordo da “SAGRES”,
a Sagres cinco dias depois. terminar os trabalhos escritos sobre os nas viagens de instrução, ficarão eterna-
Ventos favoráveis, orientações precisas, serviços de bordo, proceder à avaliação mente gravados na memória de todos
moral férrea, trabalho de equipa, eram escrita das aprendizagens. aqueles que nelas tomaram parte. O
alguns dos elementos que faziam a arte A aproximação à costa de Portugal sabor a pouco não impediu o extra-
de navegar e acompanhavam a Sagres na continental foi feita com um sorriso ordinário enriquecimento em novos co-
sua doce dança sobre as leves ondas do estampado no rosto. É sempre bom nhecimentos e saberes, no fortalecimen-
mar. Após aproximação e passagem pelas regressar ao seio do lar, pouco a pouco, to do espírito de corpo, na camaradagem
ilhas que marcam o ponto mais a sul do a paisagem começou a tornar-se familiar: e amizade, na adaptação à vida do mar e
território nacional, as Selvagens, por entre a Torre de Belém, o Padrão dos Des- à vida a bordo, no convívio, na for-
a neblina do alvorecer de um novo dia, cobrimentos, a ponte sobre o Tejo, a mação humana, marinheira e técnica
emergia a Grã Canária do arquipélago das Doca de Alcântara. Iniciaram-se as com vista ao futuro.
Canárias. O “puerto de la Luz”, na cidade manobras de atracação. A Viagem de
Colaboração: Cap.Frag. A. R. Carrilho - Comte. do N.R.P. “SAGRES”
de Las Palmas, era o cais de honra previa- Instrução do 3º ano do curso “Almirante Cap.Ten. C. Canas - Dir. de Inst. do curso “Alm. Sarmento Rodrigues”
8 SETEMBRO/OUTUBRO 2002 • REVISTA DA ARMADA