Page 294 - Revista da Armada
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PONTO AO MEIO DIA




                A Área Funcional do Material


                    Desafios e Oportunidades



                tradicional ponto ao meio-dia, das  par da necessidade de planear e progra-  mente outros, de dois em dois anos até
                viagens  oceânicas  do passado (1),  mar o futuro.             completar um programa de doze unida-
          O  permitia ao Comandante saber     Nos recursos importa assinalar a falta  des de serviço publico.
          com precisão suficiente onde estava e, em  de capital humano, não em quantidade   O programa de aquisição de submarinos
          função disso, alterar ou manter o rumo.   mas antes em qualidade. A Marinha é um  está em fase avançada admitindo-se para
          Era assim uma oportunidade  periódica  ramo que lida com tecnologia evoluida e  muito breve a adjudicação a um dos dois
          de reflexão  acerca de “onde estamos” e  os seus profissionais são apetecidos pelo  concorrentes do fornecimento de duas uni-
          “para onde queremos ir”.          mercado, com os resultados conhecidos.  dades com a opção de uma terceira. E liga-
            Esta rubrica  da “Revista da Armada”,  Os recursos financeiros também não  do a este programa está o fornecimento do
          que leio sempre com curiosidade e inte-  abundam e apresentam alguma volatili-  projecto de construção do navio polivalente
          resse, permite, sobre determinados temas,  dade, que dificulta a adequada programa-  logístico (NPL), navio de assalto anfíbio a
          reflectir um pouco nestes mesmos termos;  ção da sua utilização.      ser construído  também nos ENVC. A ne-
          para quem escreve, obriga a alguma refle-  A LPM (5), o PIDDAC (6) e o SIFICAP  cessidade de substituir o navio-reabastece-
          xão  e para quem lê traz informação  de in-  (7) são as fontes de financiamento  mais  dor (AOR) “Bérrio”, há muito identificada,
          teresse geral, actual e credível.  importantes, face à exiguidade do orça-  colheu aceitação governamental estando
            Nesta coluna têm estado muitos res-  mento de funcionamento, e são controla-  mencionada na LPM. Os quatro patrulhas
          ponsáveis da Marinha, a diversos níveis,  das do exterior, por vezes de forma algo  costeiros (PB) da classe “Cacine” (10), re-
          e tem sido abordados múltiplos assun-  abrupta, de que são exemplo as cativa-  motorizados, sobreviventes de uma classe
          tos; recordo, pela relação directa com  este  ções, cujo racional macroeconómico  se  de 10, terão também que ser substituídos e

          escrito, os “pontos ao meio-dia” (2) do  compreende mas que têm efeitos nega-  é possível  e desejável, que o sejam através
          Vice-CEMA, acerca da nova Lei de Pro-  tivos, por vezes  mesmo disruptivos, na  de um programa a executar em estaleiros na-
          gramação Militar, e do SSP, abordando  execução dos programas.  As recentes  cionais. A estes programas há que juntar a
          os recursos humanos, entendidos como a  iniciativas do MDN no sentido  da cria-  substituição das fragatas da classe “Cte João
          maior riqueza da Marinha. Mas recordo                                                                                             ção  de uma Central de Negociação para  Belo” por navios usados, mas que implicará
          também que “uma  Marinha sem navios  as compras e da aquisição de um sistema  sempre ajustamentos e alterações, o “mid-
          não faz qualquer sentido”, afirmação reti-  informático (8) comum a todos os ramos,  ˆviÊÕ«}À>`i»Ê­  1®Ê`>ÃÊvÀ>}>Ì>ÃÊ`>ÊV>ÃÃiÊ
          rada deste último artigo. E, na verdade, as-  com inegáveis aspectos positivos, virão  “Vasco da Gama”, e em escala incompara-
          sim é. O nosso “core business”, a gestão da  muito provavelmente originar alterações,  velmente menor, mas de importância para
          violência no mar, só faz sentido com pessoal  mais ou menos profundas, em determina-  >ÃÊÀiëiV̈Û>ÃÊ}Õ>À˜ˆXªiÃ]ʜÃÊ  1½ÃÊ`>ÃÊ
          motivado, competente e treinado, guarne-  dos procedimentos e na organização de  lanchas hidrográficas Auriga e Andróme-
          cendo navios modernos e eficazes, ajusta-  certas estruturas.         da e das lanchas  de fiscalização classe “Ar-
          dos às tarefas que desempenham. Ou seja,   A área funcional do material é muito  gos” e a conclusão do programa em curso
          a Marinha é um único sistema onde as vá-  vasta e não é aqui possível abordá-la com  de transformação e apetrechamento técnico-
          rias áreas funcionais cooperam  de forma  um mínimo de detalhe;  suscita-nos a su-  científico dos navios hidrográficos da classe
          harmónica, optimizando os recursos  e  gestão, à direcção desta Revista, de vir a  “D. Carlos I”.  E ainda a aquisição de três he-
          maximizando o produto final (3), sob a  convidar os vários Directores e o Adminis-  licopteros Lynx adicionais, o reequipamen-
          superior orientação do Almirante CEMA.   trador do AA para nos trazerem proxima-  to do Corpo de Fuzileiros e das unidades
          E convém  aqui recordar a recentemente  mente o respectivo testemunho.  de mergulhadores-sapadores, a construção
          publicada Directiva de Política Naval que   Assim irei apenas tratar, naturalmente  no AA de embarcações de intervenção cos-
          aponta para um objectivo estratégico ape-  de forma sucinta, três pontos, a saber:  teira para a Polícia Marítima e a aquisição
          nas, construir uma Marinha equilibrada,   UÊ>ÊÀi˜œÛ>XKœÊ`>Ê ÃµÕ>`À>  de dois simuladores, um de navegação ou-
          e que elege como um dos dois objectivos   UÊ>ʓ>˜ÕÌi˜XKœÊÊ`>ÃÊ1˜ˆ`>`iÃÊ >Û>ˆÃÊ tro de acção táctica,  para o CITAN.  Depois
          essenciais, modernizar a esquadra.  iÊ1  ½Ã                          de anos e anos de estagnação o número de
            A Superintendência dos Serviços do   UÊ>ÊÀi“œ`i>XKœÊ`>Ãʈ˜vÀ>‡iÃÌÀÕÌÕÀ>à  programas que se avizinham  coloca um im-
          Material, recorde-se, abarca cinco direc-                            portante desafio à capacidade de gestão téc-
          ções (4), as DI, DN, DA, DITIC e DT e o  A RENOVAÇÃO DA ESQUADRA     nica da área do material. E  se é verdade que
          Arsenal do Alfeite (AA). O Superinten-                               é inquestionável a dedicação e empenho de
          dente orienta e coordena as actividades    O recente contrato assinado pelo Pri-  todos os que ali prestam serviço, também é
          das direcções e do AA com o apoio de um  meiro Ministro em 15 de Outubro p.p.  certo que existem fragilidades na estrutura
          pequeno gabinete, a que está adstrito um  com os ENVC (9), para a construção de  que importa colmatar quanto antes.  Impor-
          centro de catalogação.            dois navios-patrulhas oceânicos (NPO),  ta além disso, alertar  para o facto de que a
            A área funcional do material é condi-  saudado por toda a Marinha, marcou o  integração, suave e gradual, de todas estas
          cionada hoje, nas suas actividades, que  início da renovação da Esquadra.  E ou-  novas unidades na Marinha não cabe ape-
          são transversais a toda a Marinha, pela  tros contratos se seguirão, esperamos, um  nas às diversas Missões de Acompanhamen-
          escassez de recursos, por acções externas  a curto prazo para a construção de dois  to e Fiscalização a constituir, mas,  de forma
          com impacte interno e pela coexistência  navios de combate à poluição com valên-  proactiva, a todas as entidades e organismos,
          de preocupações com a gestão corrente a  Vˆ>ÃÊ`iÊL>ˆâ>`œÀÊ­  *‡  1®]ÊiÊ«œÃÌiÀˆœÀ-  nas respectivas áreas de actuação.


         4  SETEMBRO/OUTUBRO 2003 U REVISTA DA ARMADA
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