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Viagens de Instrução da Escola Naval
           Viagens de Instrução da Escola Naval



              s Viagens de Instrução dos alunos da  de qualquer Marinha: a de viajar e comu-  lizarem com travessias apreciáveis (como é
              Escola Naval visam a aplicação prá-  nicar com outras congéneres, outras gentes  o caso da Sagres) e com deslocações a por-
         Atica dos conhecimentos adquiridos  e outras terras. Não era, aliás, despiciendo  tos estrangeiros, onde os nossos “marinhei-
         nas salas de aula, nos simuladores e nos  que assim acontecesse na perspectiva de  ros” (incluindo os cadetes, naturalmente) se
         diversos meios auxiliares de instrução onde  formação dos cadetes. Portugal é um país  constituem como verdadeiros embaixadores
         se procura transmitir as bases do conheci-  que faz parte de mais do que uma aliança  da Pátria Portuguesa.
         mento indispensável a quem irá, um dia,  militar de reconhecida importância para a   Como será descrito de seguida, as dife-
         desempenhar funções de chefia. Para além  sua própria segurança e para a garantia da  rentes viagens adaptam-se aos conhecimen-
         do desempenho concreto –                                                           tos técnicos de cada fase
         como todos muito bem sa-                                                           dos cursos da Escola Naval.
         bemos – é fundamental que                                                          No primeiro e segundo ano
         as tarefas sejam efectua das                                                       – com maior ou menor in-
         nas condições inerentes à                                                          tensidade – as viagens
         situação de embarcado,                                                             visam um contacto com o
         com as dificuldades de                                                             mar, a prática da navega-
         mau tempo, de uma vida                                                             ção costeira, a habituação
         condicionada por um espa-                                                          à vida a bordo e a sensibi-
         ço de restritas dimensões e                                                        lização para detectar com
         por um ambiente especí-                                                            atenção no horizonte ma-
         fico onde imperam as re-                                                            rinho os sinais que lhe são
         gras daquela segunda fa-                                                           próprios e que resultam das
         mília que é a guarnição de                                                         regras gerais da navegação.
         cada navio. É com tudo isto                                                        A viagem oceânica, aque-
         que têm de se familiarizar                                                         la que implica maiores ti-
         os cadetes, habituando-se a                                                        radas de mar e onde mais
         passar longos tempos no mar, com as priva-  defesa dos seus interesses em zonas que  se adquire a necessária sensibilidade para
         ções que isso implica e com as alterações  não se cingem aos mares nacionais ou à  lidar com os elementos da natureza, com-
         de comportamento que isso pode provocar.  Zona Económica Exclusiva. Além disso, a  preendendo como aproveitá-los ou como se
         Habituar-se à vida no mar e saber o que fa-  Marinha é um dos ramos das Forças Arma-  proteger deles, é na viagem da Sagres, que
         zer em todas as circunstâncias da activida-  das onde a complementaridade de acções  se efectuou com o terceiro ano. O quarto
         de de um navio de guerra, no cumprimento  com os seus aliados tem uma importância  ano, naturalmente que efectua um embar-
         das missões para que está preparado e que  fulcral. Por isso não é possível que os nossos  que virado para a aplicação do conjunto
         lhe podem ser distribuídas, é o que tem de  navios e, sobretudo, as suas guarnições não  de conhecimentos técnicos já adquiridos.
         ser exigido àqueles que pretendem vir a ser  tenham esse contacto internacional que, de  Mais do que a própria navegação (que não
         oficiais da Marinha. Saber que o enjoo não  resto, faz parte da própria mística do ser  pode ser descurada) está a prática de utili-
         é doença; que é possível viver muitos dias  marinheiro. Mal seria que a formação dos  zação do navio como sistema integrado de
         a quartos ou até a bordadas; que a surria-  cadetes se fizesse sem este contacto com  armas que é, com todos os seus serviços a
         da é desconfortável, mas não é razão para  o estrangeiro, a bordo de navios portugue-  funcionar. É uma viagem que valoriza o tra-
         não ir à proa quando é preciso; que as ma-  ses, e com a omnipresença da nossa ban-  balho dos cadetes nos departamentos das
         drugadas na ponte puxam ao                                                      suas próprias especialidades e
         sono e exigem esforço; que o                                                    os exercícios de diversa ordem.
         horizonte de mar, de noite ou                                                   Falemos pois de cada uma des-
         de dia, tem particularidades                                                    tas viagens, com as particulari-
         que não se observam em ter-                                                     dades que tiveram e os navios
         ra; e, enfim, estar familiarizado                                                que empenharam.
         com tudo o que pode aconte-
         cer no mar, para saber usar o                                                   1º ANO: CURSO VICE-
         navio nas melhores condições.                                                   -ALMIRANTE ALFREDO
         É para que nada disto os sur-                                                   BOTELHO DE SOUSA
         preenda, quando chegar a hora
         de assumir responsabilidades a                                                   O primeiro ano é aquele que
         bordo, que as viagens de ins-                                                   menos conhecimentos tem
         trução são indispensáveis,                                                      para andar no mar e, natural-
         mobilizando recursos de toda                                                    mente, foi aquele que teve uma
         a Marinha mesmo quando as                                                       viagem de instrução mais curta
         condições financeiras são tão                                                    e menos activa, em termos das
         difíceis como têm sido as dos                                                   actividades levadas a cabo pe-
         últimos anos.                                                                   los navios empenhados. Os ca-
           Até há bem pouco tempo as                                                     detes foram divididos em dois
         Viagens de Instrução constituíam uma alte-  deira a relembrar-lhes o solo pátrio sempre  grupos que embarcaram nos NRP “General
         ração completa na rotina dos navios, dan-  que entram e saem à prancha. É pena que  Pereira d’Eça” e NRP “Afonso Cerqueira”,
         do às guarnições uma possibilidade de ir  as viagens tenham vindo a ser encurtadas  saindo da BNL a 24 de Julho, para regressar
         onde não seria vulgar noutras circunstâncias  por razões de restrição financeira. Valha-nos  ao cabo de uma curta semana, com passa-
         e cumprindo, afinal, aquilo que é próprio  pois o facto de algumas delas ainda se rea-  gens por Portimão e por Tróia. Essencial-

         6  SETEMBRO/OUTUBRO 2003 U REVISTA DA ARMADA
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