Page 298 - Revista da Armada
P. 298
3º ANO: CURSO VICE-ALMIRANTE lização de uma Presidência Aberta que envol- Para os cadetes, o acolhimento que ali tiveram
TEIXEIRA DA MOTA veu as comemorações do dia 10 de Junho, Dia pode ter sido surpreendente, mas nós sabemos
de Portugal e das Comunidades Portuguesas. o que é a alegria de olhar a Sagres fundeada ao
Efectuada na Sagres, foi a mais longa de to- As Honras Militares com o pessoal estendido largo. E é nestes momentos que se entende a im-
das e aquela que mais possibilidades deu aos nas vergas, como está previsto para Chefes de portância da Marinha Portuguesa num território
cadetes de desenvolverem uma vivência plena Estado, não sendo vulgares, têm uma especta- com parcelas separadas por tantos milhares de
a bordo, com a particularidade de terem visitado cularidade que desperta o orgulho dos mari- milhas de oceano. Foi mais uma experiência
as mais distantes ilhas dos Açores, de terem par- nheiros e nos faz sentir mais próximos uns dos necessária à sua formação.
ticipado num acontecimento internacional de outros. É uma experiência que os cadetes não Saídos dos Açores a 16 de Junho, com desti-
grande impacte como é a “Armada de Rouen”, a esquecerão concerteza e não poderia ser mais no a Rouen, seguiram a norte sempre atrás do
que se seguiu uma curta visita ao Funchal, onde adequada às circunstâncias de uma viagem de vento favorável que poderia permitir guinar para
um navio com estas características tem sempre instrução na Sagres. a Biscaia, mas esse vento não veio, obrigando a
uma recepção es- recorrer à máquina
pecial. para seguir o cami-
O navio largou nho do leste. Che-
da Base Naval na garam à entrada do
manhã do dia 31 rio Sena, no porto
e o bom vento do Havre, a 27 de
noroeste permi- Junho. Para aquele
tiu largar pano e navio e para uma
fazer a viagem à boa parte da sua
vela até aos Aço- guarnição tinha
res, para uma pri- sido uma peque-
meira pausa.. A na tirada de onze
organização dos dias de mar, mas
cadetes a bordo para os cadetes
é feita de forma fora a maior tra-
a que passem por todas as tarefas, aperceben- O navio saiu de Angra-do-Heroísmo para a vessia que jamais tinham efectuado. Outras
do-se de como funciona o navio, quais as difi- Ilha do Corvo e, depois, para as Flores, onde mais longas lhe reservará a profissão que abra-
culdades que apresenta e o que é preciso fazer não é possível atracar, como é sabido. A Sagres çaram, mas tiveram aqui a sua prova mais di-
quotidianamente, para que tudo esteja limpo produz sempre um efeito especial, onde quer fícil, quer na habituação às condições do mar,
e operacional. Desempenham funções de ad- que vá, e, tratando-se de gente portuguesa, esse no ultrapassar o isolamento e, sobretudo, no
junto ao oficial de quarto, adjunto à navegação, efeito transforma-se num especial orgulho de habituar-se a viver em conjunto, aceitando as
leme, manobra (subindo aos mastros quando é quem vê aquele navio como o seu navio, sen- dificuldades de cada um e ajudando-se mu-
preciso), ao mesmo tempo que colaboram na tindo-se parte de um povo especial que encara tuamente. O canal do Sena até Rouen é uma
arrumação e limpeza de todo o navio, com res- as distâncias com o olhar de quem conhece a serpentina com mais de cem quilómetros, mas
ponsabilidades específicas no que toca aos seus dimensão dos tempos. Como quem sabe o que foi passado com o entusiasmo de quem chega
próprios alojamentos. Os primeiros dias são, na- são os tempos curtos e os tempos longos, en- (apesar de que ainda são cerca de oito horas a
turalmente, de apreensão e de alguma timidez: tendendo a relação entre os lugares que se to- navegar, com extrema atenção), o entusiasmo
não sabem como funciona nada, têm alguma cam no dia a dia e os espaços de sonho que se das gentes que aplaudiam o navio, os foguetes,
dificuldade em identificar os cabos, estão des- estendem para além do horizonte. É nisto que bandeiras, música, vivas entoados em coro a
coordenados na manobra e sentem o peso de reside a magia da Sagres, que consegue levar a que se respondia com alegria, culminando com
um embarque prolongado, como ainda não ti- sua solidariedade aos 400 portugueses que vi- a emoção especial de ser recebido com Hino
nham experimentado. vem no Corvo, mostrando-lhes uma força igual Nacional, entoado não só pelo pessoal do na-
Seis dias depois, estão a fundear na Praia da à que os mantém agarrados àquela parcela de vio como pelas centenas de portugueses que
Vitória, preparando o navio para a estadia em Portugal, afastada de Lisboa mais de mil milhas. aguardavam junto ao cais.
Angra-do-Heroísmo e Nos dias que se segui-
aproveitando para efec- ram o número de visitas
tuar exercícios de remo ao navio variou entre
com baleeiras. Atraca- 12000 e 16800, numa eu-
ram no Porto Pipas a 8 de foria sem par a que todos
Junho, apreciando uma tiveram de corresponder.
manobra que lhes pare- A “Armada de Rouen”,
cia complicada, dadas acontecimento que ocor-
as dimensões restritas do re de quatro em quatro
cais, e as limitações do anos (ou cinco em cin-
próprio navio, mas que co, conforme as circuns-
se revelou como uma tâncias) tem tido sempre
verdadeira aula de ma- a presença da Sagres que
rinharia, mostrando-lhes é uma das princesas da
a forma como é possível festa. Este ano, ficou atra-
jogar com a utilização do cada a montante de todos
leme, da máquina e do os outros navios e na mar-
próprio pano. gem que dá para a parte
A estadia em Angra antiga e monumental da
previa a realização de cidade, onde está o centro
uma “recepção” a bordo de comércio e onde acor-
e a visita do Presidente da re o maior número de pes-
República, durante a rea- A deslumbrante iluminação de gala. A grande invasão. soas (cerca de 8 milhões
8 SETEMBRO/OUTUBRO 2003 U REVISTA DA ARMADA