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PATRONO DO NOVO CURSO DA ESCOLA NAVAL
Almirante Roboredo e Silva
Almirante Roboredo e Silva
rmando Júlio Roboredo e Silva nasceu a 11 de Janeiro de 1903, A entrada dos anos sessenta é marcada pelo desencadear dos confli-
na freguesia de Vale Flor, concelho da Meda e distrito da Guar- tos ultramarinos, levando o país a uma guerra em três frentes e onde a
Ada. Assentou praça na Armada, com o posto de aspirante, ao Marinha tinha, necessariamente, um papel importante a desempenhar.
iniciar o curso da Escola Naval em 23 de Novembro em 1921. Foi pro- Era uma guerra com características especiais, que exigia uma nova alte-
movido a guarda-marinha em Janeiro de 1925, seguindo os estágios ração de procedimentos e que reduzia a importância das unidades na-
de embarque que faziam parte da formação de um oficial de Marinha vais nos termos definidos pelos conceitos da NATO. Roboredo e Silva
naquele tempo e que culminavam com o exame de promoção a 2º te- já tinha chamado a atenção para esta possibilidade durante os últimos
nente, efectuado em Julho de 1926. anos da década de cinquenta, observan-
Especializou-se primeiro em Piloto Avia- do o que tinha sucedido com os franceses
dor e depois Torpedos, Minas, Electricidade e na Argélia e com o que considerava ser a
Motores de Combustão Interna. Porém, se- estratégia de proliferação das guerrilhas
ria à Aviação Naval que daria os primei- independentistas. No seu entender a Ma-
ros anos da sua carreira, no desempenho rinha necessitava de uma nova ordenação
de diversos cargos relacionados com esse ultramarina, e de um potencial de combate
ramo que tanto prestigiou a Marinha. que pudesse ser usado com êxito em ter-
Promovido a 1º tenente no ano de 1931, ra, numa guerra com características tão
embarcou em 33 para Moçambique a fim específicas quanto era a guerra subversiva.
de ocupar o cargo de Capitão do Porto da A ele se deve o aumento da consistência
Beira. Todavia as aptidões e qualidades que orgânica e a alimentação progressiva da
já revelara não permitiram que a sua acção estrutura da Marinha no Ultramar, que
se cingisse apenas a essas funções. Foi então assumiu uma importância decisiva com
Presidente da Câmara Municipal da Beira, a recriação dos fuzileiros em 1961. Esta
esteve ligado ao Observatório Meteoroló- acção reforça -se desde que, em 1963 as-
gico da Companhia de Moçambique, além cende ao cargo de Chefe do Estado-Maior
de superintender os respectivos Serviços de da Armada, mas não esquece a renovação
Aviação e ser Inspector de Exploração. da depauperada esquadra que, agora, de-
Com a promoção a capitão-tenente, em via manter as suas obrigações na NATO e
Dezembro de 1943, desempenha funções simultaneamente adaptar-se às exigências
de imediato dos contra-torpedeiros “Dou- ultramarinas.
ro” e “Lima” e, espera-o, logo após o final A renovação da esquadra, com a
da II Guerra Mundial, uma missão interna- aquisi ção das quatro fragatas da Classe
cional de grande destaque para o país. O Vice-almirante Magalhães Cor- “Cte. João Belo” e dos quatro submarinos da Classe “Albacora”, em
rêa foi de 1945 a 48 Administrador da Zona Internacional de Tanger e o França, decidida em 1964, não tinha sido suficiente para as necessida-
Comandante Roboredo acompanhou-o como seu Chefe de Gabinete. des e assim é ordenada a construção de seis corvetas inicialmente, e de-
Em 1949 Portugal integrava o núcleo fundador da NATO e as con- pois mais quatro, de acordo com projectos nacionais supervisionados
dições da própria Aliança conferiam um papel determinante à Mari- pelo Almirante Roboredo. Mas o reequipamento não fica por aqui, há
nha, que não estava preparada para o desempenhar plenamente. Não a acrescentar o enorme esforço desenvolvido pelo Arsenal do Alfeite e
possuía meios adequados e estava afastada das inovações técnicas e estaleiros civis na construção de diversos patrulhas, lanchas de fiscali-
tácticas que tinham ocorrido durante a Guerra. Exigia-se-lhe um esfor- zação e de desembarque e que se destinavam prioritariamente ao Ultra-
ço intensivo para uma integração plena na Aliança. Roboredo e Silva mar. É claro que este esforço no reequipamento foi acompanhado por
acompanhou a primeira fase desta renovação como Chefe de Gabinete uma actividade imensa na formação do pessoal e na reorganização de
e Ajudante de Campo do Comandante General da Armada, adquirin- todos os sectores da Marinha. Em todas estas acções a intervenção do
do uma experiência decisiva nos numerosos contactos internacionais Chefe do Estado-Maior da Armada é decisiva e determinante.
inerentes a esses cargos. Desenvolveu uma estrutura estratégica e ope- De salientar que a sua acção não se resume apenas ao âmbito interno,
racional sólida, que teve expressão em inúmeros artigos publicados nos também foram notáveis as várias conferências que proferiu no estran-
Anais de Marinha, ao longo de toda a década de cinquenta. geiro especialmente no Naval War College dos Estados Unidos e na
Após ter prestado serviço na Divisão de Operações e Movimentos do Escuela de Guerra Naval em Espanha, explanando quer a importância
Estado-Maior da Armada, seria na qualidade de Comandante da fraga- das posições geoestratégicas portuguesas em relação à segurança das
ta “ Diogo Gomes”, de Abril de 1954 a Março de 55, que viria a realizar rotas marítimas e a sua relevância para a NATO, quer referindo-se à
vários exercícios navais, os primeiros, no âmbito da NATO, em que in- presença portuguesa em Africa e ao destaque da Marinha na conjun-
tervieram forças navais portuguesas e se desenrolaram no Atlântico e tura que então se desenrolava.
no Mar do Norte, com larga participação das Marinhas aliadas. Estes Após, em 1970, passar à Reserva, por limite de idade, o Almirante
exercícios tiveram uma particular importância para a Armada Nacional Roboredo que jamais tinha, até então, aceitado o exercício de cargos
pois marcaram a sua entrada no mundo da NATO, com a utilização de políticos, sentiu que era seu dever prosseguir o empenho em servir o
procedimentos, os quais passaram a permitir um entendimento ope- país, sendo, por esse facto eleito deputado e mais tarde escolhido para
racional entre os aliados. Vice-Presidente da Assembleia Nacional.
Em 1958 é nomeado Subchefe Adjunto do Estado-Maior da Arma- Ao longo da sua vida o Almirante recebeu numerosas altas conde-
da e em 1960 é Subchefe (cargos correspondentes hoje a SUBCEMA corações nacionais e estrangeiras.
e VICE-CEMA). Nestas funções enriquece profundamente os seus Faleceu no Hospital da Marinha a 16 de Setembro de 1987.
conhecimentos da doutrina da NATO, o que o coloca numa posição Z
privilegiada não só na hierarquia da Armada mas também nas Forças J. Semedo de Matos
Armadas Portuguesas. CFR FZ
REVISTA DA ARMADA U DEZEMBRO 2004 11