Page 373 - Revista da Armada
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PATRONO DO NOVO CURSO DA ESCOLA NAVAL


              Almirante Roboredo e Silva
               Almirante Roboredo e Silva


               rmando Júlio Roboredo e Silva nasceu a 11 de Janeiro de 1903,   A entrada dos anos sessenta é marcada pelo desencadear dos confli-
               na freguesia de Vale Flor, concelho da Meda e distrito da Guar-  tos ultramarinos, levando o país a uma guerra em três frentes e onde a
         Ada. Assentou praça na Armada, com o posto de aspirante, ao  Marinha tinha, necessariamente, um papel importante a desempenhar.
         iniciar o curso da Escola Naval em 23 de Novembro em 1921. Foi pro-  Era uma guerra com características especiais, que exigia uma nova alte-
         movido a guarda-marinha em Janeiro de 1925, seguindo os estágios  ração de procedimentos e que reduzia a importância das unidades na-
         de embarque que faziam parte da formação de um oficial de Marinha  vais nos termos definidos pelos conceitos da NATO. Roboredo e Silva
         naquele tempo e que culminavam com o exame de promoção a 2º te-  já tinha chamado a atenção para esta possibilidade durante os últimos
         nente, efectuado em Julho de 1926.                                       anos da década de cinquenta, observan-
           Especializou-se primeiro em Piloto Avia-                               do o que tinha sucedido com os franceses
         dor e depois Torpedos, Minas, Electricidade e                            na Argélia e com o que considerava ser a
         Motores de Combustão Interna. Porém, se-                                 estratégia de proliferação das guerrilhas
         ria à Aviação Naval que daria os primei-                                 independentistas. No seu entender a Ma-
         ros anos da sua carreira, no desempenho                                  rinha necessitava de uma nova ordenação
         de diversos cargos relacionados com esse                                 ultramarina, e de um potencial de combate
         ramo que tanto prestigiou a Marinha.                                     que pudesse ser usado com êxito em ter-
           Promovido a 1º tenente no ano de 1931,                                 ra, numa guerra com características tão
         embarcou em 33 para Moçambique a fim                                      específicas quanto era a guerra subversiva.
         de ocupar o cargo de Capitão do Porto da                                 A ele se deve o aumento da consistência
         Beira. Todavia as aptidões e qualidades que                              orgânica e a alimentação progressiva da
         já revelara não permitiram que a sua acção                               estrutura da Marinha no Ultramar, que
         se cingisse apenas a essas funções. Foi então                            assumiu uma importância decisiva com
         Presidente da Câmara Municipal da Beira,                                 a recriação dos fuzileiros em 1961. Esta
         esteve ligado ao Observatório Meteoroló-                                 acção reforça -se desde que, em 1963 as-
         gico da Companhia de Moçambique, além                                    cende ao cargo de Chefe do Estado-Maior
         de superintender os respectivos Serviços de                              da Armada, mas não esquece a renovação
         Aviação e ser Inspector de Exploração.                                   da depauperada esquadra que, agora, de-
           Com a promoção a capitão-tenente, em                                   via manter as suas obrigações na NATO e
         Dezembro de 1943, desempenha funções                                     simultaneamente adaptar-se às exigências
         de imediato dos contra-torpedeiros “Dou-                                 ultramarinas.
         ro” e “Lima” e, espera-o, logo após o final                                 A renovação da esquadra, com a
         da II Guerra Mundial, uma missão interna-                                aquisi ção das quatro fragatas da Classe
         cional de grande destaque para o país. O Vice-almirante Magalhães Cor-  “Cte. João Belo” e dos quatro submarinos da Classe “Albacora”, em
         rêa foi de 1945 a 48 Administrador da Zona Internacional de Tanger e o  França, decidida em 1964, não tinha sido suficiente para as necessida-
         Comandante Roboredo acompanhou-o como seu Chefe de Gabinete.  des e assim é ordenada a construção de seis corvetas inicialmente, e de-
           Em 1949 Portugal integrava o núcleo fundador da NATO e as con-  pois mais quatro, de acordo com projectos nacionais supervisionados
         dições da própria Aliança conferiam um papel determinante à Mari-  pelo Almirante Roboredo. Mas o reequipamento não fica por aqui, há
         nha, que não estava preparada para o desempenhar plenamente. Não  a acrescentar o enorme esforço desenvolvido pelo Arsenal do Alfeite e
         possuía meios adequados e estava afastada das inovações técnicas e  estaleiros civis na construção de diversos patrulhas, lanchas de fiscali-
         tácticas que tinham ocorrido durante a Guerra. Exigia-se-lhe um esfor-  zação e de desembarque e que se destinavam prioritariamente ao Ultra-
         ço intensivo para uma integração plena na Aliança. Roboredo e Silva  mar. É claro que este esforço no reequipamento foi acompanhado por
         acompanhou a primeira fase desta renovação como Chefe de Gabinete  uma actividade imensa na formação do pessoal e na reorganização de
         e Ajudante de Campo do Comandante General da Armada, adquirin-  todos os sectores da Marinha. Em todas estas acções a intervenção do
         do uma experiência decisiva nos numerosos contactos internacionais  Chefe do Estado-Maior da Armada é decisiva e determinante.
         inerentes a esses cargos. Desenvolveu uma estrutura estratégica e ope-  De salientar que a sua acção não se resume apenas ao âmbito interno,
         racional sólida, que teve expressão em inúmeros artigos publicados nos  também foram notáveis as várias conferências que proferiu no estran-
         Anais de Marinha, ao longo de toda a década de cinquenta.  geiro especialmente no Naval War College dos Estados Unidos e na
           Após ter prestado serviço na Divisão de Operações e Movimentos do  Escuela de Guerra Naval em Espanha, explanando quer a importância
         Estado-Maior da Armada, seria na qualidade de Comandante da fraga-  das posições geoestratégicas portuguesas em relação à segurança das
         ta “ Diogo Gomes”, de Abril de 1954 a Março de 55, que viria a realizar  rotas marítimas e a sua relevância para a NATO, quer referindo-se à
         vários exercícios navais, os primeiros, no âmbito da NATO, em que in-  presença portuguesa em Africa e ao destaque da Marinha na conjun-
         tervieram forças navais portuguesas e se desenrolaram no Atlântico e  tura que então se desenrolava.
         no Mar do Norte, com larga participação das Marinhas aliadas. Estes   Após, em 1970, passar à Reserva, por limite de idade, o Almirante
         exercícios tiveram uma particular importância para a Armada Nacional  Roboredo que jamais tinha, até então, aceitado o exercício de cargos
         pois marcaram a sua entrada no mundo da NATO, com a utilização de  políticos, sentiu que era seu dever prosseguir o empenho em servir o
         procedimentos, os quais passaram a permitir um entendimento ope-  país, sendo, por esse facto eleito deputado e mais tarde escolhido para
         racional entre os aliados.                           Vice-Presidente da Assembleia Nacional.
           Em 1958 é nomeado Subchefe Adjunto do Estado-Maior da Arma-  Ao longo da sua vida o Almirante recebeu numerosas altas conde-
         da e em 1960 é Subchefe (cargos correspondentes hoje a SUBCEMA  corações nacionais e estrangeiras.
         e VICE-CEMA). Nestas funções enriquece profundamente os seus   Faleceu no Hospital da Marinha a 16 de Setembro de 1987.
         conhecimentos da doutrina da NATO, o que o coloca numa posição                                        Z
         privilegiada não só na hierarquia da Armada mas também nas Forças                        J. Semedo de Matos
         Armadas Portuguesas.                                                                              CFR FZ
                                                                                    REVISTA DA ARMADA U DEZEMBRO 2004  11
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