Page 376 - Revista da Armada
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A “Sagres” e os seus Irmãos
                  A “Sagres” e os seus Irmãos



                                          6. 3ª Parte – Sagres                 reira, então Ministro da Presidência, teve


       Foto CTEN António Gonçalves                                             conhecimento de que a Marinha Brasileira

                                                                               havia parado o Guanabara, e que estaria
                                                                               possivelmente na disposição de vender o
                                                                               navio. O seu principal objectivo era que a
                                                                               Marinha Portuguesa não pusesse definitiva-
                                                                               mente fim aos veleiros, quando aparente-
                                                                               mente tudo apontava nesse sentido. Pouco
                                                                               tempo depois já o Comandante Tengarrinha
                                                                               Pires, se encontrava no Rio de Janeiro para
                                                                               uma primeira observação do navio. Foram
                                                                               então encetados os primeiros contactos
                                                                               com vista a saber qual o verdadeiro estado
                                                                               em que se encontrava o Guanabara, e quais
                                                                               as condições exigidas de forma a viabili-
                                                                               zar a sua cedência à Marinha Portuguesa.
                                                                               Quando se soube que o próprio presidente
                                                                               do Brasil, Juscelino Kubitschek de Oliveira
                                                                               (31/1/56 – 31/1/61), pretendia oferecer o
         A Sagres a navegar no Mar das Caraíbas.                               navio a Portugal, tudo pareceu muito bem
                                                                               encaminhado. Não se concretizando de
              om o avançado estado de degrada-  primeira hipótese colocava riscos difíceis  imediato a transferência do navio, devi-
              ção do antigo navio-escola Sagres,  de poderem ser assumidos; a segunda iria  do a circunstâncias várias, pouco tempo
         Ce depois do acidente em 1957, que  tornar as viagens de instrução muito pouco  depois Jânio Quadros foi eleito presiden-
         levou à perda do navio                                                              te do Brasil (31/1/61 –
         alemão Pamir, nove anos                                                             25/8/61). Rodeado por
         mais novo, muitos defen-                                                            algumas pessoas que de-
         diam que o tempo de uma  (Arquivo Almirante Horta)                                  fendiam a manutenção
         marinha com veleiros era                                                            do Guanabara na Ma-
         coisa do passado. E que,                                                            rinha Brasileira, e mes-
         por isso, se deveria apos-                                                          mo a sua recuperação
         tar numa renovação vira-                                                            para poder continuar a
         da para navios com ou-                                                              navegar, o presidente
         tras características e mais                                                         Jânio Quadros desistiu
         modernos. Uma prova da                                                              da intenção do seu an-
         importância dos grandes                                                             tecessor, de oferecer o
         veleiros na formação ma-                                                            navio a Portugal. Mas,
         rinheira, pelos que defen-                                                          ainda assim, foi toma-
         diam a sua manutenção,                                                              da, durante o seu cur-
         residia no facto de muitas                                                          to mandato, a decisão
         marinhas terem ao seu ser-                                                          de vender o navio, tal-
         viço navios-escolas, com                                                            vez devido ao facto de
         estas características. E ha-                                                        existir um princípio de
         via poucos anos, em 1958,                                                           acordo entre as autori-
         que a Marinha Alemã ha-  Primeira guarnição do navio-escola Sagres, no Funchal - 1962.  dades dos dois países,
         via construído de raiz o
         seu veleiro Gorch Fock, de acordo com os  proveitosas e quase
         mesmos planos do Guanabara.        inúteis; a terceira          Comandantes da “Sagres”
           A situação em que se encontrava o antigo  era considerada de   Capitão-tenente Henrique da Silva Horta   FEV1962 – SET1965
         navio-escola Sagres só permitia uma de três  todo inviável, face   Capitão-de-fragata Daniel Farrajota Rocheta   SET1965 – OUT1969
         saídas, na altura devidamente equacionadas  à falta de meios e   Capitão-de-fragata José Ferreira da Costa   OUT1969 – NOV1973
                                                              Capitão-de-mar-e-guerra Eurico Serradas Duarte
                                                                                                 NOV1973 – MAI1974
         e ponderadas: a continuação da sua utiliza-  aos custos ineren-  Capitão-de-fragata José Ferreira da Costa   MAI1974 – MAI1975
         ção em grandes viagens oceânicas, com os  tes à construção de   Capitão-de-mar-e-guerra Fernando Miranda Gomes   MAI1975 – NOV1976
         riscos daí decorrentes; viagens de instrução  um navio novo.  Capitão-de-fragata José Martins e Silva   NOV1976 – JAN1980
         curtas e essencialmente costeiras, por for-  No entanto a   Capitão-de-fragata Engrácio Lopes Cavalheiro   JAN1980 – AGO1982
                                                                                                  DEZ1982 – ABR1986
         ma a minimizar os riscos; ou, finalmente,  aquisição do Gua-  Capitão-de-fragata António Homem de Gouveia   ABR1986 – OUT1989
                                                              Capitão-de-fragata José Castanho Paes
         a construção de um novo navio-escola, hi-  nabara à Marinha   Capitão-de-mar-e-guerra José Malhão Pereira   OUT1989 – JAN1993
         pótese para a qual o governo alemão, que  Brasileira revestiu-  Capitão-de-fragata José Rodrigues Leite   JAN1993 – OUT1995
         recentemente havia construído o seu Gorch  se de algumas pe-  Capitão-de-fragata Duarte Castro Centeno   OUT1995 – OUT1998
         Fock, tentou despertar o interesse de Por-  ripécias. Em 1959   Capitão-de-fragata António Dias Pinheiro   OUT1998 – SET2001
                                                              Capitão-de-fragata António Rocha Carrilho
                                                                                                   SET2001 –
         tugal, oferecendo os respectivos planos. A  o Dr. Teotónio Pe-
         14  DEZEMBRO 2004 U REVISTA DA ARMADA
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