Page 377 - Revista da Armada
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Foto CTEN António Gonçalves (Arquivo Museu de Marinha)
Em primeiro plano o actual navio-escola Sagres, atracado ao navio-depósito Santo
A guarnição e cadetes em postos de honra, à chegada a Nova Iorque em 1992. André, antigo navio-escola Sagres.
datada do tempo da visita do Presidente ra o Dr. Teotónio
Kubitschek a Portugal. Este facto terá ini- Pereira, Ministro Portaria n.º 18997, de 30 de Janeiro de 1962
bido, por si só, uma alteração dos planos da Presidência, e
por parte do governo brasileiro. Para além o Dr. Franco No- Manda o Governo da República Portuguesa, pelo Ministro da Marinha,
disso, a orientação da Marinha Brasileira gueira, Ministro o seguinte:
ia, como vimos, no sentido de pôr termo dos Negócios Es-
aos navios à vela. Desta forma foi estabe- trangeiros, lide- 1.º O navio-escola Sagres passa a ser classificado como navio-depósito,
com o nome de Santo André.
lecido o preço de 150.000 dólares ame- raram, no seio do 2.º O antigo navio-escola da marinha brasileira Guanabara, adquiri-
ricanos (4.500 contos), pelo qual o navio governo portu- do pelo Governo Português, é aumentado ao efectivo dos navios
seria vendido. guês, o movimento da Armada, no estado de armamento, como navio-escola e com o
Em Portugal quando foi tomada a de- no sentido de ser nome de Sagres.
cisão com vista à aquisição do Guanaba- disponibilizada a
verba para a sua compra. Ainda antes da
Sagres
Foto CTEN António Gonçalves sudoeste de Portugal. No século XV este era lugar no dia 10 de Outubro de 1961, se-
formalização da venda do navio, que teve
O cabo de Sagres fica situado no extremo
guiram para o Rio de Janeiro o 1º Tenente
Ferreira da Apresentação e o Sargento An-
um local privilegiado para a troca de expe-
tónio de Sá Oliveira, com o objectivo de
riências, de informações e de novas ideias,
entre os marinheiros do Mediterrâneo e os
dos Norte da Europa. Era também geografi- coordenar a sua reparação. Estes viriam a
ser, respectivamente, o primeiro engenhei-
camente mais próximo da costa africana e ro e mestre do navio.
dos novos arquipélagos atlânticos, recente- Na viagem até ao Brasil, daquele que
mente descobertos. iria ser primeiro comandante do navio, o
O primeiro interesse do infante D. Hen-
rique neste local encontra-se registado num Capitão-tenente Silva Horta, ocorreu a tra-
documento datado de 1443. O infante pre- gédia. Pelas 2h12 do dia 1 de Novembro,
tendia aí construir uma vila, muito provavel- na aproximação ao aeroporto de Recife, o
mente com a finalidade de apoiar as viagens avião onde este seguia, com mais 12 ho-
de exploração da costa ocidental africana. mens da futura guarnição, embateu num
Estas, depois de 1441, haviam conhecido pequeno morro que se encontrava a cerca
um incremento tanto em número, como nos de 5 Km da cabeceira da pista. O apare-
meios utilizados. lho caiu e partiu-se ao que se seguiu um
Durante as viagens promovidas pelo in-
Sagres: o cabo, o farol e o navio. incêndio, tendo pouco tempo depois ex-
fante D. Henrique foram reconhecidos regi- plodido. Dos elementos da guarnição da
mes de ventos e correntes, aperfeiçoaram-se e adaptaram-se instrumentos e métodos de navegação, Sagres todos se salvaram, com excepção
para melhor determinar a posição do navio no mar, e identificaram-se as características que os navios
deveriam possuir para em segurança, e com maior comodidade, navegarem no Atlântico, tendo ainda do 1º Sargento Ilídio Manuel da Costa. Aliás,
sido melhoradas as suas capacidades de carga. Toda esta evolução, fruto das navegações e da troca de entre a queda do avião e a explosão, que
ideias entre os homens do mar, foi uma verdadeira escola. Uma escola de experiência e prática. No ocorreu antes de chegar ajuda, o Coman-
entanto a famosa «Escola de Sagres», à luz da nossa definição actual, nunca existiu: é um mito. dante Silva Horta e os que se encontravam
A escolha do nome para o actual navio-escola Sagres não foi de todo consensual. Na sequência das em melhores condições, ajudaram a res-
grandes Comemorações do V Centenário da Morte do Infante D. Henrique, muitos eram de opinião gatar outros camaradas e passageiros, do
que um navio-escola, navegando à vela, ostentando nas velas a Cruz de Cristo – símbolo da Ordem avião em chamas. Não obstante, de um
de Cristo, de que o infante foi regedor a partir de 1420 –, tendo como figura de proa a sua efígie, de- total de 88 pessoas do voo da Panair, só
veria ter também o seu nome. Até porque, justificavam, «dificilmente poderemos vir a ter uma unida- 36 sobreviveram.
de de combate cujas dimensões e categoria militar justifiquem a honra de receber tão grande nome». No dia 8 de Fevereiro de 1962 teve lu-
Contrariamente o Ministro da Marinha, Contra-almirante Fernando Quintanilha Mendonça Dias, en-
tendeu que «a um navio que vem manter uma tradição deve, igualmente, manter-se o nome». É que gar a bordo a cerimónia de aumento ao
«os navios, como os homens, criam predilecções populares... pela própria natureza da sua missão, o efectivo dos navios da Armada, nove dias
navio-escola à vela da Marinha Portuguesa está na alma dos Portugueses. É natural, é compreensível, depois de publicado em portaria. Isto por-
que o nome se mantenha, já que a tradição não se perde também». que só na véspera se apresentaram os 101
elementos ainda em falta na sua guarnição,
REVISTA DA ARMADA U DEZEMBRO 2004 15