Page 375 - Revista da Armada
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tavam os navios e as principais actividades
e infraestruturas da Marinha de Guerra, no
Continente e no Ultramar, assim como unida-
des da Marinha de Comércio e embarcações
regionais de pesca e do tráfego fluvial, bem
como as suas actividades tradicionais. Para
tal seleccionou rigorosamente os temas a tra-
tar, adquiriu muitos exemplares de imagens já
existentes dos temas seleccionados ( por vezes
pertencentes a arquivos de conceituados pro-
fissionais como Portugal, Benoliel e Fernando
Luís Veiga) e encarregou alguns dos mais im-
portantes fotógrafos da época, como Garcez,
Serra Ribeiro e Horácio Novais, de reportagens
sobre muitos dos temas que lhe interessava
cobrir. Além disso, promoveu entre os seus
muitos amigos, nomeadamente oficiais da
Armada, uma verdadeira campanha de an-
gariação de provas fotográficas, que constitu-
íam afinal um repositório histórico de imensas Henrique Manfroy de Seixas, rodeado por alguns dos seus muitos colaboradores, junto ao modelo concluido da canhoneira
recordações de inúmeras comissões realizadas “Bengo”, construido nas suas oficinas. Os seus colaboradores são, da esquerda para a direita: os sargentos de manobra
Rafael Santana Santos e Adelino Braz das Neves; Mário Lúcio Martins de Barros, desenhador; Luís António Marques
um pouco por todo o mundo. A partir delas e Amadeu Marques, irmãos e modelistas; José Ruivo, pintor e Laurentino de Sousa, motorista da casa Seixas.
mandou Henrique Maufroy de Seixas fazer
muitas chapas, que mais enriqueceram a sua que da Silva, Pinto Basto, Quirino da Fonseca, litar de Cristo, com que os poderes públicos
colecção. De toda esta prodigiosa actividade Soares de Andrea e Moreira de Campos e ain- quiseram galardoá-lo, e o Museu de Mari-
resultou um valiosíssimo acervo de aproxi- da do Pintor Roque Gameiro. nha comemorou a passagem do quadragési-
madamente 20.000 negativos, na sua grande O próprio Henrique Maufroy de Seixas fez mo aniversário do seu precioso legado com
maioria em chapa de vidro. diversas aquisições que continuaram a enri- uma exposição evocativa, realizada em 1988,
Para que o Museu, funcionando numa boa quecer a sua colecção, sendo de destacar as na qual foram exibidas cerca de 700 fotogra-
parte da sua residência de Lisboa, pudesse pinturas de conceituados autores como To- fias encartonadas e legendadas (que por si
ser visualmente atractivo e mais explicita- maz de Mello, João Vaz, Almirante Pinto Bas- haviam sido mandadas executar para a ex-
mente compreensivo, seleccionou muitas das to e, ainda, do Rei D. Carlos, esculturas (como posição que montara na sua casa de Lisboa),
imagens do seu arquivo e mandou produzir o artístico trabalho de António Maria Ribeiro, além de um número restrito de modelos de
centenas de provas encartonadas, com legen- evocativo do glorioso feito histórico concreti- navios e embarcações. Nas actuais instala-
das explicativas escritas em elegante letra de zado por Sacadura Cabral e Gago Coutinho e ções do Museu de Marinha no Mosteiro dos
cursivo, que vieram a complementar e a ilus- intitulado “Vaga de Glória”), desenhos, gra- Jerónimos foi dado o seu nome a uma das
trar a actividade de muitos dos modelos de vuras, albuns de fotografias e ainda uma inte- salas onde se expõem alguns emblemáticos
navios e de embarcações exibidos e a mostrar ressante colecção de taças de prata em minia- modelos da sua colecção, réplicas das mais
algumas das mais importantes infraestruturas tura, que constituíam reprodução de alguns belas embarcações da Casa Real Portuguesa.
navais da época. dos mais famosos trofeus que os clubes náu- Justíssimos preitos de homenagem a quem a
Como se tudo aquilo a que fizemos já refe- ticos disputavam regularmente. Marinha e o seu Museu tanto devem.
rência não fosse suficiente, a COLECÇÃO SEI- Este impressionante acervo, coleccionado Mas a memória de tão ilustre personagem
XAS foi ainda enriquecida por muitas outras ao longo de cerca de trinta anos, foi recebido continuará a ser perpetuada através da exibição
peças, relacionadas com temas navais e maríti- em 1949 pelo Museu de Marinha, que assim permanente da maior parte da sua importan-
mos, que ao seu proprietário foram oferecidas viu significativamente valorizado o seu patri- te e valiosa COLECÇÃO, podendo dessa for-
por amigos e admiradores da sua obra, com o mónio. Embora esse património se encontre ma mostrar-se a todas as gerações tão grande
louvável intuito de a enriquecer e ampliar. De actualmente muito aumentado e amplamente exemplo de dedicação, tenacidade, bom gosto,
entre todos eles devem salientar-se os nomes valorizado por inúmeras peças de grande va- notável culto da perfeição e desejo veemente de
dos Almirantes Ivens Ferraz, Ramalho Ortigão lor e significado histórico, a COLECÇÃO SEI- exaltação dos mais nobres e significativos valo-
e Oliveira Muzanty, dos Comandantes Balda- XAS continua a ocupar um lugar importante res da história da sua Pátria e de divulgação de
e muito significativo na muitas das suas mais importantes actividades
sua história e na génese marítimas, que constituem também manifesta-
do seu verdadeiro nas- ções de cultura das gentes do mar.
cimento como institui- Z
ção de cultura da Mari- Manuel Mário de Oliveira de Seixas Serra
nha, hoje francamente CMG
conhecida e apreciada
(Imagens dos anos 30 do Séc. XX)
a nível nacional e in-
ternacional, particular- Bibliografia:
mente por todos aque- - História da Colecção Seixas, da autoria de Luís
les que às coisas do António Marques e publicada como separata dos
mar se dedicam com Anais do Clube Militar Naval (1970) e como mono-
grafia do Museu de Marinha em edição de 1985, re-
especial afecto.
vista e aumentada;
O grande homem - Catálogo da exposição de homenagem a Henrique
de cultura que foi Maufroy de Seixas, realizada em 1988, por iniciativa do
Henrique Maufroy de Museu de Marinha, no ano do 40º aniversário do seu
falecimento, com texto e coordenação de Octávio Lixa
Seixas recebeu ainda
Filgueiras e a colaboração de Luís António Marques;
Salas do Museu Seixas, instalado em parte do Palacete onde residia, em Lisboa, e que ele por ve- em vida (1931) a co- - Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira
zes e em determinadas condições, permitiu que fosse visitado e admiradas as suas Colecções. menda da Ordem Mi- (Seixas, H. M. de).
REVISTA DA ARMADA U DEZEMBRO 2004 13