Page 118 - Revista da Armada
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INSTITUTO SUPERIOR NAVAL DE GUERRA
“Opções Estratégicas de
“Opções Estratégicas de
Portugal no novo contexto mundial”
Portugal no novo contexto mundial”
ealizou-se no Instituto Superior Naval lusofonia e pelo espaço de influência da lín- talizado e reforçado para que a CPLP seja uma
de Guerra, nos dias 11 e 13 de Janeiro gua portuguesa. realidade e uma alternativa para o espaço estra-
Rde 2005, um ciclo de conferências su- A sessão da tarde foi moderada pelo VALM tégico português.
bordinado ao tema “Opções estratégicas de Ferraz Sacchetti e teve como oradores o Dr. João No dia 13 de Janeiro, durante a sessão da
Portugal no novo contexto mundial”, acção Salgueiro e o Prof. Dr. José Carlos Venâncio. manhã, teve lugar o terceiro painel, moderado
integrada no programa de formação da pelo Prof. Dr. João Ferreira do Amaral e
área de Estratégia, dos Cursos Navais de tendo como oradores o Dr. Salgado Ma-
Guerra 2004/2005. tos, o Dr. Félix Ribeiro e o Prof. Dr. Fer-
Este Ciclo de Conferências inseriu-se nando Neves.
num esforço, de natureza essencialmen- Iniciou os trabalhos o Dr. Salgado
te académica, de colocar à discussão as Matos, com o tema “Desenvolvimento
diferentes perspectivas com que se po- português, integração europeia e espaços de
derá deparar o planeamento estratégico convivência histórica e cultural”. À partida
nacional numa conjuntura internacional defendeu que deveremos tentar incre-
em permanente mutação. mentar a integração portuguesa na UE,
Esta actividade visou criar sinergias assim como novos laços nas áreas onde
de saber e pensamento a bem de uma re- temos um passado histórico de relaciona-
flexão sobre a afirmação de Portugal no mentos. Mas adiantou, em jeito de con-
novo contexto mundial, contando para clusão, que a UE é um organismo, ainda,
isso com uma panóplia de notáveis conferencis- O Dr. João Salgueiro ocupou-se da “Bi-multi- instável e pouco coeso, pelo que se torna aconse-
tas que garantiram à assistência a possibilidade lateralidade do relacionamento português na Europa lhável que o futuro seja assegurado recorrendo a
de prescrutar o caos criativo em que são forjados e resto do Mundo” começando por traçar o cená- áreas comerciais alternativas. Deve-se, portanto,
os quadros do paradigma do futuro. rio actual do país, onde existem maus indicado- reforçar as relações Portugal-Brasil, apostar em
Assim, no dia 11 de Janeiro, pela manhã, ini- res económicos. Na definição das estratégias mercados emergentes como o chinês ou o india-
ciaram-se os trabalhos em que estiveram pre- Portugal encontra-se na encruzilhada entre o no, valorizar os bens transaccionáveis, e projec-
sentes o Comandante Naval em representação tabuleiro mundial e o tabuleiro europeu. No tar a imagem de Portugal no mundo.
do Alm. CEMA e diversas individualidades entanto, deverá estabelecer somente uma es- O Dr. Félix Ribeiro apresentou a sua “Facha-
convidadas, civis e militares. tratégia não havendo que optar entre os dois, e da atlântica na projecção ibérica, europeia e global”
O primeiro painel constituído pelo Prof. Dr. não esquecendo que uma vez que os desafios intervenção que, versando sobre as opções es-
Ernâni Lopes e pelo Prof. Dr. Manuel Porto, são mundiais, os europeus lhes são subalternos. tratégicas de Portugal, desenvolveu em duas
como conferencistas, foi moderado pelo ALM A estratégia a seguir tem que ser de afirmação vertentes: uma regional e uma mundial. Su-
Vieira Matias. externa, pela qualidade. cintamente, o dispositivo geoeconómico por-
Tratando o tema ”Afirmar Portugal: questão es- O Prof. Dr. José Carlos Venâncio apresentou o tuguês baseia-se num relacionamento com a
tratégica fundamental”, o Prof. Dr. Ernâni Lopes “Legado Histórico das relações Portugal – PALOP’s UE, a Alemanha e Brasil, além do entendi-
afirmou que a resposta estratégica pretendida – Brasil. Percepções históricas”, identificando mento com o vizinho ibérico. Contudo, como
não é passível de ser limitada exclusivamente à no passado colonial português três impérios: propostas de orientação geoeconómica nacio-
economia, sociedade e política, devendo, tam- Oriente, Brasil e África. Tendo em conta o tema nal para o futuro, o Dr. Félix Ribeiro defende o
bém, considerar-se a educação, a tecnologia, o da sua palestra, referiu que destes três, os dois reforço do relacionamento com os EUA, dada
Estado, as instituições, as empresas, as Forças últimos são de fundamental interesse por es- a sua capacidade de inovação e dinamismo;
Armadas ou a Igreja, por exemplo. Todo este tarem centrados no Atlântico, que foi durante a manutenção do relacionamento europeu
conjunto articulado entre e dentro de privilegiado com a Alemanha, com-
si, num quadro compreensível e mo- pletando-o com uma aproximação
bilizador, deverá ser reflexo, sobretu- à Holanda; uma coordenação com
do, de uma dupla responsabilidade o Brasil nas relações com a Índia; a
de cidadania e sentido de Estado. aproximação a Taiwan e depois à
O Prof. Dr. Manuel Porto, disser- China; e a adopção de postura aten-
tando sobre “Portugal: cidadania e ta relativamente à África Ocidental
sistema político na afirmação à escala como bacia energética.
global”, lançou as questões de como Por último, o Prof. Dr. Fernando
irá ser o século XXI e como reagir. Neves apresentou o tema “CPLP e as
Traçando um possível cenário, co- dinâmicas geopolíticas regionais”, refe-
loca a hipótese do estabelecimento rindo que mais do que um projecto
de parcerias estratégicas, sendo que cultural ou linguístico-literário, é uma
o novo século se abre para as potências de- séculos um espaço de encontro de culturas e importantíssima questão estratégica e geopo-
mográficas como a China, o Brasil e a Índia. onde Portugal tinha um papel preponderan- lítica com inevitáveis incidências económico-
A opção de Portugal é a de um envolvimento te. A CPLP é, neste contexto, uma organização sociais, culturais e linguísticas. Avança, ainda,
claro nas questões fundamentais e o assumir dominante. Com uma dimensão geográfica que, e sem menosprezo de todo o lugar e papel
de uma posição dominante, materializando, considerável tem, contudo, uma afirmação dos outros países e povos lusófonos, Portugal e
assim, a afirmação de uma estratégia nacio- económica de cariz periférico. Ainda assim, há Brasil deverão ser, nas presentes condições, os
nal. Neste âmbito Portugal é privilegiado pela um entendimento cultural que deve ser capi- primeiros grandes motores da lusofonia e serão
8 ABRIL 2005 U REVISTA DA ARMADA