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DIVAGAÇÕES DE UM MARUJO (12)
A Porta
A Porta
ea culpa, mea culpa! Por minha vez mais, vai minando a nossa Sociedade. tual percurso cinéfilo a um filme, já com
grande, exclusiva e integral culpa Muito poderíamos nós aqui falar sobre o uma boa dúzia de anos em cima do lombo,
Mfaltei ao último encontro com os assunto e até contrapor ao tradicional mi- intitulado “O Homem Demolidor”. Essa pe-
meus pacientes – e padecentes! – leitores. serabilismo nacional o espírito positivo dos lícula, protagonizada por um dos maiores
E não foi por falta de assunto, devo dizê-lo, nossos vizinhos espanhóis que, orgulhosos canastrões hollywoodescos do nosso tem-
mas tão somente pelo facto de muitas vezes das suas Forças Armadas, não contam os po, Sylvester Stallone (o qual, apesar de
a pena correr mais depressa do que o pensa- tostões – perdão, os cêntimos – que nelas tudo, espero ver daqui a uns vinte anos a
mento e, contem- receber o Óscar de
plado o resultado melhor actor, já de-
final, ficarmos com finitivamente con-
a noção de que sagrado como uma
a obra produzida das grandes figuras
não é a mais ade- da Sétima Arte, tal
quada para figurar como o seu emu-
nesta respeitável lado Clint Eas-
e institucional pu- twood), não será,
blicação. É, aliás, decerto uma obra
por esse mesmo de antologia, po-
motivo que deixo, dendo mesmo ser
às vezes, por abor- classificada como
dar algum dos te- aquilo a que cha-
mas anteriormen- mamos fita de “ar-
te “prometidos”, rebimba-o-malho”,
embora ele fique mas lança -nos num
pendente para exercício mental
uma futura con- muito interessante:
versa de câmara imagine-se uma so-
em que tenhamos ciedade altamente
a oportunidade civilizada onde a
de nos encontrar- violência foi total-
mos cara-a-cara. mente banida e os
Não faço como delitos mais gra-
um conhecido trei- ves que a Polícia
nador/agricultor tem de reprimir
que passou pelas são actos tão pue-
equipas técnicas ris como deitar um
de alguns clubes papel para o chão
rivais (deixemos- ou dizer um pala-
-lhes essa preten- vrão em espaços
são!) do “Glorio- públicos. E os in-
so” e afirmava, a fractores são sem-
pés juntos, que um pre tão dóceis que,
dia contaria tudo uma vez apanha-
aquilo que sabia, dos em flagrante
mas a conversinha por um dispositivo
lá fica apalavra- detector de infrac-
da. Por outro lado, ções à Lei, perma-
lamento desiludir necem no local do
todos aqueles que “crime” até à che-
acreditavam que o gada de um agente
seu suplício bimensal de folhear estas infin- investem (sim, eles vêem-no como um in- da Autoridade que os repreende. É, então,
dáveis escorrências verbais tinha, finalmen- vestimento e não como uma despesa!) e, neste cenário paradisíaco que surge um cri-
te, chegado ao seu termo. A esses só posso pouco a pouco, vão recebendo o retorno minoso “à moda antiga”, vindo do Passado,
pedir um pouco mais de paciência, que as em crédito, prestígio e uma cada vez mais que desata a partir tudo, a roubar descara-
reservas de inspiração do signatário têm o notória influência na Cena Internacional… damente e – escândalo dos escândalos! – a
seu limite e já não andará muito longe o Não é este, porém, o local mais adequado matar, sem que as forças policiais, “adorme-
momento em que possam ficar a sós com para o fazer, pelo menos de uma forma mi- cidas” por décadas de brandos costumes,
as simpáticas crónicas do nosso bom Doc. nimamente académica e fundamentada. saibam como agir. Aqueles que acreditam
Mas falávamos nós de temas delicados… Gostaria, isso sim, de partilhar com os lei- que alguma vez haverá paz no Mundo sem
Ora, um dos que me ocorre logo de ime- tores uma ou duas reflexões: a existência de meios coercivos – ou, se pre-
diato é o do anti-militarismo que, cada Uma delas leva-nos pelo nosso já habi- ferirem, sem a chamada “violência dissua-
30 AGOSTO 2005 U REVISTA DA ARMADA