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fundamental para a unidade regional». Uma  do mundo. Nos últimos 50 anos, já passaram  disponibiliza aos veleiros ingleses o cais Nº4 no
         tónica retomada por Luís Machado, Chefe da  pelos veleiros desta organização – actualmen-  Porto de Ponta Delgada.
         actividade e do Agrupamento 1197 Jacques-  te, o “Prince William” e o “Stavros S. Niarchos”   «Existe um óptimo relacionamento entre
         -Yves Cousteau de Ponta Delgada, que pro-  – mais de 65 mil jovens com idades compreen-  o Agrupamento 1197 de São José e as autori-
         move estes cruzeiros de vela oceânica com a  didas entre os 16 e os 25 anos. «A nossa missão  dades marítimas e portuárias – sublinha Luís
         Tall Ships desde 2002 e a estendeu nos últimos  visa o reforço da auto-confiança e o desenvol-  Machado – os escuteiros colaboram anual-
         dois anos a um maior número de escuteiros,  vimento pessoal dos jovens em interactivida-  mente nas comemorações do Dia da Marinha
         contando com o apoio do Governo Regional e  de, perante o stress de trabalhar de dia ou de  e esta faz-se representar ao mais alto nível nas
         da Marinha. «Estou satisfeito, o que não é fácil.  noite e de viver com outras pessoas num es-  Promessas do Agrupamento. Há dois anos,
         Foi uma actividade que correu muito bem e  paço confinado», explicou Bob Stephenson. No  ofereceu-nos um escaler de 12 homens, à vela
         juntou escuteiros de sete ilhas, com um bom  Reino Unido, a instituição conta com o apoio  e a remos, na condição de o recuperarmos.
         espírito de serviço, animação e disciplina. Pos-  de 60 grupos de angariação de fundos e selec-  Hoje, já está totalmente operacional, tendo
         sibilitou aos participantes uma boa formação  ção de jovens candidatos a marinheiros. Saber  por padrinho Genuíno Madruga». Para lá do
         de vela e, acima de tudo, humana», afirmou.  nadar e falar inglês são os únicos requisitos ne-  referido escaler, o Agrupamento de escuteiros
         No briefing final, também o Capitão Bob Ste-  cessários. A bordo, os jovens podem tirar o cer-  marítimos de Ponta Delgada dispõe ainda de
         phenson elogiou o comportamento e a atitude  tificado de “competent crew” da RYA (Royal  um semi-rígido com motores fora-de-borda,
         dos escuteiros: «a primeira razão de terem sido  Yachting Association). Além da calorosa hospi-  uma chata com motor eléctrico (indispensável
         uma tão boa tripulação é por serem escuteiros,  talidade das gentes que habitam as ilhas aço-  nas lagoas da ilha), seis Optimist, seis kayaks
         é porque já escolheram ser escuteiros. Foi um  rianas, os britânicos da Tall Ships beneficiam  de mar e um de águas mansas.
         prazer velejar convosco».          de múltiplas facilidades para atracar e reabas-                    Z
           A TALL Ships Youth Trust, criada em 1956, é  tecer os seus veleiros nos portos do arquipéla-  Alexandre Coutinho
         a escola de vela sem fins lucrativos mais antiga  go. Quando há escuteiros a bordo, a Marinha     Jornalista


                                      Carlos Charneca


             oi no dia 13 de Maio de 1931 que                                     dados relativos às duas viagens em que
             João Carlos Charneca dos Santos                                      Carlos Charneca nos acompanhou a bor-
         Fsoltou amarras, largando para a lon-                                    do da Sagres, de resto as maiores da sua
         ga viagem da sua vida, dedicada ao jorna-                                longa carreira naval.
         lismo e em boa parte à Marinha.                                            Sendo indubitavelmente o jornalista
           A sua actividade profissional teve iní-                                 com mais horas de navegação a bordo
         cio quando em 1952 começou a trabalhar                                   dos navios da Marinha, recebeu nos últi-
         para a Agência Lusitânia, que só abando-                                 mos anos da sua carreira, entre outras, as
         nou quando esta foi extinta, em 1974. Du-                                seguintes condecorações:
         rante parte deste período esteve ainda li-                                 - Medalha Naval de Vasco da Gama,
         gado à Associated Press e foi colaborador                                atribuída pelo ALM. CEMA (1993);
         assíduo, em Lisboa, do Jornal de Notícias                                  - Medalha de Eficiência e Cortesia, atri-
         de Lourenço Marques.                                                     buída pelo Conselho Directivo do Rotary
           Quando em 1976 foi criada a Agência de                                 Club de Lisboa-Oeste (1993), sendo o se-
         Notícias de Portugal (ANOP) este nosso ami-                              gundo jornalista a receber tal distinção,
         go passou a integrar os respectivos quadros,  nição –, para o bom ambiente vivido a bordo.  depois de Fernando Pessa ter sido agracia-
         que deixou ao transitar para a recém-criada   No ano 2000, reformado e já com 69 anos,  do em 1988;
         Notícias de Portugal (NP), em 1982,  quando  conseguiu surpreender-me ao alistar-se para   - Medalha de D. Afonso Henriques – 2ª clas-
         mantinha já uma colaboração com o jornal Cor-  a viagem de mais de cinco meses que levou o  se, atribuída pelo CEME (1996);
         reio da Manhã. Na sequência do processo de fu-  navio-escola Sagres ao Brasil, por ocasião dos   - Medalha de Mérito Aeronáutico – 2ª clas-
         são das duas agências, que teve lugar em 1987,  500 anos do seu «achamento», seguida da visita  se, atribuída pelo CEMFA (1997), tornando-se
         e da qual resultou a Agência Lusa, Carlos Char-  a Porto Rico, onde embarcaram os cadetes da  então no primeiro e único jornalista português
         neca manteve as funções de redactor.  Escola Naval, antes do périplo por seis portos  condecorado pelos três ramos das FA’s;
           Reformou-se dez anos mais tarde, em 1997,  nos Estados Unidos. Do maior interesse revela-  As comemorações relativas aos seus cin-
         tendo no entanto garantido uma colaboração  ram-se as inúmeras notícias que regularmente  quenta anos de carreira tiveram lugar no forte
         permanente que foi obrigado a cessar, por mo-  enviou para Lisboa dando a conhecer, de forma  de S. Julião da Barra, na presença de muitos
         tivos de saúde, há cerca de dois meses.  oportuna, as particularidades da inexcedível  dos seus amigos e admiradores, numa inicia-
           Pessoalmente tive o privilégio de conhecer  missão do nosso mais famoso embaixador.  tiva da administração da Agência Lusa, que
         Carlos Charneca a bordo do navio que tam-  Em ambas as viagens foram muitas as oca-  contou com a colaboração do Ministério da
         bém ele considerava ser o mais belo do mundo,  siões em que tive oportunidade de o conhecer  Defesa Nacional.
         o nosso navio-escola Sagres. E se em Abril de  melhor. Ainda hoje guardo comigo as palavras   Depois de uma vida preenchida por mui-
         1992, no início de uma viagem de oito meses, al-  comovidas que então me dirigiu, por ocasião  tas navegações, Carlos Charneca iniciou no
         guns dos seus colegas embarcados apostavam  do meu aniversário a bordo da Sagres. Depois  passado dia 21 de Junho, aos 74 anos, a sua
         na sua desistência, cedo eu percebi, tal como se  deste seu último embarque, foi com regulari-  última viagem, que, estou certo, será feita em
         veio a verificar, que a sua alma de Marinheiro  dade que nos encontrámos e trocámos cumpri-  enorme paz de espírito, aproveitando, conhe-
         não se deixava atemorizar pela grandeza da  mentos de estima e consideração mútuas, pela  cedor que se tornou, os ventos e as correntes
         faça nha, contribuindo o Tio Charneca – como  derradeira vez no início deste ano.  mais favoráveis. À sua família, colegas e ami-
         cari nhosamente era tratado por toda a guar-  Por curiosidade, e também em homena-  gos a Revista da Armada apresenta os seus
                                                               gem ao amigo e  sinceros sentimentos.
        Ano  Dias de viagem Horas de navegação Horas de nav. à vela Milhas Portos  marinheiro, pare-           Z
        1992    237        3.428h04m    1.806h16m  22.903  21  ceu-me justo real-           António Manuel Gonçalves
        2000    159        2.335h08m    1.137h31m  13.585  15  çar os principais                            CTEN
                                                                                     REVISTA DA ARMADA U AGOSTO 2005  25
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