Page 383 - Revista da Armada
P. 383
COMISSÃO A TRIPOLI rinheiros portugueses desembarcados das necessidades e já se falava em capitulação
As cidades de Argel, Tunis e Trípoli naus, sob o comando do capitão-tenente e entrega, quando Nelson fez render a es-
eram, naquela época, ninhos de piratas António Saldanha da Gama e a artilharia quadra portuguesa por navios ingleses.
de onde saiam, frequentemente, os velo- sob as ordens do 1º tenente Alexandre Mo- Passados poucos dias Malta entregou-se
zes chavecos armados em corsários para reira Freire. ao próprio Nelson.
dar caça aos navios de
comércio que navega- REGRESSO A LISBOA
vam no Mediterrâneo, O esforço que os navios
aventurando-se mesmo e guarnições tinham sofri-
a vir ao Atlântico. do, durante esta comis-
Para evitar estes ata- são, impunha uma para-
ques, alguns países, gem para afinar os navios
como a Espanha, a Sué- e dar algum repouso ao
cia e os Estados Unidos pessoal. Retirando de
da América, pagavam Malta para Palermo, em
elevadas somas aos beis meados de Dezembro, os
daquelas regências, en- navios iriam receber al-
quanto outros conse- guns fabricos. Em Janeiro
guiam tratados de paz e de 1800 chegou a Trieste
amizade, casos da Ingla- a nau Vasco da Gama e a
terra e da França. corveta Boaventura com
Portugal entregara a mantimentos e dinheiro
protecção do seu comér- para a esquadra.
cio marítimo à Armada, A 12 de Fevereiro de
que através da Esquadra 1800 largou o Marquês
do Estreito, mantinha li- de Nisa para Lisboa com
vre o caminho aos na- Nau Vasco da Gama. a sua esquadra e, após
vios de comércio. Nisa uma viagem com tem-
sugere a Nelson que se tentasse uma trégua Os marinheiros lusos participaram na pos variáveis, chegou ao Tejo em finais de
com o bei de Tripoli em termos semelhantes ocupação dos fortes de São Telmo (onde Abril, recebendo do Príncipe Regente ras-
ao que existia entre a Inglaterra e aquela re- ficou ferido Moreira Freire), Capua e Ga- gados elogios.
gência; foi mandada preparar a nau Afonso eta. A acção dos portugueses mereceu de Segundo o ministro português em Lon-
de Albuquerque para aquela missão. Do- Nelson o seguinte elogio: ...Comandante dres, o próprio monarca fez-lhe saber que
nald Campbell partiu a 3 de Abril de 1799 e Gama, das tropas portuguesas desembarcadas recebera de Nelson informações sobre a ma-
chegou ao destino a 6 de Maio; durante as da esquadra portuguesa, é-lhe atribuído grande neira distinta como a esquadra portuguesa
difíceis negociações, que o cônsul espanhol mérito, e Lord Nelson informará o Marquês de se comportara e do modo como o Marquês
tentou dificultar, o navio português atacou Nisa da sua boa conduta. Os portugueses re- de Nisa se tinha conduzido em todas as ope-
as baterias que defendiam o porto, e apresou embarcam nos navios a 30 de Julho. rações de que fora encarregado com o maior
vários navios que se aproximaram do porto, Restabelecido em Nápoles o governo do acerto, inteligência e actividade, e ao desvelo
incluindo uma polaca de guerra de 18 peças, rei D. Fernando, a esquadra portuguesa com que todos os portugueses sempre pro-
que foi queimada, uma fragata e um bergan- voltou ao bloqueio de Malta, comissão que curaram seguir o exemplo do seu chefe.
tim sueco que esta apresara. desempenharia, durante mais três meses,
Assinado o armistício a 14 de Maio fo- com mesmo rigor que o fizera no início. A ESQUADRA DO ESTREITO
ram entregues 200 prisioneiros feitos pelos
portugueses e recebeu-se um valioso res- RETORNO AO BLOQUEIO A chamada Esquadra do Estreito estabele-
gate, em dinheiro, pela libertação da fraga- DE MALTA cida pelo Secretário de Estado da Marinha,
ta e os prisioneiros franceses que estavam A 25 de Agosto Nelson ordenava a Nisa Martinho de Melo e Castro, ainda no rei-
em poder do Bei e que os ingleses haviam, que seguisse para Malta a fim de assumir nado de D. José I, destinava-se a impedir
sem sucesso, tentado já resgatar. Largando o comando da esquadra encarregue do blo- a passagem dos corsários berbéres para o
a 20, chegou a Palermo a 31 de Maio. queio. Para além dos navios portugueses Atlântico e o seu ataque à navegação por-
estacionavam em Malta 6 navios ingleses tuguesa. Mesmo durante as guerras com
PINTO GUEDES EM TUNIS (naus Alexander, Audacious e Lion; fra- a França, Portugal conseguiu manter essa
O sucesso obtido em Tripoli levou gata Sucess; bergantim Bonne Citoyenne esquadra com uma certa permanência, ape-
D. Do min gos a tentar idêntico acordo com e brulote Stromboli). sar dos seus elevados custos; os seus na-
a regência de Tunis. Para ali seguiu, a 20 Desembarcaram 347 praças sob o coman- vios também cooperaram com os ingleses
de Junho de 1799, D. Rodrigo Pinto Gue- do do Capitão-tenente António Gonçalves de Gibraltar nos anos de 1794 a 1797. Esta
des no brulote inglês Stromboli, mas só Pereira, mas logo a 9 de Outubro chega o esquadra manteve -se operacional até Ou-
em Outubro atingiu Tunis; a habilidade bergantim Gaivota do Mar com ordens do tubro de 1807, data em que foi mandada
diplomática de Pinto Guedes conseguiu Secretário de Estado da Marinha, datadas recolher a Lisboa para os seus navios in-
obter uma paz com os tunisinos. de 27 de Julho e 1 de Setembro, para o re- tegrarem a Força Naval que deveria trans-
gresso dos navios. portar a Corte e o Governo para o Brasil e,
RECONQUISTA DE NÁPOLES Nelson recebeu idêntica comunicação e simultaneamente, evitando que fossem to-
Os navios aliados faziam patrulha no solicitou a D. Domingos que retardasse a mados pelos ingleses.
golfo de Leão em busca de navios france- partida porque os navios e o pessoal desem- Z
ses: eram 14 naus, incluindo as 3 portugue- barcado faziam muita falta no estado em que J. A. Rodrigues Pereira
sas, pois a São Sebastião continuava o seu se encontravam as operações. D. Domingos CMG
cruzeiro na costa de Génova. concordou em manter-se no bloqueio até à Nota
1 Adaptado da obra do autor Campanhas Navais
Nas operações para a reconquista da ci- chegada da esquadra russa.
dade de Nápoles tomaram parte 400 ma- Os sitiados chegaram ao último grau de 1793-1823. A Marinha Portuguesa no Tempo de Napo-
leão. 2 volumes. Tribuna da História. Lisboa, 2005.
REVISTA DA ARMADA U DEZEMBRO 2005 21