Page 19 - Revista da Armada
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métricos mas fui admitida para Engenharia  andam em terra. E porquê, o nome «Imper-  nem pensei em carros.
         Aeronáutica.                       meáveis»?                            RA – Já vejo que é... genético. Na minha úl-
           RA – Desculpe. Chumbada? Não acredito!  TEN PM (ainda a rir-se) – Isso é uma his-  tima comissão em África tinha a bordo uma
           TEN PM – Foi e ainda bem, porque se assim  tória...                 Vespa de 50 cm3, que, quando o vento era
         não fosse talvez não tivesse vindo para a Mari-  RA – Conte-nos lá.   favorável dava 40 km/hora. Usei-a na Base
         nha. Mas entretanto os testes foram, felizmente   TEN PM – Numa «exchange» com Pilotos da  Naval (com algum escândalo) pois não era,
         para mim, actualizados e passei.   Marine (Nationale)  francesa, em Beja, ainda  então, um meio de transporte suficientemen-
           Ainda, por essa altura, um amigo falou-me  antes da nossa largada na Esquadra 101, num  te... isso mesmo... digno. Mas já tem carta de
         do concurso da Escola Naval e agradou-me  Pôr-do-Sol que lhes foi oferecido, já quando a  automóvel?
         e foi até ele quem me explicou, dos parcos  animação era muita começaram a atirar baldes   TEN PM – Sim, claro.
         conhecimentos que tinha do assunto, o que  de água uns aos outros e quando deram con-  RA – E como reagiram as Guarnições, so-
         se fazia nas funções da Classe de Marinha e  nosco alguém se perguntou alto e bom som:  bretudo os elementos da geração mais antiga,
         achei interessante. Só não concorri ao Exér-  «Então? Os marujos ficam de fora?» a que o  perante as primeiras mulheres, futuras Oficiais
         cito porque não havia nenhuma opção para  meu camarada de Curso, respondeu: «Podem  da Armada dos cursos tradicionais?
         mulheres dentro do que queria, pois vinha da  mandar à vontade que nós somos IMPERME-  TEN PM – Eu penso que entre os meus su-
         área Científica.                                                               periores fui aceite com bastante na-
           Como os exames foram feitos                                                 turalidade. Ainda na Escola Naval,
         no Alfeite pude falar com cadetes                                             nas viagens de instrução mas mais
         e alguns oficiais, contactar com a                                             nos embarques de fim de semana,
         Escola e com a Base Naval... via os                                           entre os meus futuros subordinados
         navios e gostei. Ali fiquei decidida                                           hierárquicos, sobretudo os que po-
         por uma carreira na Marinha.                                                  deriam ter filhas da minha idade, foi
           RA – Na Marinha ou na Arma-                                                 muito curiosa a reacção. Era uma
         da?                                                                           situação engraçada, quase carica-
           TEN PM – Na Marinha de Guerra                                               ta que me não choca de maneira
         Portuguesa, mas ainda há dias se fa-                                          nenhuma e que era uma atitude
         lou dessa... confusão ou dúvida.  O  CTEN C. Sobral, o CMG S. Pereira, o 1TEN G. Brás e a 1TEN Mónica Martins.  um pouco paternalista. Se eu lhes
           RA – Já nos apercebemos dessa                                               parecia meio enjoada ou enjoava
         situação. Eu sou e sempre serei Oficial da Ar-  ÁVEIS!» e, claro, ninguém fez cerimónia. Foi  mesmo perguntavam-me logo como me sentia,
         mada, da Classe de Marinha. Ia a dizer...  desse animado banho de confraternização  se precisava de alguma coisa, qualquer coisa
           TEN PM – Com tantas opções em aberto foi  aérea que nos lembrámos de o adoptar como  como «olha se fosse a minha filha...». Não sei...
         de facto esta a que mais me agradou. Caí aqui,  nossa divisa.         foi uma experiência... simpática, que natural-
         como costumo dizer, de pára-quedas e tive a   RA – Se não lho perguntasse perdíamos uma  mente se foi esbatendo.
         sorte que muitas pessoas não têm, de gostar  boa e sadia história...    RA – E as multas a bordo? Quando se entra
         muito do que faço.                   TEN PM – E foi, faz parte das nossas me-  pela primeira vez num espaço doutro, agora,
           RA – E depois como foi?          mórias.                            Departamento?
           TEN PM – Admitida, fiz, com os restantes   RA – Lembro-me, na Naval, da sua poten-  TEN PM – Não, isso já se não faz. Quando
         camaradas, o 1.º Ano de Formação Geral Co-  tíssima moto. Tem uma nova moto ainda mais  nos enganamos nalguma coisa, isso sim, a pra-
         mum na Academia Militar, na Amadora, e ali  potente?                  ça mais moderna faz logo uma lista de todas
         tivemos, desde o início, uma relação especta-  TEN PM – Ah! A minha moto. Não, tenho  as «testemunhas» e traz-nos um vale de uma
         cular com os cadetes da FAP (e tínhamos aca-  a mesma e não é assim tão potente. É uma  grade de cerveja para assinarmos.
         bado de entrar!) o que foi óptimo quando nos  Yamaha, Virago de 250 cm3. É um tipo de   RA – Assistimos à transição do garrafão de
         encontrámos de novo em Beja...                                                cinco litros para a grade de cer-
           RA – Recordamo-nos que o nos-                                               veja durante a Guerra de África.
         so Curso o «Duarte Pacheco Perei-                                             Foi tudo?
         ra» foi, em 1957, o último a fazer                                              TEN PM – Não. Não. Quando
         os Estudos Gerais Preparatórios na                                            embarquei como Cadete do 2º ano
         Escola do Exército como, segun-                                               na «João Roby» tinham-me feito «a
         do a tradição dos países latinos, se                                          cama à espanhola», mas eu achei
         chamava. Aliás passou a AM por                                                muito estranho, «A cama feita?
         um seu comandante pretender ins-                                              São privilégios a mais...» e fui ver
         talá -la no Alfeite e nela integrar a                                         tudo... (risos).
         Escola Naval...                                                                 RA – Foi com certeza uma con-
           TEN PM – Tivemos instrutores                                                versa muito agradável, em que pu-
         que eram do nosso ano de entrada                                              demos rememorar experiências
         e esse relacionamento anterior foi                                            comuns decorrentes dum ambien-
         muito positivo.                                                               te que se mantém são e onde se
           RA – Mas tem razão, de facto as   A Tenente Mónica Martins com o Comandante do navio.  podem viver novos desafios que já
         Culturas Militares da Armada e da                                             nos proporcionaram e certamente
         Força Aérea têm pontos de contacto que sur-  moto que não dá grandes velocidades, como  nos proporcionarão sensações que constróem
         gem espontaneamente. Na FAP ainda se no-  a Harley-Davidson, mas em que se aprecia o  a nossa reserva de memórias, as menos boas
         tam vestígios da terminologia naval.  andar de mota.                  que se venceram e as que guardaremos para
           E esse emblema no seu fato de voo?  RA – Que velocidade dá?         sempre. Fazemos votos das maiores felicida-
           TEN PM – Ah!? É o emblema que eu e o   TEN PM – 140 Km/hora. Acontece que os  des não só na Carreira Militar Naval por que
         TEN Mendes Coimbra adoptámos para o nos-  meus Pais sempre tiveram moto, sempre se  optou mas ainda e muito especialmente nesta
         so Curso. É um tubarão com um ar feroz, um  deslocaram de moto, desde que nasci que  sua restaurada vertente Aeronaval.
         rotor no dorso e um torpedo debaixo duma  ando de moto, o meu irmão tem uma moto.                     Z
         barbatana.                         Assim que atingi a idade necessária tirei a car-  Dr. Rui Manuel Ramalho Ortigão Neves
           RA – Nada a ver com os «tubarões» que  ta, primeiro de motociclo e depois de moto e               1TEN
                                                                                      REVISTA DA ARMADA U JANEIRO 2007  17
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