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A Relevância do Património Documental
           A Relevância do Património Documental
         O                                  quivo dos documentos, que serão mantidos em  documentais de grande valor, sendo de salientar
               ser humano, assim como as institui-
                                                                               que parte dessa documentação tem sido expos-
               ções, necessitam de uma identificação  Arquivo Corrente até cessar a sua utilidade admi-
               só possível conhecendo as suas raízes,  nistrativa. Em seguida deverão ser transferidos e  ta, com muito sucesso, em diversas exposições,
         ou seja, a sua História, que deve procurar re-  entregues no Arquivo Central da Biblioteca Cen-  nomeadamente as que se têm realizado quando
         latar a ocorrência tal e qual como aconteceu,  tral da Marinha, a quem compete receber, guar-  das celebrações do Dia da Marinha.
         isto é, descrever a realidade passada. A meto-  dar, conservar, catalogar, recuperar informação e   Há que mencionar igualmente o facto da Sala
         dologia para alcançar este objectivo é diversa,  avaliar e seleccionar os arquivos ou documentos  de Leitura do Arquivo Histórico receber diaria-
         devendo seguir a Teoria da Incerteza, o que  que lhe sejam remetidos por comandos, forças e  mente historiadores e investigadores de diversas
         significa que a História não se pode basear                             nacionalidades (cerca de um milhar por ano)
         simplesmente em factos dogmáticos, mas                                 e que continuamente estão a ser solicitadas
         todos têm que ser questionados e só aceites                            informações através de diversos meios, no-
         como próximos da verdade quando existirem                              meadamente os relacionados com as novas
         fontes que os confirmem.                                                tecnologias de comunicação.
           Assim, é primordial para a feitura da His-                             Constata-se, no entanto, que presentemente
         tória, a consideração das fontes, que são                              um vasto espólio documental, cujo o interesse
         compostas por testemunhos presenciais,                                 administrativo há muito terminou e parte do
         materiais ou documentais. O conjunto des-                              qual é de relevante valor histórico, ainda não
         tes testemunhos constitui o denominado Pa-                             deu entrada no Arquivo Central. Este patrimó-
         trimónio Cultural que, recebido dos que nos                            nio, além de na generalidade se encontrar em
         antecederam, temos o dever de o transmitir,                            deficientes condições de preservação, está in-
         se possível, ampliado e consolidado aos que                            terdito ao estudo e à divulgação. Saliente-se
         nos sucederão.                     Um dos depósitos do Arquivo Central da Marinha.  que, na prática, um documento inacessível é
           Reportando o caso da Marinha como Insti-  outros órgãos da Marinha…, propondo a trans-  como se não existisse.
         tuição, é obvio que também tem de ter a sua  ferência para o Arquivo Histórico dos documen-  Deste modo, considera-se importante a trans-
         História que será construída com base no seu  tos relativamente aos quais tal se justifique. Por  ferência para o Arquivo Central de toda a docu-
         Património Cultural, devidamente preservado,  sua vez, ao Arquivo Histórico compete… guar-  mentação existente nos Comandos, Estabeleci-
         estudado e divulgado. É certo que neste âmbito  dar, conservar, catalogar, recuperar informação  mentos, Órgãos e Serviços da Marinha que já
         a principal responsabilidade cabe aos Órgãos  e apoiar a investigação dos documentos, cartas  não tenham qualquer utilidade para a adminis-
         Culturais da Marinha, no entanto, no que respei-  e iconografias nele existentes… , assegurando  tração corrente. Só assim se poderá consolidar
         ta aos testemunhos documentais a sua preserva-  deste modo que toda a documentação de va-  o Património Documental da Marinha e conti-
         ção tem de ser uma preocupação geral.  lor histórico ou probatório seja preservada, em  nuar a construir a sua História.
           A acção de preservar começa nos Comandos,  condições ambientais adequadas e possa ser               Z
         Estabelecimentos, Órgãos e Serviços, através de  consultada publicamente. É por isso que actual-  J. L. Leiria Pinto
         uma correcta classificação, conservação e ar-  mente o nosso Arquivo Histórico possui fundos        CALM



         Estudos sobre Arbitragem Comercial e Direito Marítimo
         Estudos sobre Arbitragem Comercial e Direito Marítimo

             oi recentemente publicado, em Dezembro de                     limi tação legal da responsabilidade do transportador
             2006, pela Almedina, um livro do Dr. Mário Ra-                de mercadorias, arresto de navios e, ainda, a sua pró-
         Fposo na linha de publicações anteriores a que                    pria perspectiva sobre as funções e responsabilidade
         o ilustre jurista nos habituou sobre direito comercial            das sociedades classificadoras, a qual se encontra
         marítimo, e no qual se incluem, entre outros temas,               complementada com uma breve e interessante nota
         textos seus sobre transporte de mercadorias e os tra-             de direito comparado.
         balhos preparatórios da lei marítima de Macau, com                 Na sequência de livros anteriores em que o Dr. Má-
         comentários técnicos sobre alguns antecedentes, e                 rio Raposo se debruça sobre o mesmo contexto de ma-
         enquadramento em que os mesmos ocorreram, de-                     térias, esta nova publicação assume-se, desta forma,
         signadamente o conjunto de diplomas publicados                    como mais um valioso elemento de estudo doutrinário
         em 1986/87, quando o Dr. Mário Raposo era, aliás, o               sobre uma disciplina em que, como é sabido, não são
         titular governamental da pasta da Justiça.                        frequentes as obras de especialidade levadas ao pre-
           Sobretudo quanto ao contrato de transporte maríti-              lo, sendo, notoriamente, muito poucos, os docentes
         mo de mercadorias, o fretamento e, também, a Lei dos              que em sede universitária tratam, com a profundidade
         Tribunais Marítimos de 1986 – cuja publicação vinha               exigida, tais matérias, pelo que se saúda, com satisfa-
         sendo reclamada até por imperativo constitucio nal -, é           ção, mais este conjunto de estudos que o conhecido
         de elementar justiça reconhecer ao Dr. Mário Raposo o grande impulso  jurista marítimo-comercialista oferece à comunidade científica e técnica
         que o quadro legal comercial marítimo conheceu, em Portugal, sob a sua  que com tais problemas lida no seu quotidiano.
         orientação, tendo-lhe conferido uma base de tratamento doutrinário e re-  Foi, precisamente, graças à estirpe e superior qualidade de juristas como
         gimental que, nas décadas anteriores, apenas tinha visto paralelo no início  o Dr. Mário Raposo, que, durante décadas, a Comissão de Direito Maríti-
         dos anos setenta com a acção que levaria à publicação de vários diplomas  mo Internacional adquiriu o prestígio que lhe foi, e é, unanimemente re-
         sobre recepção de (várias) convenções internacionais, ilícitos de poluição  conhecido, constituindo uma obrigação institucional, e pública, do Estado
         marítima e, fundamentalmente, do Regulamento Geral das Capitanias.  Português, o seu ressurgimento, ainda que com a adaptação exigível.
           Pela importância das matérias tratadas no livro ora publicado, subli-                               Z
         nham-se, de entre outras, os comentários do autor – e respectivo tra-                   Luís da Costa Diogo
         tamento doutrinário – sobre arbitragem e imparcialidade dos árbitros,                  Assessor do VALM DGAM
                                                                                     REVISTA DA ARMADA U FEVEREIRO 2007  23
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