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A última missão do Bergantim Real
A última missão do Bergantim Real
1. ENTRADAS RÉGIAS
O EVENTO E O SEU SIGNIFICADO em 1957, é o que actualmente se encontra toldo, cortinas e almofadas de brocado car-
exposto na Sala das Galeotas do Museu de mesim, com ramos e franjas de ouro e pra-
á cinquenta anos, em Fevereiro de Marinha onde deu entrada imediatamente ta e trinta remeiros vestidos de damasco
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1957, a Rainha Isabel II de Ingla- a seguir aos factos aqui descritos. carmesim guarnecidos de passamanes de
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Hterra visitou oficialmente o nosso ouro e prata” .
País. Viajou até Lisboa no BRITANNIA, ENTRADAS RÉGIAS EM LISBOA Anos depois, mais uma Rainha de-
que fundeou no dia 18 em frente ao Terrei- sembarcou em Lisboa: D. Sofia de Neu-
ro do Paço, e foi conduzida para terra no Há notícia de deslumbrantes Entradas burgo, noiva de D. Pedro II e futura mãe
Bergantim Real que, após curta travessia, Régias em Lisboa em séculos anteriores, de D. João V. Conhece-se o desenho do Ber-
atracou ao Cais das Colunas. verdadeiros festivais de arte efémera nas gantim em que veio para terra, de grande
Deste modo se encerrou um período quais o transporte fluvial rivalizava em aparato, como se conclui das muitas descri-
multissecular da vida do ções e gravuras que dele
Porto de Lisboa ; mas, na ficaram, uma das quais
altura, poucos tiveram Foto SCH T Sá aqui se reproduz .
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consciência disso, já que Já em pleno reinado
as atenções estavam cen- de D. João V, teve lugar
tradas na importância e um acontecimento que
significado da visita de ficou conhecido na his-
uma Rainha de Inglaterra tória como “A Troca das
ao nosso País, facto que Princesas”, e que deu
acontecia pela primeira ensejo a uma especta-
vez na história. Com efei- cular exibição de luxo e
to, o Bergantim não vol- riqueza. No que respei-
tará a navegar, nem po- ta à componente náuti-
derá ser substituído por ca deste evento é fácil
idêntica embarcação ori- imaginar a imponência,
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ginal em futuras visitas grandeza e número de
de Chefes de Estado ao embarcações utilizadas
nosso País, pelo que não para garantir o transpor-
voltará a ver-se a pom- te entre Lisboa e Aldeia
pa, brilho e circunstân- O Bergantim Real visto pela alheta de estibordo. Galega (e, posterior-
cia da “Entrada Real” de 1957, em tudo brilho e ostentação com o cortejo terres- mente, na viagem em sentido inverso) da
semelhante às que ocorreram em séculos tre que se lhe seguia, com ruas engalana- Corte de D. João V, que se dirigia ao Caia
anteriores e nas quais participaram embar- das por arcos de triunfo, panejamentos e para participar no acto solene da ”entre-
cações idênticas. todos os demais atavios inerentes à arte ga” da Princesa D. Maria Bárbara”, que ia
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Decorrido já meio século sobre o even- efémera . casar com o Infante de Espanha, e no “re-
to, é oportuno recordá-lo sob uma pers- Assim sucedeu com a chegada de Fili- cebimento” da Princesa D. Mariana Vitó-
pectiva diferente - a da sua “componente pe II de Espanha, que desembarcou em ria, futura esposa de D. José I .
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náutica”, pois em breve deixará de haver Lisboa em 1581 e Filipe III em 1619, e al- A divulgação destes factos não podia
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testemunhas presenciais do que se passou, gum tempo depois com outra , a entra- deixar de ser celebrada e divulgada, por
e que foi, afinal, a derradeira presença no da de D. Maria Isabel Francisca de Sabóia, óbvias razões de Estado e para maior
rio de Lisboa, de uma grande embarcação noiva de D. Afonso VI, a 2 de Agosto de prestígio da Monarquia. Entre outras
propulsionada a remos. 1666. Para o seu desembarque foi utilizado iniciativas visando esse objectivo foram
Como todos sabem, o Bergantim usado um “Bergantim entalhado e dourado, com elaborados diversos painéis de azulejos
Entrada Régia de Filipe III em Lisboa – 1619. O Bergantim de D. Sofia de Neuburgo.
18 FEVEREIRO 2007 U REVISTA DA ARMADA