Page 57 - Revista da Armada
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Silhares de azulejos do claustro do Convento da Ordem Terceira de S. Francisco – S. Salvador da Baía.
Bergantim Real entre o Montijo e Belém. Desembarque da Princesa D. Mariana Vitória.
ilustrando o que se passara, tendo alguns Marítimo de Cascais. A partir dessa data da Armada e o navio escola SAGRES - a
deles sido posteriormente enviados para permanecera longos anos em seco, num única unidade da Marinha que dispunha
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o Brasil . Estes painéis mostram o que se telheiro na Junqueira, até que, em 1934, de pessoal suficiente e preparado para
passou quanto à parte fluvial da viagem participou num cortejo náutico por oca- cumprir aquela missão.
de ida da corte desde Lisboa, Belém, para sião das Festas da Cidade. A isto se se- De entre numerosos voluntários, foi es-
o Montijo, de onde seguiu por via terres- guiu novo período de imobilização (cer- colhido um oficial, o mestre da SAGRES
tre para Vendas Novas, Elvas e finalmente ca de vinte anos consecutivos), em que (que manobrava o leme do Bergantim),
o Caia, e ao desembarque, em Lisboa, da esteve, também em seco, no Telheiro da alguns contramestres e cabos para desem-
futura esposa de D. José I. Azinheira, na margem sul do Tejo. penharem determinadas funções impor-
Pô-la a navegar de novo em condições tantes, e oitenta marinheiros e grumetes
1957 - PREPARAÇÃO DO BERGANTIM de segurança adequadas à missão que ía de manobra para remadores.
desempenhar implicava portanto particu-
Em 1957, respeitando a tradição que fi- lares cuidados, quer quanto à embarcação A MANOBRA DE REMOS
cou descrita, e à semelhança do que acon- propriamente dita, quer no que respeita à
tecera com outras visitas de Chefes de Es- preparação da respectiva guarnição. Em meados do Sec. XX a propulsão a re-
tado ao nosso País, foi decidido que o As reparações necessárias foram efectua- mos ainda era usada na Marinha, mas ape-
trajecto da Rainha de Inglaterra entre o das na doca seca da Parry & Son, em Caci- nas em algumas embarcações, baleei ras e
BRITANNIA e o Cais das Colunas seria lhas, onde técnicos altamente qualificados escaleres, e quási exclusivamente para fins
efectuado no Bergantim Real. e sabedores fizeram tudo o que era preciso de instrução: já há muito se perdera a prá-
A última vez que esta embarcação para garantir a sua boa navegabilidade. tica da manobra duma embarcação a re-
transportara um Chefe de Estado fora A escolha e preparação da guarnição fi- mos daquelas dimensões, bastante maior
em 1907, conduzindo para bordo do cou a cargo do Comandante Sena Denti- do que as maiores então em serviço nos
cruzador D. CARLOS I, o Rei e a Rai- nho, um experiente homem do mar que à navios da Marinha, que eram os escaleres
nha D. Amélia, por ocasião do Festival data comandava a Escola de Marinharia grandes da SAGRES.
A manobra de remos
Segundo o Livro do Grumete, utilizado xo recuado, tronco direito, ombros recua- Se a embarcação estivesse desatracada,
nas Escolas da Armada (editado em 1963, dos, calcanhares unidos, pés afastados 45 esta voz era substituída pela de : Prepa-
portanto, posterior em seis anos á data do graus e joelhos afastados também. ra remos!
desembarque de Isabel II), na manobra de As ordens do patrão, eram repetidas em Larga ! - A esta voz, o proeiro afastava
embarcações miúdas a remos deviam ob- voz alta pelo remador mais antigo, que era a embarcação do navio com a parte do
servar-se os seguintes princípios: o voga de BB. É esta repetição que servia croque oposta à ferragem e o voga, com
O patrão sentava-se a ré e os remado- de sinal de exe cução para os movimentos o croque de ré, mano brava como lhe fos-
res nas respectivas bancadas, voltados dos remadores. se ordenado pelo patrão; em seguida, es-
para o patrão. Havendo 6 bancadas, os Supondo que a embarcação se encontra- tes dois homens arrumavam os croques
remadores designavam-se, de ré para va atracada ao portaló do navio (ou a um a meio da embarcação (o voga dispunha
vante, por: vogas, sota- vogas, contra- cais), as defensas do lado do navio deviam o seu com a ferragem para ré e o proeiro
vogas, contra - proeiros, sota - proeiros estar de fora. O proeiro e o voga do lado para vante), sentavam-se nos respectivos
e proeiros. Havendo 5 bancadas, tería- - do navio seguravam a embarcação por lugares e colocavam os seus remos nas
mos, pela mesma ordem: vogas, sota - meio de croques. forquetas. Os remadores do lado do na-
vogas, meios, sota - proeiros, e proeiros. Para largar, o patrão dava as vozes se- vio metiam dentro as defensas.
Os marinheiros mais antigos eram os vo- guintes: Uma vez afastada a embarcação, o pa-
gas. Quando, na embarcação, um oficial Pronto a largar ! - Os remadores colo- trão dava as seguintes vozes:
tomava conta do leme, o patrão ocupava cavam as forquetas nos seus lugares, in- Arma remos ! - Os remadores agarra-
o lugar de voga. troduziam nelas os remos com as pás na vam com uma das mãos os punhos dos
Os remadores sentavam-se nos seus lu- água e deixavam-nos prolongados com remos (os de BB com a mão direita e os de
gares com a máxima compostura, olhando o costado, na direcção da popa, seguran- EB com a esquerda) e puxavam-nos ener-
em frente com a cabeça levantada, quei- do o punho do remo com a mão de fora. gicamente para si, de modo que ficassem
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