Page 58 - Revista da Armada
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perpendiculares ao costado, com as pás Proa ! - Os proeiros largavam os remos, por um intervalo de quatro ou mais se-
horizontais e os forros nas forquetas. Co- pegando no croque o do lado do navio gundos em posição de Leva-remos ;
locavam a mão livre sobre o remo, a um (ou cais) onde se ia atracar. Era costume Três em voga - Os remadores davam
palmo de distância da outra, ambas com o voga, em lugar de repetir esta voz do uma série de três remadas em voga ordi-
as costas para cima, ficando a do punho patrão, dizer: Proa larga! nária, param durante quatro segundos,
com o polegar para baixo. Os cotovelos Larga remos ! - Os remadores largavam dão depois uma remada, tornam a dar
deviam ficar unidos ao corpo e os braços os remos, que se prolongavam com o cos- igual intervalo para em seguida faze rem
em ângulo recto. tado da embarcação, colocando os do lado outras três remadas, e assim por diante.
Rema ! - A esta voz, os remadores rema- do navio (ou cais) as defensas de fora. O Estavam ainda prevista, entre outras ,
vam, guiando a sua cadência pelo voga. proeiro e o voga seguravam a embarcação as seguintes vozes :
Prolonga remos ! - Os remadores pro- ao navio (ou cais) por meio dos respecti- Força de remos ! - Os remadores rema-
longavam os remos com o costado da vos croques. vam forte, sem alterar a cadência.
embarcação, segurando os respecti- Pica a voga !- Os remadores remavam
vos punhos com a mão de fora. Esta forte, apressando a cadência.
voz era dada pelo patrão para evitar Manso !- Os remadores davam re-
que os remos batessem em qual quer madas fracas.
obstáculo que aparecesse. Como era Rema !- Esta voz significava que de-
uma voz de urgência, os remadores via passar-se à voga ordinária.
obedeciam imediatamente à voz do Paira !-As pás assentavam horizon-
patrão, não esperando que o voga a talmente na água para que a embarca-
repetisse. ção parada desse menos balanço.
Leva remos! - Os remadores colo- Prolonga remos ! - Os remos eram ti-
cavam os remos e as pás horizontais, rados das forquetas, pro longados com
perpendicularmente ao costado da o costado da embarcação e os punhos
embarcação. seguros, do lado de fora do costado, por
Paira! - Remos de prancha na água, uma das mãos dos remadores.
a fim de aguentar a embarca ção com Remos na água ! - As pás eram me-
menos balanço. tidas verticalmente na água e assim
Cia ! - Remar ao contrário, mas em mantidas, para tirarem o seguimento
cadência, para a embarcação andar Disposição dos remadores. à embarcação.
a ré. Acunha remos ! - Os remos eram ti-
Rema a BB ! (ou EB) - Os remadores de Remos na água ! – Os remadores me- rados das forquetas e dos fiéis, para os
BB (ou EB) remam e os de EB (ou BB) le- tiam os remos de cutelo na água, aguen- remadores se servirem deles como varas
vam os remos. tando- os com força, para fazer estacar a quando, por exemplo, a embarcação en-
Cia a BB ! (ou EB) - Os remadores de embarcação. Como era uma voz de ur- calhava.
BB (ou EB) ciam e os de EB (ou BB) levam gência, os remadores obedeciam imedia- Arvora remos ! - Esta voz era usada nas
os remos. tamente à voz do patrão sem esperar que embarcações de tole teiras para continên-
Acunha remos ! - Os remadores ti- o voga a repetisse. cia à bandeira, chefes de estado, ministros
,
ram os remos das forquetas e dos fiéis e As vogas, ou remadas, podiam ser exe- e oficiais generais, ou em regatas, quan-
serviam- se deles como varas para safar cutadas em diversas cadências : do a embarcação passa a meta. Os rema-
a embarcação, ou para a manter aproa- Voga ordinária - Remadas seguidas, em dores davam aos punhos dos remos um
da ao mar quando ela estivesse abicada cadência natural; forte impulso para baixo, por forma que
numa praia. Voga picada - Remadas em cadência fiquem verticais, com os punhos assen tes
Para atracar a um navio (ou cais) o pa- apressada; no fundo da embarcação e as pás orienta-
trão dava as vozes seguintes: Voga demorada - Remadas separadas das de popa à proa.
O Bergantim, com quarenta remos e oi- barcação, e executar tantos treinos quantos D. João VI, com a Infanta D. Carlota Joaquina e encar-
tenta remadores, pouco tinha de compará- os necessários para cada um saber desem- regou-se do seu risco e construção o famoso construtor
naval Torquato José Clavina, que o concluiu em 1780
vel com as embarcações com que o pesso- penhar rigorosamente as suas funções. Dis-
na Ribeira das Naus.
al da Armada estava familiarizado, não só so se falará no próximo número da Revista 3 Sobre o assunto, ver : Arte Efémera. Em Portugal,
pelas dimensões mas, principalmente, pelas da Armada. edição do Museu Calouste Gulbenkian, Lisboa 2001;
formas: era muito mais comprido, esguio, (Continua) Alves, Ana Maria - Entradas Régias Portuguesas, Ed.
de linhas finas, e atingia uma grande velo- Z Livros Horizonte, Lisboa
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Bem mais modesta. Ver Cutileiro, As Galeotas
cidade em voga picada, que no entanto só Comandante G. Conceição Silva Reais, p.121
podia manter durante um curto espaço de 5 Cutileiro, As Galeotas Reais, p.119
tempo, dado o grande esforço físico que exi- Notas 6 É curioso notar o título desta gravura:”BERGANTIM
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Existem réplicas de grandes embarcações a re-
gia aos remadores. O seu comportamento mos, nomeadamente de uma trirreme grega, cons- REAL sive MYOPARO REGIUS, …(etc). O vocábulo
MYOPARO (myoparo, onis) significa “navio estreito e
a navegar assemelhava-se ao das antigas truída para efeitos de estudo dessa forma de pro- comprido de que se serviam os piratas”- o que sugere
galés, embora estas o excedessem em ta- pulsão na Antiguidade. Desconhece-se se existem as qualidades de manobra e sobretudo de velocidade
manho. Tal como elas, o seu raio de giração também reproduções de bergantins, aptos a navegar, a que adiante se faz mais detalhada referência.
mas parece improvável que assim aconteça. O site
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A “Troca das Princesas” teve lugar em 19 de Ja-
era muito grande, e, dada a dificuldade em “Preserved Royal and State Barges” apresenta uma neiro de 1729.
ciar, as guinadas tinham que ser feitas ape- lista das embarcações antigas existente em museus, 8 Os paineis de azulejos estão no Claustro do Con-
nas por acção do leme. da qual resulta que a colecção portuguesa (Sala das vento da Ordem Terceira de S. Salvador da Baía.No
Não obstante estas dificuldades, os prin- Galeotas, Museu da Marinha) é, de longe, a maior e Brasil havia igualmente Bergantins (ver Fig. 6) , se
cípios técnicos básicos da propulsão a remo melhor do mundo , dado o numero e qualidade dos bem que mais modestos que os de Lisboa. Em 1962
exemplares de que dispõe.
encontrava-se um na Ilha das Cobras (Arsenal da Ma-
eram os mesmos, pelo que haveria apenas 2 Foi mandado construir pela Rainha D. Maria I rinha do Rio de Janeiro), fazendo a Internet referên-
que adaptá-los às características desta em- para o casamento do Príncipe D. João, futuro Rei cia a outros que naquele país estão conservados.
20 FEVEREIRO 2007 U REVISTA DA ARMADA