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ÚLTIMA AQUISIÇÃO DO MUSEU DE MARINHA
Uma Bela Agulha de Marear
Uma Bela Agulha de Marear
XVIII fora, tanto mais que entraram na
prática da navegação dois instrumentos,
que se devem ao génio inglês -- aqueles de
dupla reflexão, dos quais o mais conheci-
do é o sextante, e o cronómetro – os quais,
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no nosso país nunca se fabricaram .
E, no prolongamento do nosso raciocí-
nio, concluímos que, pelas razões apon-
tadas, D. Rodrigo de Sousa Coutinho,
sendo Ministro da Marinha, desde 1795,
tinha criado a Sociedade Real Marítima,
a qual, entre outros propósitos, se desti-
nava a incentivar a produção de cartas
náuticas (uma actividade em que tínha-
mos sido mestres incontestáveis) e instru-
mentos de navegação. Assim, tendo em
vista estes objectivos, D. Rodrigo tomou
as seguintes decisões:
a) Enviar, no ano de 1798, dois apren-
dizes, para Londres, para aprenderem a
arte na firma Jesse Ramsden que era, na
época, uma das mais importantes na ma-
nufactura dos chamados instrumentos
de matemática. Seus nomes eram Gaspar
José Marques e José Maria Pedroso . 3
b) Contratar, em Londres, um especia-
lista no fabrico de instrumentos de mate-
mática, de origem alemã de nome Jacob
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Bernard Haas .
Estas medidas foram, sem dúvida, ex-
cepcionais, mas não tiveram resultados
práticos aceitáveis.
odos nós sabemos como foram im- de marear a todos os mais instrumentos Marques ainda teve oficina, em Lisboa,
portantes as navegações portugue- pertencentes à navegação. Mais tarde, a partir dos anos 20, mas pouco mais fez
Tsas, para a descoberta do Mundo. num outro alvará, este de 1706, o mes- do que reparar instrumentos.
De facto, a partir, e do século XV, os nos- mo D. Pedro, agora rei, concedia a José No que respeita a Jacob Bernard Haas,
sos pilotos e cartógrafos, melhoram os da Costa Miranda uma mercê pelo facto a Marinha atribui-lhe, em 1800, instala-
métodos de navegação, produziram car- deste haver en-
tas náuticas e fabricaram os instrumentos sinado a sua arte
náuticos, sem os quais não seria possível a dois indivídu-
chegar aos quatro cantos do Mundo. os e continuava,
Assim, durante três séculos, os instru- dizendo, que o
mentos de navegação foram fabricados referido José da
no nosso país e até, por vezes, adaptados Costa Miranda
para serem usados a bordo, como aconte- era o único sujei-
ceu com o astrolábio náutico, concebido a to que, no Reino,
partir do seu congénere planisférico, usa- sabia fazer car-
do pelos cosmógrafos da época. tas de marear e
Há cerca de 20 anos, escrevemos um mais instrumen-
texto , no qual pretendemos mostrar que, tos para a nave-
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ao entrar no século XVIII, a situação se ti- gação.
nha alterado significativamente. De fac- Deduzimos
to, por um alvará, ainda do século ante- que esta situa-
rior, datado de 1676, o futuro D. Pedro II, ção, tão degra-
concedia, a António Miranda, uma mercê dada no que
com a condição de este ensinar dois dis- respeita à ma-
cípulos, sendo um seu filho e outro sobri- nufactura de
nho de João Goês. E, isto acontecia pela instrumentos de
simples razão de António Miranda ser o navegação, se ti-
único mestre que existia no Reino, exami- vesse prolonga-
nado na arte de fazer astrolábios, agulhas do pelo século
24 SETEMBRO/OUTUBRO 2008 U REVISTA DA ARMADA