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40 Anos de História da Náutica
40 Anos de História da Náutica
oimbra, 23 de Outubro de 1968. Numa mente não tratavam dos aspectos técnicos da As Reuniões continuaram durante os dois
sala do Departamento de Matemáti- navegação, que por outro lado constituíam o decénios seguintes, pendular mas não tão
Cca da Universidade, sob a presidên- fulcro do trabalho que vinha a ser desenvolvi- periodicamente como se tinha previsto, so-
cia de Armando Cortesão e secretariado por do por aqueles dois ilustres investigadores na bretudo devido a dificuldades financeiras
Luís de Albuquerque, reúne-se um conjunto Secção de Coimbra do Centro de Estudos de das entidades que entretanto se propuse-
de especialistas num encontro científico que Cartografia Antiga da Junta de Investigações ram organizá-las. Mas têm tido periodicida-
os seus promotores intitularam “Reunião do Ultramar. A Cartografia e a Náutica, que de bienal desde 1998, e esperamos estarem
de História da Náutica”. Um conjunto no- Teixeira da Mota estudava também na Secção reunidas as condições para que possa conti-
tável de especialistas, de facto: quem pudes- de Lisboa, eram objecto de extensos e erudi- nuar a ser assim.
se olhar para a sala veria, entre outros, Guy tos estudos que revelavam a sua importância Em 2000-2004, por outro lado, sob a pre-
Beaujouan, Emmanuel Poule, Ursula Lamb, para a cabal compreensão da era das grandes sidência de Inácio Guerreiro, deram-se dois
Francis Maddison, Ernst Crone, Marcel Des- viagens de descobrimento e expansão euro- passos fundamentais para a consolidação da
tombes, Wilcomb Washburn, G. R. Tibbetts, peias. Faltava elevá-las à condição de tema Comissão Internacional de História da Náu-
David Waters, R. A. Skelton, Max Justo Gue- central da historiografia contemporânea: foi tica, que passou a ter sede física na Escola
des, Reyer Hooykaas, ou Rolando Laguarda isso que se começou a fazer em Coimbra. Naval, no Alfeite, e foi criado um Board of
Trías, além dos participan- Directors, como órgão con-
tes portugueses. Diria um sultivo do Presidente, que
observador desprevenido na sua reunião administra-
mais parecia uma espécie de tiva de 2006 reafirmou os
who’s who da matéria: quem propósitos da Comissão:
era alguém na História da organizar Reuniões cientí-
Náutica, no plnno interna- ficas dedicadas ao estudo
cional, estava em Coimbra dos seus temas centrais, ou
naquele momento. seja Náutica, Cartografia
O livro de Actas eviden- Náutica e Arqueologia Na-
cia o alto nível científico val, e mantê-las como até
dos trabalhos que se pro- agora, encontros pequenos
longaram durante três dias: com poucas dezenas de es-
relembre-se apenas a reve- pecialistas, com trabalhos
lação da existência da mais em sessões plenárias, onde
antiga carta portuguesa assi- a discussão de todas as co-
nada e datada (O. Vietor), a municações e a sua subse-
apresentação de uma outra quente publicação em Ac-
carta inédita de Diogo Ho- tas marca a diferença para
mem (Destombes), o texto os grandes congressos onde
de Hooykaas que estaria na centenas de participantes se
génese do que é porventura desdobram em sessões si-
o seu livro mais conhecido multâneas, e quase nunca
(“The impact of the voya- Professor Armando Cortesão. Professor Luís de Albuquerque. vêem publicadas as suas
ges of discovery on portuguese humanist li- O percurso destas Reuniões Internacionais comunicações. A identidade temática dos
terature”), ou a visão de síntese da roteirística não foi depois tão regular quanto se poderia assuntos que se tratam nas Reuniões de His-
portuguesa apresentada por Teixeira da Mota desejar: a continuidade deveu-se grandemen- tória da Náutica permite um tipo de trabalho
(“Evolução dos roteiros portugueses durante te à iniciativa de Max Justo Guedes, organi- diferente, e os resultados estão patentes nos
o século XVI”), entre tantos mais. zador em 1976 de uma segunda Reunião, onze volumes de Actas já publicados, com
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A ideia de promover este encontro dever- desta feita em Salvador, no Brasil, oito anos mais de 5000 páginas .
-se-á sobretudo a Luís de Albuquerque, con- depois, acrescentando “e da Hidrografia” à A Reunião de 2008 terá lugar em Coimbra,
forme revelou Armando Cortesão no discur- titulação, e de Derek Howse, que trataria de de 23 a 25 de Outubro: comemora 40 anos de
so de abertura: “Devo porém, dizer, em abono organizar a terceira em Greenwich, no ano de História da Náutica, no lugar onde o tema
da justiça, que embora a conveniência e pos- 1979. Aqui se estabeleceram as regras de or- começou a ganhar direito de cidadania no
sibilidade de a realizar tenha surgido durante ganização das Reuniões futuras, segundo os conspecto da historiografia internacional.
as muitas conversas que eu e o Prof. Luís de termos da proposta assinada por John Mun- E, como sempre acontece, definir-se-ão os
Albuquerque naturalmente temos sobre estes day, Howse e David Proctor, aprovada por caminhos do futuro, agora apenas para sa-
assuntos, a ideia original, mais do que a mim, unanimidade. Em cada Reunião seria eleito ber como conduzir melhor o barco. Porque
a ele pertence. Na verdade algo do que de um Comité de cinco pessoas que trataria de navegar já ele navega.
bom por ventura se tenha feito nesta Secção assegurar a subsequente (sendo escolhidos Z
em grande parte se deve à assombrosa activi- na ocasião Ursula Lamb, Wilcomb Washburn, Francisco Contente Domingues
dade intelectual deste homem excepcional”. Luís de Albuquerque, Helen Wallis e Derek Presidente da Comissão Internacional
Constatava-se que os Seminários Internacio- Howse), com uma periodicidade previsível de História da Náutica
nais de História Marítima, organizados havia de três anos, com Luís de Albuquerque a as- Nota
anos por Michel Mollat du Jourdin, pratica- segurar a presidência. 1 V. os índices em http://www.arsnautica.info.
26 SETEMBRO/OUTUBRO 2008 U REVISTA DA ARMADA