Page 336 - Revista da Armada
P. 336

A Viagem da “Sagres”
                             A Viagem da “Sagres”
                                                                                                     Parte I

             eve início, no passado dia 7 de Junho, a  oficial de quarto, adjunto à navegação, adjun-  E, finalmente, terra! Após a alvorada do dia
             Viagem de Instrução do Curso “Coman-  to à companhia, manobra, vigia e homem do  21 de Junho, os cadetes avistaram a paisagem
         Tdante Nunes Ribeiro” a bordo do NRP  leme. Todos os dias, pela alvorada, eram minis-  árida da ilha, o primeiro pedaço de terra a ser
         “Sagres”, um dos momentos mais esperados  tradas as aulas de educação física, e depois da  pisado depois de alguns dias a navegar, em que
         do ano para os cadetes do 2.º Ano da Escola  formatura, as aulas para alguns e a participação  o empenho, esforço e dedicação ocuparam as
         Naval. Esta era a principal missão do navio à  nos serviços de bordo para outros. Durante estes  suas mentes, dia-a-dia a bordo do navio. Tive-
         largada de Lisboa. No entanto, para além das  primeiros dias, os cadetes e restante guarnição  ram a oportunidade de conhecer uma terra com
         já habituais visitas às comunidades portugue-  assistiram ainda a palestras onde foram aborda-  cores, cheiros e sabores característicos que os
         sas e do apoio à politica externa                                             deixaram com os sentidos inebria-
         nacional, a “Sagres” foi incumbida                                            dos e onde puderam desfrutar de
         de realizar um novo tipo de missão,                                           praias paradisíacas, água límpida, a
         a ““Operação Mar Aberto 2008”                                                 uma temperatura fantástica. À noite,
         (“OMA-08”), que visa a realização                                             foram os ritmos africanos que lhes
         de actividades que têm o objectivo                                            proporcionaram agradáveis momen-
         de realçar a cooperação técnico-                                              tos de lazer e descontracção.
         -militar (CTM) com os países afri-                                              Já de volta ao mar alto, e na con-
         canos de língua oficial portuguesa                                             tinuação do treino de mar e forma-
         e de estreitar relações com as res-                                           ção marinheira, os cadetes assistiram
         pectivas Marinhas.                                                            a exercícios de “Homem ao Mar”, e
           A “Sagres” chegou a Viana do                                                realizaram disparos de pirotécnicos
         Castelo no dia 8 de Junho, partici-                                           e tiro de armamento portátil. Foi tam-
         pando nas comemorações do Dia                                                 bém durante esta tirada que se deu
         de Portugal, Camões e das Comuni-                                             início ao campeonato de Fute-Con-
         dades Portuguesas. Além da cerimó-                                            vés, afamado desporto característico
         nia do dia 10 de Junho, onde o Curso                                          deste navio.
         “Comandante Nunes Ribeiro” perfi-                                                À medida que a viagem prosse-
         lou, guarnição e cadetes da “Sagres” aproveita-  dos temas como a segurança e as precauções  gue, dá-se conta de um céu diferente. Obser-
         ram a visita de três dias para conhecer melhor  a tomar relativamente aos riscos para a saúde  vam-se estrelas que iluminam os nossos antípo-
         a cidade e mostrar o navio a uma população  existentes ao longo da viagem.  das, e que por isso nos são estranhas, dizendo
         que tão bem o recebeu. Largou a 11 de Junho   Depois de passarem junto às ilhas Selvagens  adeus à nossa conhecida Estrela Polar e a rece-
         com um novo passageiro, um fotógrafo que  e às ilhas Canárias, com a aproximação do pri-  ber a orientação do Cruzeiro do Sul, elevando
         acompanhou o navio até Cascais, recolhendo  meiro porto desta viagem, Cidade da Praia, em  o moral para enfrentar uma tirada de 16 dias, a
         imagens que em muito enriqueceram o álbum  Cabo Verde, os cadetes efectuaram o briefing  maior da Viagem de Instrução dos cadetes. O
         do navio e no dia seguinte desembarcou, dan-  de porto ao comando contendo as informa-  convívio e as relações a bordo são excelentes.
         do lugar a dois repórteres que acompanharam  ções necessárias a uma boa estadia na ilha de  Cultiva-se o espírito do trabalho em equipa e da
         o navio, desta vez, até Sagres. A bordo seguiam  Santiago.            sã camaradagem, o que faz com que as fainas
         também 6 cadetes de academias estrangei-                                 e as restantes tarefas corram pelo melhor.
         ras (EUA, Inglaterra, Espanha, Turquia e dois                            E à medida que o tempo passa, os cadetes
         de Marrocos) que aceitaram o convite da                                  apercebem-se que estão num navio cheio
         Marinha Portuguesa para participar nesta                                 de tradições, facto que os alegra e motiva
         viagem. Durante esta tirada deu-se uma                                   a não permitirem que esses costumes des-
         das primeiras provas de fogo dos cadetes:                                vaneçam.
         A subida aos mastros. Subiram, alguns, até                                 O facto de se estar a navegar em latitudes
         ao ponto mais alto do navio, aproximada-                                 tão diferentes, faz com que o clima nos pa-
         mente 45 metros de altura. Prova que su-                                 reça estranho. A humidade é elevada, o ar
         peraram com distinção.                                                   é pesado, e durante os quartos sente-se vul-
           A manhã de 13 de Junho foi de eventos.                                 garmente o toque da natureza dos trópicos
         À passagem ao largo da ponta de Sagres, a                                sobre a forma de vento e chuva quente.
         guarnição prestou devida homenagem ao                                      Antes de aproar o navio ao próximo por-
         Infante D. Henrique e mais tarde, já afasta-                             to, rumou-se ao ponto do globo terrestre
         dos de terra, foi realizada uma sardinhada                               onde a latitude e longitude é zero. A hora
         alusiva aos Santos Populares, momento alto                               já era tardia, mas deu ainda para testemu-
         marcado pela alegria e humor das marchas                                 nhar a existência de uma bóia “perdida” a
         populares interpretadas.                                                 assinalar o local onde se cruzam, no Oce-
           Com a ponta de Sagres a milhas de dis-                                 ano Atlântico, o meridiano de Greenwich
         tância, mar e vento de feição, os cadetes,                               e a linha do Equador.
         já integrados no regime de quartos, fica-                                   Na manhã do dia 10 de Julho a “Sagres”
         ram distribuidos por quatro grupos: Um,                                  fundeou na Baía de Santo António, na Ilha
         de serviço à navegação durante 24 horas,                                 do Príncipe, marcando o final desta tirada
         desempenhava tarefas relativas à navega-                                 e assinalando, pela primeira vez, a passa-
         ção astronómica e briefings diários ao co-                                gem do navio pelo arquipélago de S. Tomé
         mando, entre outras actividades, enquanto                                e Príncipe (STP). Enquanto o Comandante
         os restantes três, em regime de quartos de 4                             e dois cadetes se deslocaram a terra para
         horas, exerciam as funções de adjunto ao                                 apresentar cumprimentos ao Presidente

         10  NOVEMBRO 2008 U REVISTA DA ARMADA
   331   332   333   334   335   336   337   338   339   340   341