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A Viagem da “Sagres”
A Viagem da “Sagres”
Parte I
eve início, no passado dia 7 de Junho, a oficial de quarto, adjunto à navegação, adjun- E, finalmente, terra! Após a alvorada do dia
Viagem de Instrução do Curso “Coman- to à companhia, manobra, vigia e homem do 21 de Junho, os cadetes avistaram a paisagem
Tdante Nunes Ribeiro” a bordo do NRP leme. Todos os dias, pela alvorada, eram minis- árida da ilha, o primeiro pedaço de terra a ser
“Sagres”, um dos momentos mais esperados tradas as aulas de educação física, e depois da pisado depois de alguns dias a navegar, em que
do ano para os cadetes do 2.º Ano da Escola formatura, as aulas para alguns e a participação o empenho, esforço e dedicação ocuparam as
Naval. Esta era a principal missão do navio à nos serviços de bordo para outros. Durante estes suas mentes, dia-a-dia a bordo do navio. Tive-
largada de Lisboa. No entanto, para além das primeiros dias, os cadetes e restante guarnição ram a oportunidade de conhecer uma terra com
já habituais visitas às comunidades portugue- assistiram ainda a palestras onde foram aborda- cores, cheiros e sabores característicos que os
sas e do apoio à politica externa deixaram com os sentidos inebria-
nacional, a “Sagres” foi incumbida dos e onde puderam desfrutar de
de realizar um novo tipo de missão, praias paradisíacas, água límpida, a
a ““Operação Mar Aberto 2008” uma temperatura fantástica. À noite,
(“OMA-08”), que visa a realização foram os ritmos africanos que lhes
de actividades que têm o objectivo proporcionaram agradáveis momen-
de realçar a cooperação técnico- tos de lazer e descontracção.
-militar (CTM) com os países afri- Já de volta ao mar alto, e na con-
canos de língua oficial portuguesa tinuação do treino de mar e forma-
e de estreitar relações com as res- ção marinheira, os cadetes assistiram
pectivas Marinhas. a exercícios de “Homem ao Mar”, e
A “Sagres” chegou a Viana do realizaram disparos de pirotécnicos
Castelo no dia 8 de Junho, partici- e tiro de armamento portátil. Foi tam-
pando nas comemorações do Dia bém durante esta tirada que se deu
de Portugal, Camões e das Comuni- início ao campeonato de Fute-Con-
dades Portuguesas. Além da cerimó- vés, afamado desporto característico
nia do dia 10 de Junho, onde o Curso deste navio.
“Comandante Nunes Ribeiro” perfi- À medida que a viagem prosse-
lou, guarnição e cadetes da “Sagres” aproveita- dos temas como a segurança e as precauções gue, dá-se conta de um céu diferente. Obser-
ram a visita de três dias para conhecer melhor a tomar relativamente aos riscos para a saúde vam-se estrelas que iluminam os nossos antípo-
a cidade e mostrar o navio a uma população existentes ao longo da viagem. das, e que por isso nos são estranhas, dizendo
que tão bem o recebeu. Largou a 11 de Junho Depois de passarem junto às ilhas Selvagens adeus à nossa conhecida Estrela Polar e a rece-
com um novo passageiro, um fotógrafo que e às ilhas Canárias, com a aproximação do pri- ber a orientação do Cruzeiro do Sul, elevando
acompanhou o navio até Cascais, recolhendo meiro porto desta viagem, Cidade da Praia, em o moral para enfrentar uma tirada de 16 dias, a
imagens que em muito enriqueceram o álbum Cabo Verde, os cadetes efectuaram o briefing maior da Viagem de Instrução dos cadetes. O
do navio e no dia seguinte desembarcou, dan- de porto ao comando contendo as informa- convívio e as relações a bordo são excelentes.
do lugar a dois repórteres que acompanharam ções necessárias a uma boa estadia na ilha de Cultiva-se o espírito do trabalho em equipa e da
o navio, desta vez, até Sagres. A bordo seguiam Santiago. sã camaradagem, o que faz com que as fainas
também 6 cadetes de academias estrangei- e as restantes tarefas corram pelo melhor.
ras (EUA, Inglaterra, Espanha, Turquia e dois E à medida que o tempo passa, os cadetes
de Marrocos) que aceitaram o convite da apercebem-se que estão num navio cheio
Marinha Portuguesa para participar nesta de tradições, facto que os alegra e motiva
viagem. Durante esta tirada deu-se uma a não permitirem que esses costumes des-
das primeiras provas de fogo dos cadetes: vaneçam.
A subida aos mastros. Subiram, alguns, até O facto de se estar a navegar em latitudes
ao ponto mais alto do navio, aproximada- tão diferentes, faz com que o clima nos pa-
mente 45 metros de altura. Prova que su- reça estranho. A humidade é elevada, o ar
peraram com distinção. é pesado, e durante os quartos sente-se vul-
A manhã de 13 de Junho foi de eventos. garmente o toque da natureza dos trópicos
À passagem ao largo da ponta de Sagres, a sobre a forma de vento e chuva quente.
guarnição prestou devida homenagem ao Antes de aproar o navio ao próximo por-
Infante D. Henrique e mais tarde, já afasta- to, rumou-se ao ponto do globo terrestre
dos de terra, foi realizada uma sardinhada onde a latitude e longitude é zero. A hora
alusiva aos Santos Populares, momento alto já era tardia, mas deu ainda para testemu-
marcado pela alegria e humor das marchas nhar a existência de uma bóia “perdida” a
populares interpretadas. assinalar o local onde se cruzam, no Oce-
Com a ponta de Sagres a milhas de dis- ano Atlântico, o meridiano de Greenwich
tância, mar e vento de feição, os cadetes, e a linha do Equador.
já integrados no regime de quartos, fica- Na manhã do dia 10 de Julho a “Sagres”
ram distribuidos por quatro grupos: Um, fundeou na Baía de Santo António, na Ilha
de serviço à navegação durante 24 horas, do Príncipe, marcando o final desta tirada
desempenhava tarefas relativas à navega- e assinalando, pela primeira vez, a passa-
ção astronómica e briefings diários ao co- gem do navio pelo arquipélago de S. Tomé
mando, entre outras actividades, enquanto e Príncipe (STP). Enquanto o Comandante
os restantes três, em regime de quartos de 4 e dois cadetes se deslocaram a terra para
horas, exerciam as funções de adjunto ao apresentar cumprimentos ao Presidente
10 NOVEMBRO 2008 U REVISTA DA ARMADA